Cap 05

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Horrorizada com a súbita intromissão na nossa privacidade, eu me sentei apressadamente no braço do sofá, ajeitando minha saia enquanto isso.

— ... da reunião das duas horas está aqui.

Precisei de alguns segundos intermináveis de pânico para perceber que Andrade e eu ainda estávamos sozinhos na sala, que a voz que eu tinha ouvido vinha de um alto- falante. Andrade se sentou na outra ponta do sofá, parecendo irritada, com a respiração ofegante. A braguilha da calça ostentava o volume de uma ereção impressionante. Apavorada, imaginei com que aparência eu deveria estar. E já tinha passado da hora de voltar ao trabalho.

— Meu Deus. — Andrade passou as mãos pelo cabelo. — Estamos no meio do expediente. E na porra do meu escritório!

Eu me levantei e tentei me recompor.

— Espere. — Ela veio até mim e levantou minha saia de novo.

Furiosa com o que quase havia acontecido quando eu deveria estar trabalhando, dei um tapa nas mãos dela. — Pare com isso. Me deixe.

— Fique quieta, Juliette. — Ela disse com um sorriso, pegando nas mãos a barra da minha blusa de seda preta e a recolocando no lugar, de modo que ficasse ajustada e que os botões formassem de novo um arco perfeito em torno dos seios. Depois ela abaixou minha saia de volta, alisando-a com suas mãos seguras e competentes. — Prenda direito o cabelo.

Andrade vestiu o paletó, acomodando-se dentro dele antes de ajustar os cabelos. Chegamos à porta no mesmo instante e, quando me abaixei para apanhar minha bolsa, ela me acompanhou no mesmo movimento.

Então pegou meu queixo e fez com que eu olhasse para ela. — Ei. — Ela disse com uma voz suave. — Está tudo bem?

Minha garganta queimava. Eu estava excitada, irritada e morrendo de vergonha. Nunca tinha perdido a cabeça dessa forma antes. E detestava o fato de isso ter acontecido com ela, uma mulher cuja noção de intimidade sexual era tão asséptica que me deixava deprimida só de pensar.

Livrei meu queixo do seu toque. — Eu pareço estar bem?

— Você está linda e louca para trepar. Me deixou com tanto tesão que até dói. Estou a ponto de voltar para aquele sofá e fazer você gozar até não aguentar mais.

— Não dá pra acusar você de não ser direta. — Resmunguei, deixando claro que não estava ofendida. Na verdade, a brutalidade do desejo dela era um potente afrodisíaco.

Apanhando a alça da bolsa, eu me pus de pé sobre as pernas bambas. Precisava me afastar dela. E, quando o dia de trabalho terminasse, precisava de um tempo sozinha com uma boa taça de vinho.

Andrade também se levantou. — Vou apressar tudo aqui pra terminar até as cinco. Aí desço pra pegar você.

— Não, senhora. Isso que aconteceu agora não muda nada. — É claro que muda.

— Não seja arrogante, Andrade. Posso ter perdido a cabeça por um momento, mas isso não significa que eu queira o mesmo que você.

Seus dedos agarraram a maçaneta da porta. — Você quer, sim. Só não quer que seja da maneira como estou oferecendo. Só precisamos alinhar alguns pontos.

Outra vez a linguagem de negócios. Fria e impessoal. Comecei a me irritar de novo. Pus minha mão sobre a dela e abri a porta, passando por baixo de seu braço para empurrá-la. Seu secretário se levantou rapidamente, assim como a mulher e os dois homens que esperavam por Andrade. Ouvi quando ela disse:

— João vai conduzi-los até minha sala. Volto em um instante.

Ela me alcançou na recepção, passando o braço pelas minhas costas e me agarrando pelo quadril. Eu não queria causar nenhum constrangimento, então esperei até chegar ao elevador para afastá-la.

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