Capítulo 20

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— Meu menino — Me levantei da cama do Tommy quando meus pais entraram no quarto e me aproximei do pessoal que estava de pé próximos a parede.

Vi quando minha mãe distribuiu beijos pelo rosto de meu irmão enquanto ele afirmava estar bem.

— Bem? — Pelo tom de meu pai todos já sabiam que teríamos um grande sermão — Quando é que você vai se tornar um homem de verdade?

— Querido — Minha mãe tentou intervir.

— Não, ele precisa ouvir que já basta dessa brincadeirinha de criança. Deixamos nossos negócios para trás porque recebemos um telefonema de hospital, imagine só nos dois dando explicações do porquê de termos demorado tanto para chegar.

— Não é uma brincadeirinha, pai.

Apertei os lábios lamentando Tommy ser corajoso o suficiente para responder.

— Não é uma brincadeirinha? Olha pra você — Ele olhou à sua volta — Pra todos vocês, machucados e humilhados, perderam uma briga de rua e acham que podem ganhar a vida fazendo isso.

— Senhor — Johnny ia dizer algo, mas coloquei minha mão sobre seu punho e neguei levemente. Meu pai iria surtar se alguém se envolvesse.

— Não se envolva no que não é da sua conta, Lawrence — Meu pai disse o seu sobrenome de mal grado.

Johnny é enteado de um homem rico, ele não carrega um bom sobrenome e nem uma grande fortuna, o que faz meu pai acreditar que ele é muito menos do que acredita ser.

— Não precisa tratar os meus amigos desse jeito — Tommy disse — É só um braço quebrado, vai estar curado até que vocês voltem da próxima viagem.

— Amigos? Você chama esses baderneiros que se vestem como membros de gangue e passam todo o tempo metidos em brigas ou usando drogas — Meu pai riu ríspido — Pior, deixa todos eles se aproximarem da sua irmã e pela sua situação agora imagino se poderia protegê-la caso um deles resolvesse se engraçar pra cima dela.

Soltei minha mão de Johnny quando senti os olhos de meu pai queimarem sobre ela, dei um passo para trás colocando minhas mãos juntas em frente ao meu corpo.

— Olha pra você — Sua voz se direcionou a mim — Com o vestido que a sua mãe tanto ama sujo de terra — Eu me sentei ao lado de Tommy quando o vi machucado — Com os cabelos bagunçados — A peruca foi tirada pouco depois de chegarmos ao hospital — E usando maquiagem. Se quer reconheço a minha filha.

— Eu sou o problema aqui, não precisa envolver meus amigos ou a Betty nisso — Tommy disse chamando a atenção de volta a si.

— Vejo que cheguei em um bom momento — John Kreese passou pela porta com uma postura impecável — Peço desculpas por não ter vindo antes.

Não tem restrições de quantas pessoas podem fazer visitas ao mesmo tempo nesse hospital.

— Chegou em um ótimo momento — Meu pai disse a ele — O momento em que eu anuncio a todos vocês que a partir de agora meu filho e a minha família não vão mais ter contato nenhum com aquela academia idiota.

Dojo — Bobby disse em um sussurro levando uma cotovelada de Jimmy.

— Vamos retirar inclusive o patrocínio, não vamos ajudar a bancar um lugar que transforma crianças em selvagens.

— O senhor não pode fazer isso — Tommy se alterou — Não pode me tirar a única coisa que eu tenho, o karatê é a minha vida.

— Você não sabe o que é a vida — O tom de meu pai continuou ríspido.

Kreese levantou levemente a mão para Tommy como quem diz para que ele se acalmar e se calar.

Em seguida, pediu para conversar sozinho com meu pai no corredor.

Quando a porta foi fechada, todo mundo voltou a respirar novamente.

— Elizabeth — Minha mãe chamou minha atenção com a voz calma — Você ficou linda nesse vestido, filha.

— Obrigada — Agradeci com um sorriso fraco.

— Mas está descabelada e descalça — Lamentou — Um acerto e um milhão de erros, não deve ser difícil pra quem vê vocês de fora saber que são irmãos.

— Um elogio e um milhão de sermões, não é difícil ver que são pais ausentes — Respondi com um falso sorriso.

— Chega disso — Tommy interviu sem paciência — Eu preciso me trocar, podem esperar no corredor?

Assenti sendo a primeira a sair, minha mãe saiu em seguida e os meninos a acompanharam.

— Você não, Johnny — Ouvi Tommy dizer antes que o loiro pudesse fechar a porta.

Trocamos um breve olhar antes que ele retornasse para o quarto.

Segredos - Johnny LawrenceOnde histórias criam vida. Descubra agora