Cap 08

465 27 0
                                    

— Oi, pai. Encontrei você! — Ajustei melhor a posição do telefone e puxei um banquinho da cozinha. Eu estava com saudade. Durante os quatro anos anteriores, moramos perto o bastante para que eu o visse toda semana. Agora que eu tinha mudado, a casa dele em Oceanside ficava do outro lado do país. — Tudo bem?

Ele abaixou o volume da televisão. — Melhor agora que você ligou. Como foi a primeira semana de trabalho?

Fiz um relatório completo de segunda até sexta, deixando de fora apenas as partes referentes a Sarah. — Adorei meu chefe, Gilberto. — Conclui. — E o ambiente da agência é bem animado, até meio maluco. Adoro levantar para ir trabalhar, fico até triste quando chega a hora de ir embora.

— Tomara que continue assim. Mas você precisa saber a hora de relaxar também. Sair, fazer coisas de jovem, se divertir. Só não precisa se divertir demais.

— Pois é, eu exagerei um pouco ontem à noite. Fui pra balada com Cams e acordei com uma tremenda ressaca.

— Porra, nem me fale uma coisa dessas. — Ele resmungou. — Umas noites atrás acordei suando frio, imaginando você em Nova York. Consegui me acalmar dizendo pra mim mesmo que você é inteligente demais pra fazer bobagem, que tem dois pais com as regras básicas de segurança inscritas no DNA.

— Isso é verdade. — Concordei, dando risada. — Por falar nisso... vou começar a treinar krav maga.

— Sério mesmo? — Ele parou um pouco para pensar. — Lá na corporação tem um cara que é craque nisso. Acho que vou experimentar também, assim podemos comparar nosso progresso quando eu for visitar você.

— Você vai vir a Nova York? — Não consegui esconder a empolgação. — Ah, pai, eu adoraria se você viesse. Por mais que sinta falta do sul da Califórnia, Manhattan é o máximo. Acho que você vai adorar.

— Eu ia gostar de qualquer lugar do mundo em que você estivesse. — Meu pai esperou um pouco antes de perguntar— Como vai sua mãe?

— Bem... como sempre. Bonita, charmosa e obsessiva compulsiva.

Meu peito começou a doer, obrigando-me a massageá-lo. Parecia que meu pai ainda era apaixonado por ela. Ele nunca se casou. Essa foi uma das razões por que nunca contei a ele o que aconteceu comigo. Como policial, faria questão de abrir inquérito, e o escândalo teria destruído minha mãe.

Também imaginei que ele fosse perder o respeito por ela ou até mesmo culpá-la pelo

que aconteceu, apesar de não ter sido culpa dela. Assim que descobriu o que o enteado dela vinha fazendo comigo, ela deixou o marido, com quem vivia muito bem, e pediu o divórcio.

Continuei falando e acenei para Camilla quando ela entrou com uma sacola pequena da Tiffany.

— Passamos o dia no spa hoje. Foi uma boa forma de encerrar a semana.

Notei que sua voz se tornou um pouco mais leve quando ele disse. — Fico feliz que vocês estejam passando algum tempo juntas. Quais são seus planos para o restante do fim de semana?

Evitei tocar no assunto do evento de caridade, pois sabia que essa história de tapete vermelho e jantares a preços exorbitantes só ia enfatizar a diferença entre os estilos de vida dos meus pais. — Camilla e eu vamos sair pra jantar, e amanhã quero ficar em casa. Dormir até tarde, passar o dia de pijama, talvez ver um filme e pedir alguma coisa pra comer. Vegetar um pouco antes de mais uma semana de trabalho.

— Pra mim, parece o paraíso. Eu aviso quando for tirar folga de novo.

Dei uma olhada no relógio e vi que já passava das seis. — Preciso ir me arrumar agora. Tome cuidado no trabalho, hein? Eu também me preocupo com você.

Sou sua Onde histórias criam vida. Descubra agora