PRÓLOGO

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Ninguém acreditaria se ela contasse, mas a pequena Siggy, filha de Bjorn Ironside, lembrava do dia em que nasceu

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Ninguém acreditaria se ela contasse, mas a pequena Siggy, filha de Bjorn Ironside, lembrava do dia em que nasceu. Ela lembrava de seu choro cortando o ar no momento em que veio ao mundo, lembrava dos braços de seu pai ao redor do seu pequeno e frágil corpinho, e lembrava de sua mãe incrédula que sua filha havia nascido forte e saudável e não fraca e deformada como ela achou que seria.

Seriam essas memórias uma maldição? Teriam os Deuses a condenado a lembrar de tudo isso? Da felicidade no rosto de seus pais e do amor e proteção que ela sentiu receber deles? Ou foi Loki lhe pregando uma peça?

Siggy não sabia ao certo, às vezes quando tudo ficava difícil demais, ela se agarrava a essas lembranças como se fossem um escudo. Mas por outro lado, relembrar tinha um preço alto. Porque ela lembrava de como foi ser amada por seus pais, de como foi se sentir protegida e cuidada, mas também lembrava e sentia em seus ossos como foi perder esse amor. Como foi ser rejeitada quando sua mãe a deixou e de como seu pai se tornou frio e distante logo depois. O sentimento ardia em seu peito como ferro em brasa e doía tanto quanto.

Então sim, poderia ser amaldiçoada.

Naquela manhã de começo de inverno, a garotinha estava na borda do rio observando os peixes na água. A umidade gélida grudava em sua pele coberta por uma túnica velha e esfarrapada que uma escrava lhe deu para usar já que não tinha muitas — ou nenhuma — roupa. Usava a túnica de algum homem adulto que parecia mais um vestido estranho.  Ela estava com frio e com fome, mas não tinha coragem de pedir por comida ou um cobertor. Aos seis anos, havia aprendido que era melhor não chamar atenção, ficar quieta e obedecer sempre. Mais especificamente, ser um fantasma. Ela já sabia que não era mais bem-vinda ali, então tentava não tomar muito espaço.

Estava no início da manhã, o rio que cortava o centro de Kattegat exalava uma fina névoa e uma luz cinzenta banhava todo o local. Siggy tinha acordado antes até que os escravos, os pesadelos não a deixaram dormir por mais de uma hora essa noite. Ela precisava de uma distração, precisava distrair sua mente e seu coração pesado. E o rio era perfeito para isso. As ondulações na água, as pedras brilhantes, os peixes coloridos e divertidos... Eram uma distração bem-vinda. Não havia ninguém por perto, Siggy já tinha se acostumado em ser ignorada ou esquecida, mas também não tinha ninguém para lhe dizer para não entrar no rio.

Siggy só foi se dar conta de que era uma má ideia brincar na água quando já não conseguia mais ver a superfície e seu corpo estava sendo arrastado pela correnteza.

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