Cap seis

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Os barulhos da feira se misturam ao meu redor

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Os barulhos da feira se misturam ao meu redor. Vendedores anunciando seus produtos com gritos altos e claros. Mulheres compram tecidos e provisões pechinchando com o talento de um mercador de grande riqueza. Homens tentam negociar suas presas, esculturas ou até mesmo uma pedra.

Enquanto todos estão absortos nos barulhos da superfície, os espertos, trabalham nas sombras.

Vejo dois adolescentes roubando uma barraca, enquanto o dono é distraído pelos seios de uma mulher de lábios pintados em vermelho.
Um homem velho enganava um grupo de pessoas ao fazê-los tentar adivinhar em qual copo estava a pedra.
Uma mulher roubava jóias com as mãos leves, fingindo ler suas sortes escritas em suas mãos, braços e pescoço.
Já um grupo de pelo menos quinze crianças, saiam correndo esbarrando nas pessoas com as carteiras ou sacos de dinheiro frouxos.

Um menino vem correndo em minha direção me empurrando, cambaleio pra trás e sou empurrada por mais duas crianças pelas costas.

— cuidado, suas pestes - grito engrossando minha voz

— olha por onde anda otário - o garoto do meio grita e sai rindo

Me endireito minhas roupas. A túnica azul escuro quase da tribo da água, feita pro frio, forrado com lã de leão-ovelha. As calças são as minhas pretas de sempre que corta o frio, as botas pretas também. Um cachecol vermelho cobre meu rosto deixando somente os olhos visíveis, já que estou com uma faixa preta na cabeça cobrindo minhas sobrancelhas e meu cabelo está em um coque bem apertado.

Bocejo e vejo minha respiração condensar no ar. Levo minha mão livre até minha bolsa de moedas em minha bota e dou um leve sorriso ao perceber que eles não conseguiram me roubar.

Volto a andar pelo mercado apertando a bolsinha de dinheiro que roubei deles. Economizei.

Não penso em como eles poderiam precisar de dinheiro nesse frio. Já fui uma garota igual a eles, então sei que se você está roubando em bando, com toda certeza vocês tem mais dinheiro que o necessário pra comprar pelo menos um pão.

Somente um pão pode até ser cruel pra uma criança em crescimento — evito pensar em minha estatura —, mas eles vão ter energia o suficiente pra conseguir comida amanhã — ainda mais pelas outras duas bolsas gordas que evitei pegar do bolso do Respondão

Compro batatas, cenouras, mandioquinha, repolho, poucos temperos, uma panela grande o suficiente pra quatro, cumbucas e, por fim, colheres.

Ajeito todas as minhas coisas nos braços e passo novamente meus olhos pelo mercado.

— papai olha que linda - a minha frente uma menina de cabelos encaracolados loirinhos apontava pra uma túnica de frio vermelho claro, quase rosa, mas era muito maior do que ela - ia ficar lindo na mamãe

— deixe isso quieto - ele sussurra olhando com pesar em direção as roupas e o rosto magro da menina.

Me aproximo dos dois com cuidado, analisando suas feições, aparências e movimentos. Os dois estão magros, ele não tem marcas de cigarro nos dedos, dentes bons, olhar cansado e roupas leves demais pro frio que ameaça vir. Já a menina esta o mais bem cuidada possível, mesmo bem menor e mais magra que sua idade, mesmo com as camadas de roupas finas extras pra tentar impedir o frio.

Don't Blame Me - ZukoOnde histórias criam vida. Descubra agora