Cap 13

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Mantive a cabeça baixa ao passar pela recepção e saí do hotel por uma porta lateral.

Fiquei vermelha de vergonha ao me lembrar do gerente que cumprimentou Sarah no elevador. Era capaz de imaginar o que ele pensava de mim. Ele devia saber para que servia aquele quarto. Eu não conseguia suportar a ideia de ser apenas mais uma de uma longa lista, mas foi exatamente isso o que me tornei quando pus os pés naquele hotel.Teria dado muito trabalho parar na recepção e pedir um quarto que seria só nosso?

Saí andando sem direção e sem destino definido. Já havia escurecido, e a cidade ganhava uma nova vida e se reenergizava depois de mais um dia de trabalho. Barraquinhas fumegantes de comida dominavam as calçadas, junto com vendedores ambulantes oferecendo quadros, camisetas ou até roteiros de filmes e episódios de seriados de TV. A cada passo que eu dava, a adrenalina da fuga baixava um pouco mais. A imaginação maliciosamente excitada pela visão de Sarah saindo do banheiro para encontrar o quarto vazio e a cama repleta de parafernálias sexuais foi perdendo o efeito. Comecei a me acalmar... e a refletir seriamente sobre o que tinha acontecido.

Teria sido uma coincidência Sarah me convidar para ir a uma academia tão convenientemente próxima de seu abatedouro sexual? Lembrei da conversa que tivemos no escritório na hora do almoço, e a dificuldade que ela sentiu para expressar seu desejo de ficar comigo. Ela estava tão confusa e dividida quanto eu, e nessa situação o mais natural seria mesmo recorrer aos hábitos rotineiros. Afinal de contas, eu mesma não tinha acabado de fazer isso, apesar de ter investido tantos anos em terapia para aprender a não me fechar e fugir quando estivesse magoada?

Angustiada, parei em uma cantina e me sentei a uma mesa. Pedi um cálice de syrah e uma pizza margherita, esperando que o vinho e a comida acalmassem minha ansiedade para que eu pudesse voltar a pensar direito.

Quando o garçom voltou com meu vinho, virei metade da taça de uma vez sem nem sentir o gosto. Já estava com saudade de Sarah, do bom humor que ela demonstrou antes de eu ir embora. Seu cheiro estava impregnado em mim, junto com o do sexo inacreditável que fizemos. Senti meus olhos arderem, e deixei algumas lágrimas caírem, apesar de estar em público, em um restaurante cheio de gente. A pizza chegou e eu provei um pedaço. Tinha gosto de papelão, e isso não tinha nada a ver com a qualidade dos ingredientes, do cozinheiro ou do lugar.

Puxei a cadeira em que havia deixado minha bolsa e peguei o celular novo, com a intenção de ligar para o dr. Travis e deixar um recado. Ele tinha proposto que continuássemos com as sessões à distância até que eu encontrasse um terapeuta em Nova York, e decidi aceitar a oferta. Foi quando vi as vinte e uma ligações perdidas de Sarah e uma mensagem de texto: "Estraguei tudo de novo. Não me abandone. Fale comigo. Por favor."

As lágrimas voltaram a rolar. Apertei o telefone contra o peito, sentindo-me perdida. Não conseguia afastar da cabeça a imagem de Sarah com outras mulheres. Não conseguia deixar de imaginá-la trepando feito louca com outra mulher naquela mesma cama, usando aqueles brinquedinhos nela, levando-a à loucura, extraindo prazer do corpo dela... Era um pensamento irracional e sem sentido, que fazia com que eu me sentisse mesquinha e patética, e se manifestava em uma dor física.

Levei um susto quando o telefone começou a vibrar, e quase o derrubei. Dominada pelo sofrimento, pensei em deixar tocar até cair na caixa postal, porque estava escrito na tela que era Sarah, a única pessoa que tinha aquele número, mas não fui capaz de ignorar, porque ela estava claramente histérica. Por mais que eu quisesse magoá-la antes, naquele momento essa ideia era insuportável.

— Alô. — Estranhei minha própria voz, abafada pelas lágrimas e pela tristeza que sentia.

— Juliette! Graças a Deus. — Sarah parecia ansiosíssima. — Onde você está?

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