_Take me back to the night we met_
•
•
•Simone
.
.
._Veja filha, essa era a sua mãe Soraya, você é linda como ela era_ comentei com minha pequena.
Estávamos na varanda da nossa casa, a casa que Soraya tanto sonhou em ter, com um pequeno jardim, cheio de flores, uma piscina, e um pequeno espaço com alguns brinquedos para a nossa filha, um parquezinho.
_Meus cabelos são como os dela, mamãe sisa_ ela falou empolgada.
_Sim meu amor, você é como ela sabia?_
Falei e sorri em seguida._Onde ela está mamãe?_ nos aconchegamos em um puff que tinha ali.
O sol já estava se pondo, o céu estava lindo, tanto que pedi para a minha menina correr e buscar a câmera que ganhei da Soraya, quando completamos dois anos de namoro, queria tirar uma foto de como ele estava hoje, para imprimir depois e colar na geladeira o retratinho tirado, já tinha várias, e bem lá no alto ficava uma minha e dela, eu fazia isso quando a Soraya estava bonita. Me lembro de quando minha Soraya falava, "o dia que você quiser lembrar de mim, dá uma olhada no retratinho que tiramos juntas... eu não quero que você me esqueça". Mesmo que não tivéssemos nenhuma foto juntas, eu iria sempre lembrar dela, não tinha, er... não tem como esquecer dela, jamais.
Amarílis voltou correndo, toda sorridente, ela adorava tirar fotos, eu que ensinei, e ela aprendeu bem rápido, para a sua idade, era sempre assim, quando estávamos com a câmera em mãos, ela tirava diversas fotos, como sua linda mãe soso. Foi ela que escolheu o nome da nossa filha, significava saudade e admiração pela pessoa que vai recebê-la, e esse foi o maior presente que eu pude ganhar da Soraya, nossa menina.
_Tila mamãe, quelo ver como vai ficar essa_ tão linda ela.
Apontei a câmera para o céu, e senti um aperto no peito, um aperto de saudade, impossível não sentir saudades da pessoa que eu tanto amei e ainda amo. Tirei e vi lis pular de alegria, querendo ver como ficou, seus olhinhos castanho claro brilharam, me abaixei, ficando de joelhos no chão e mostrei a ela.
_Ficou lindo mamãe, que lindinho. Você é uma ótima fotógafa_ eu achava tão fofo o seu jeitinho de falar as palavras, ela ainda tinha três aninhos, três anos de saudade do meu grande amor.
_Ficou amor_ ela pegou em minha mão e voltamos para o puff.
_Você não me falou ainda mamãe_ me sentei e ela veio para o meu colo.
_O quê minha princesa?_ agora ela brincava com a aliança que eu usava, o símbolo do amor que juramos naquela tarde de verão.
_Onde a mamãe yaya está?_ esperei o momento certo para falar dela com nossa filha.
Nunca havia mexido na caixinha das fotos que eu guardava dela, todas que eu tirei, desde as mais lindas, às mais engraçadas, de quando ela era apenas ela. Hoje resolvi pegar da última gaveta do meu guarda-roupa a minha pequena jóia rara, não mudei nada, continua do jeitinho que é, um marrom já desbotado, com alguns desenhos de borboletas feitos à mão, de tinta guache, e um lacinho.
Peguei uma foto das várias que tinha, e decidi que era hora da minha, nossa filha, conhecer e saber sobre ela. A foto escolhida era uma em que Soraya segurava o bob, usava uma blusa do Brasil, pois na época em que fora tirada, estávamos na nossa casa, assistindo ao jogo dele, e havia acabado de fazer um gol, pulamos eufóricas, e foi aí que ela pediu pra tirar, seu olhar ficou diretamente voltado para a câmera do meu celular, Soraya era uma mulher apaixonante.
_Olha o bob mamãe_ ela voltou a olhar a foto, o bob continuava conosco, agora já estava mais velhinho, vivia no seu cantinho dormindo.
_Respondendo sua pergunta... a mamãe precisou fazer uma eterna longa viagem_ eu disse, e logo um nó se formou em minha garganta, eu não podia chorar, não agora.
_E ela não volta mais?_ perguntou na mais pura inocência.
_Não meu amor, ela... er, ela não volta mais_ uma lágrima caiu, pingando no bracinho branco e de pêlos loiros da minha filha.
_Por quê você tá cholando mamãe?_ ela se virou pra mim.
_Um dia você irá entender melhor minha princesa_ fechei os olhos por um momento, tentando não deixar com que mais lágrimas caíssem.
_É uma tarefa difícil falar da sua mãe e não chorar... é como um corte profundo, que quando você toca, dói como se fosse a primeira vez em que se cortou, entende?_ ela franziu a testa, ainda era muito pequena para entender muitas coisas.
_Não entendi muito mamãe, mas pometo tentar entender aos pouquinhos, tá bom?_ sorri com sua inocência, e lhe abracei.
Fiz um carinho em sua costinha, beijei seu rostinho e levantei, com ela carregada, fomos para a sala e coloquei em um desenho para ela assistir, fui até o meu quarto e imprimir a foto, cortei deixando mais bonitinho, peguei uma cola e voltei até a cozinha, e logo colei.
Me perdi diante de todas aquelas imagens coladas ali. Hoje foi difícil ver o sol se pôr, se tornou difícil desde que ela partiu, a dor, ela dói, e não tem remédio que faça aliviar essa dor latente em meu coração.
Meu rosto estava banhado pelas lágrimas que derramava e nem sei que horas eu comecei a chorar, era um choro doído como da primeira vez que chorei após sua partida. Olhei na direção da Amarílis, sorri com a cena que vi, ela dançando e cantando a musiquinha do desenho que passava na tv.
Fechei meus olhos, respirei fundo, e logo os abri, porém, tudo o que vi agora era o teto do nosso quarto, meu coração estava acelerado, minha respiração ofegante, passei a mão em meu rosto e não parecia molhado, agora ele estava seco, eu não chorava mais, então tudo o que aconteceu foi apenas um... sonho?
Olhei para o lado e Soraya dormia tranquilamente, desci meu olhar para sua barriga, coloquei a mão, os três meses chegaram, e já se notava a diferença nela. Sua feição era serena, pude perceber um pequeno sorriso de canto, acho que ela sonhava com algo muito bom.
Um sonho, tudo vivido e contado há minutos atrás não passou de um sonho, ela estava aqui, do meu lado. Então pude lembrar do pedido de casamento feito há semanas atrás, ela havia aceitado, estávamos noivas, eu estava de volta a realidade novamente, e ela estava aqui comigo também.
.
.
.
.
.🤍🦋