Cap 01

825 39 0
                                    

POV Juliette

— A gente devia ir em um bar comemorar.

A declaração enfática de minha amiga Camilla de Lucas, com quem eu dividia um apartamento, não foi nada surpreendente. Ela estava sempre disposta a comemorar, mesmo as coisas mais insignificantes. Sempre considerei isso parte de seu charme.

— Sair pra beber um dia antes de começar num emprego novo com certeza não é uma boa ideia.

— Vamos lá, Juliette

Camilla sentou no chão da sala do nosso novo apartamento, em meio à bagunça da mudança, e abriu seu sorriso irresistível. Fazia dias que só cuidávamos da arrumação, e ainda assim ela estava linda. Com seu corpo esguio, cabelos escuros e olhos pretos, Camilla era o tipo de mulher cuja aparência, quaisquer que fossem as circunstâncias, raramente era algo menos do que incrível. Isso me deixaria com raiva, se ela não fosse a pessoa que eu mais adorava no mundo.

— Não estou dizendo pra gente encher a cara. — Ela insistiu. — Só uma ou duas tacinhas de vinho. A gente pega o happy hour e volta pra casa lá pelas oito.

— Não sei se vou ter tempo. — Apontei para minha calça de ioga e meu top de ginástica. — Depois que eu cronometrar a caminhada até o trabalho, vou pra academia.

— É só andar depressa e malhar mais depressa. — A expressão de Camilla com as sobrancelhas cuidadosamente curvadas em um arco perfeito, me fez rir.

Nunca perdi a esperança de que seu rosto incrível aparecesse um dia em outdoors e revistas de moda do mundo inteiro. Qualquer que fosse sua expressão, ela era um arraso.

— Que tal amanhã, depois do trabalho? — Ofereci em troca. — Se eu conseguir sobreviver ao primeiro dia, aí sim vamos ter o que comemorar.

— Combinado. Hoje vou estrear a cozinha nova fazendo o jantar.

— Hã... — Cozinhar era um dos prazeres de Camilla mas não um de seus talentos. — Legal.

Afastando uma mecha de cabelo que caíra sobre seu rosto, ela me olhou com um sorriso. — A gente tem uma cozinha de fazer inveja à maioria dos restaurantes. Não tem erro ali.

Não muito convencida, eu me despedi com um aceno, decidida a me esquivar da conversa sobre a cozinha. Desci para o térreo de elevador e sorri para o porteiro quando ele abriu a porta pra mim.

Assim que pus o pé para fora, fui envolvida pelos aromas e ruídos de Manhattan, que me convidavam a sair e explorar. Eu não estava apenas do outro lado do país em relação à minha antiga casa em San Diego, parecia estar em outro mundo.

Duas metrópoles importantes, uma infinitamente amena e sensualmente preguiçosa, a outra pulsando como um organismo vivo carregado de uma energia frenética. Nos meus sonhos, eu me imaginava em um pequeno e charmoso prédio no Brooklyn, mas, por ser uma boa menina, acabei no Upper West Side. Se não fosse a Camilla, eu estaria completamente sozinha em um apartamento enorme que custa por mês mais do que a maioria das pessoas ganha em um ano.

Paul, o outro porteiro, me cumprimentou tirando o quepe. — Boa noite, senhorita Freire. Vai precisar de um táxi esta noite?

— Não, obrigada, Paul. — Bati no chão com os amortecedores do meu tênis de ginástica. — Vou sair pra caminhar.

Ele sorriu. — Esfriou um pouquinho agora no fim da tarde. O tempo está gostoso.

— Me disseram pra aproveitar o mês de junho, antes que comece o calor de verdade.

— Um ótimo conselho, senhorita Freire.

Ao me afastar da fachada envidraçada e moderna que de alguma forma não destoava da idade do edifício e da vizinhança, desfrutei da relativa tranquilidade da rua arborizada antes de chegar à agitação e ao trânsito intenso da Broadway. Eu ainda tinha esperanças de me adaptar rapidamente, mas por enquanto me sentia uma falsa nova-iorquina.

Sou sua Onde histórias criam vida. Descubra agora