Cap 22

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Camilla se juntou a nós para jantar. Comida chinesa de ótima qualidade, uma boa taça de vinho e a programação de segunda à noite na TV. Enquanto trocávamos de canal e ríamos dos nomes hilariantes de certos reality shows, vi as duas mulheres importantíssimas na minha vida relaxando e se divertindo juntas. Elas se deram bem, ficavam se desafiando e se xingando daquela maneira brincalhona. Nunca tinha visto esse lado de Sarah antes, e adorei.

Enquanto eu ocupava uma lateral inteira do sofá modulado, as duas estavam sentadas no chão de pernas cruzadas, usando a mesinha de centro como mesa de jantar. Elas usavam calça larga de agasalho e camiseta justa, e eu só apreciava a vista. Eu era ou não era uma garota de sorte?

Estalando os dedos, Camilla fez um preâmbulo dramático antes de abrir seu biscoito da sorte. — Vamos ver. Vou ser rica? Famosa? Estou prestes a conhecer o homem ou a mulher dos meus sonhos? Vou visitar terras distantes? O que saiu no de vocês?

— O meu era uma porcaria. — Eu disse. — No fim tudo será revelado. Dã. Eu não precisava de previsão nenhuma pra descobrir isso.

Sarah abriu o dela e leu em voz alta — A prosperidade baterá à sua porta em breve. Dei risada.

Camilla olhou para mim. — Você roubou o biscoito de alguém, Andrade.

— É melhor manter Cams à distância do seu biscoito. — Eu disse, brincando.

Sarah se inclinou na minha direção e roubou metade do meu. — Não se preocupe, meu anjo. Seu biscoito é o único que me interessa. — Ela o jogou na boca e piscou para mim.

— Ei. — Protestou Camilla. — Já para o quarto, vocês duas. — Ela quebrou seu biscoito da sorte com um gesto floreado, e logo depois ficou furiosa — Que porra é essa?

Eu me inclinei para a frente — O que está escrito aí?

— Confúcio diz. — Sarah impostou a voz — o homem de uma perna só tem sempre um pé no passado.

Camilla atirou metade de seu biscoito em Sarah, que o apanhou com habilidade e sorriu.

— Dê isso aqui. — Tomei o papelzinho da mão de Camilla e li. Imediatamente caí na risada.

— Vá se foder, Juliette.

— E então? — Sarah quis saber.

— Pegue outro biscoito.

Sarah abriu um sorriso. — Até os biscoitos estão zoando com a sua cara.

Camilla atirou a outra metade do biscoito.

Era uma noite como tantas outras que passei com Camilla na época da SDSU, o que

⚠⚠ !

despertou meu interesse sobre como Sarah devia ser na época da faculdade. Pelo que tinha lido na imprensa, sabia que ela tinha se formado na Columbia, mas saiu antes da pós-graduação para expandir os negócios.

Ela tinha amigos por lá? Fazia parte de alguma fraternidade, ia a festas, ficava bêbada, transava por aí? Ela era uma mulher tão controlada que eu não conseguia imaginá-la num momento de descontração, ainda que fosse exatamente isso o que estávamos fazendo ali.

Ela olhou para mim, ainda sorrindo, e meu coração disparou dentro do peito. Pela primeira vez eu a via como alguém de sua idade, jovem e simpática, apesar de séria, enfim, uma pessoa normal. Nesse momento, éramos só um casal de vinte e poucos anos se divertindo em casa com uma colega de apartamento e um controle remoto. Ela era simplesmente minha namorada, nada mais. Tudo parecia gostoso e descomplicado, o tipo de ilusão que tinha um enorme apelo para mim.

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