Cap sete

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As chamas da única tocha acesa e presa na parede, produzem sombras dançantes no teto feito inteiramente de metal - como as paredes, o chão e a porta. Parece que estou em uma prisão de ferro e cinzas. E mesmo com as tapeçarias da nação do fogo, os lençóis e tapetes vermelhos, o quarto parece frio.

Um frio solitário, que já dura há mais de cinco anos.
Não que no castelo mudasse alguma coisa, já que tudo é decorado em preto, cinza, vermelho e ouro, mas pelo menos no castelo variava as cores e não tinha o balanço enjoativo do mar - a qual, de um jeito ou de outro, já me acostumei.

Ajeito uma das mãos abaixo de minha cabeça, empurro meu travesseiro vermelho com chamas douradas desenhadas nas bordas e me deito melhor enquanto minha mente vagueia.

Digo para eu mesmo que estou meditando, me concentrando em estratégias de achar o Avatar novamente, em cálculos mentais de onde ele pode ir agora, mas só consigo pensar naqueles olhos verdes como um mar calmo.

Me pergunto se ela sabe que seus olhos são verdes azulados e não ao contrário.

A única coisa que reparei naquela ladrazinha quando caiu em cima de mim, na rua, foi os olhos verdes me encarando em choque. Quando ela se afastou e riu de mim, seus olhos ficaram azuis e depois voltou pro verde.
Quando nos encontramos mais tarde, eu podia jurar que aquele pirata anão, era o irmão mais novo da ladrazinha. Mas nem em mil anos alguém poderia nascer novamente com aqueles olhos.

Um verde mar viciante.

Ela luta de maneira excepcional, nunca nenhum dominador da água lutou como ela, ela conversa com a água, não a domina, ela faz a água fazer o que ela quer e ela não a força. Tirando quando luta, parece que está dançando, ela é quase uma força da natureza e por um momento me pergunto se eu quero mesmo ser inimigo dela.

Droga.

Ela que tem que pensar se quer mesmo ser minha inimiga, se quer mesmo ficar contra mim!

Preciso pegar essa desgraçada, só assim vou conseguir deixar de pensar nela.
Deixar de pensar em seu peso em cima de mim. Na lâmina sendo pressionada com força contra meu pescoço. Em seus cabelos cacheados caindo em meu rosto. Em seu sorriso sarcástico e olhos tristes. Até mesmo seu cheiro parece impregnado nas minhas roupas escondidas embaixo da minha cama, menta e flor-de-lis.

Penso em como seus olhos azuis esverdeados me encaram com um sinal de aviso e divertimento, mas nunca ódio
Ela nunca me considerou um inimigo digno de seu ódio, nem quando a queimei e ela ficou irritada.

Ela usa uma faixa na testa cobrindo suas sobrancelhas, mas seus olhos mostram sua expressão relaxada com a mesma facilidade que mostra a feroz. Como um felino.
Os lábios cheios, entreabertos com um rosnado de impaciência.
Como se eu devesse lhe seguir e satisfazer.

Trinco o maxilar me sentindo desafiado pela ousadia da garota.

Pela sua altura, ela não deve ter mais de quatorze anos e age desse jeito feroz.
Preciso pegar essa Piratinha.

Me sento na cama, firmando meus pés no chão de metal coberto por um tapete preto.

Durante cinco anos estou atrás do Avatar.
Durante cinco longos anos eu tenho treinado todos os tipos de artes marciais, praticado a dominação até meus membros não conseguirem se sustentar, estudado estratégia e os povos do ar até meu nariz sangrar.

Dediquei cada segundo da minha vida em busca do dominador dos quatro elementos. Por cada maldito milésimo eu corri atrás da minha honra. Nada nunca tirou a minha concentração dos meus objetivos.

" pensei que você era mais quente, principezinho - ela sorri zombeteira"

Porra!

Com toda certeza não vai ser agora que uma garota vai me tirar do meu objetivo.
Ainda mais uma pirralha metida a pirata que não passa dos meus ombros.

Don't Blame Me - ZukoOnde histórias criam vida. Descubra agora