Cap 04

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— Sua mãe e Stanton não vão deixar você vir até aqui tantas noites por semana. — Comentou Camilla, encolhendo-se dentro de sua estilosa jaqueta de brim, apesar de o tempo não estar muito frio.

O antigo galpão que Bill Araújo usava como local de trabalho era uma construção com fachada de tijolos aparentes em uma antiga área industrial do Brooklyn que naquele momento lutava para se revitalizar.

O espaço era bem amplo, e as enormes portas de metal, antes usadas para embarque e desembarque de carga, tornavam impossível adivinhar o que estava acontecendo lá dentro.

Camilla e eu nos sentamos nas arquibancadas, observando meia dúzia de lutadores treinando no tatame ali abaixo.

— Ai. — Até eu me encolhi ao ver um deles levar um chute na região da virilha. Mesmo usando equipamento de proteção, aquilo parecia doloroso. — Como é que o Stanton vai descobrir, Camilla?

— Você vai acabar no hospital! — Ela olhou bem para mim. — Falando sério. Krav maga é muito violento. Eles estão só treinando, e é a maior pancadaria. Seu padrasto vai descobrir mesmo que você consiga esconder os hematomas. Ele sempre descobre.

— Por causa da minha mãe! Ela conta tudo pra ele. Mas eu não vou dizer nada pra ela sobre isto aqui.

— Por que não?

— Ela não entenderia. Ia achar que eu quero me proteger por causa do que aconteceu, e vai se sentir culpada, fazer um dramalhão. Ela não ia acreditar que só quero me exercitar pra aliviar o estresse.

Apoiei o queixo na palma da mão e vi Bill ir até o centro do tatame com uma mulher. Ele era um bom instrutor. Paciente e atencioso, explicava tudo de uma maneira fácil de entender.

Bill dava aula em uma região bem barra-pesada, mas onde tudo aquilo que era ensinado fazia sentido. Nada é capaz de reproduzir melhor a sensação de insegurança do que um enorme galpão vazio.

— Esse Bill é um gato. — Murmurou Camilla.

— E usa aliança.

— Percebi. Os bons partidos são sempre os primeiros a sair do mercado.

Bill veio falar conosco depois da aula, com seus olhos pretos brilhantes e seu sorriso ainda mais reluzente.

— O que você achou, Juliette? — Onde eu me matriculo?

Seu sorriso sexy fez Camilla apertar minha mão até quase interromper a circulação sanguínea.

— Logo ali.

[...]

A sexta-feira começou muito bem. Gil me explicou o processo de coleta de informações para preencher uma solicitação de proposta e me contou um pouco mais sobre as Indústrias Andrade e sobre Sarah Andrade, fazendo questão de assinalar que eles dois tinham a mesma idade.

— Tenho que ficar me lembrando disso o tempo todo. — Disse Gil. — É bem fácil esquecer que Sarah é assim jovem quando se está diante dela.

— Verdade. — Concordei, sem querer admitir que estava triste por saber que não veria Andrade por dois dias. Por mais que dissesse a mim mesma que isso não faria nenhuma diferença, eu estava desapontada. Só me dei conta de que estava animada com a possibilidade de nos encontrarmos quando ela deixou de existir.

Ficar perto de Sarah era excitante demais. Além disso, olhar para ela era uma experiência e tanto. Eu não tinha nada nem ao menos parecido para fazer no fim de semana.

Estava tomando algumas notas no escritório de Gill quando ouvi o telefone tocar. Pedi licença e fui correndo atender.

— Escritório de Gilberto Nogueira.

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