ANOS DEPOIS
Apesar de ter deixado para trás o seu grande amor, Eduardo realmente teve boas oportunidades na vida ao se mudar de país, estudou nas melhores escolas e universidades e se tornou um grande executivo em uma empresa de laticínios. Logo que começou a trabalhar, conheceu Fernanda, a filha de Gonçalo, seu chefe, e viveu algo parecido com paixão até se casar e perceber o desequilíbrio mental da mulher que mais parecia uma criança birrenta no corpo de uma bela adulta ruiva. Naquele dia, Eduardo se arrumava para um evento extra que teria fora do horário de trabalho enquanto a esposa literalmente se arrastava aos seus pés implorando para acompanhá-lo.
− Eu já falei que não dá, Fernanda, eu vou trabalhar. – Eduardo suspirou cansado, ajeitando as mangas do seu paletó. – Levanta desse chão, você está ridícula. – ele pegou Fernanda pelo braço e a ergueu com cuidado, a soltando do seu pé.
− Você vai é se encontrar com outra mulher. – Fernanda cruzou os braços, emburrada.
− Como? Se eu estou indo para esse jantar acompanhando o seu pai. – Eduardo revirou os olhos.
Nessa hora, Gonçalo bateu na porta e a abriu, colocando apenas a cabeça para dentro. Ele havia marcado um jantar com novos clientes e achou importante que Eduardo, seu genro, homem de confiança e melhor funcionário, o acompanhasse, mas como não era nenhum encontro entre amigos, ele o avisou para deixar Fernanda em casa, já que nessas ocasiões, ela mais atrapalhava do que ajudava com seus ciúmes excessivos.
− Com licença. Já está pronto, Eduardo?
− Sim, basta a sua filha me liberar. – Eduardo suspirou.
− Papai, por que o Edu tem que ir com você? – Fernanda perguntou pela milésima vez, com um bico nos lábios.
− Eu já expliquei, minha filha. Estamos indo para trabalhar, não para nos divertirmos. – Gonçalo falou paciente.
− Olha, querida, você pode me esperar deitadinha na nossa cama que na hora certa, eu estarei de volta. – Eduardo beijou a testa de Fernanda e foi saindo.
− Espera! – Fernanda gritou e correu até Eduardo. – Me beija direito. – ela sorriu, puxando a gravata do marido.
Eduardo deu um breve beijo nos lábios de Fernanda e logo a soltou. Há muito tempo que ele não ficava com ela por prazer, apenas cumpria suas obrigações de marido quando ela o procurava para ela não armar um escândalo como costumava fazer ao ser contrariada. Às vezes ele se pegava sentindo falta do passado, de quando a beleza da esposa era suficiente para excitá-lo, ou sua saudade fosse de um passado ainda mais distante, de quando ele conhecia o amor verdadeiro, mas ele tentava nem se lembrar dessa época para não sofrer desnecessariamente.
− Até mais tarde. – Eduardo sorriu, acariciando o rosto de Fernanda.
Gonçalo também se despediu de Fernanda e saiu com Eduardo até a garagem, onde pegaram o carro do mais novo, decidindo irem apenas em um, já que iriam para o mesmo lugar e voltariam no mesmo horário.
− Nem acredito que a Fernanda nos deixou sair na hora dessa vez. – Eduardo riu, olhando a hora no painel do carro enquanto dava partida.
Eduardo se referia ao fato de que Fernanda sempre arrumava empecilhos quando ele ia sair sem ela.
− Pobre da minha filha. Desde que a mãe se foi, ela já não é mais a mesma. – Gonçalo suspirou.
Fernanda nem sempre foi aquela mulher desequilibrada. Quando Montserrat, sua mãe, foi definhando aos poucos de alzheimer, seu psicológico também não suportou e ela acabou se tornando instável pelo medo de perder quem amava, por isso que Eduardo continuava com ela, por pena e consideração pela família e os bons momentos que já viveu com a esposa.
− Eu entendo, por isso tenho procurado cada vez mais ter paciência com ela.
− E você não sabe como eu agradeço. Imagino que não seja fácil lidar com ela, ainda mais para um rapaz jovem que poderia estar curtindo a vida da forma que quisesse se tivesse a escolha de não continuar casado.
Eduardo agradeceu internamente por chegarem ao restaurante. Gonçalo era um homem muito legal, íntegro e buscava ter uma relação de amizade com ele, mas ainda assim era seu sogro e ele não se sentia à vontade para falar sobre o seu casamento, afinal nenhum pai gostava de ouvir alguém falando mal da filha. O jantar transcorreu normalmente, até que na volta para casa, Gonçalo puxou assunto.
− Aquelas moças ali são tão bonitas, pena que se entregam a uma vida fácil. – Gonçalo apontou pela janela para um grupo de mulheres em uma calçada.
Só então Eduardo percebeu que passava por uma rua repleta de boates com inúmeras garotas de programa, das mais variadas idades, pelas esquinas parando carros que se interessavam por elas. Era óbvio que ele sabia que aquilo existia, mas nunca havia passado por aquele lugar na vida, pois o caminho que mais usava era o da zona sul e nele, não havia aquele tipo de depravação. Daquela vez, ele estava por ali por insistência de Gonçalo em dizer que o trânsito estaria mais calmo naquela rua pelo horário.
− Apesar de que muitas vezes, elas caem nessa vida porque não encontram outras oportunidades. Realmente não dá para julgar ninguém. – Gonçalo lamentou.
Foi quando de repente, Eduardo pensou ter visto um longo cabelo preto e um rosto conhecido de relance, uma mulher vestida de roupa curta entrando em um carro qualquer. Mesmo tendo se passado vários anos e todos terem mudado muito, ele se achava capaz de reconhecer Rebeca em qualquer lugar, mas logo negou a si mesmo, a moça correta e estudiosa que ele conhecia jamais estaria se vendendo nas esquinas. O problema foi que com o susto, o homem freou o carro bruscamente, fazendo Gonçalo bater a testa no para-brisa.
− Caramba! Você está bem, Eduardo? – Gonçalo perguntou com a mão na testa.
− Sim, eu me distraí, me perdoe. Machucou muito? – Eduardo encarou Gonçalo, preocupado.
− Acho que com gelo resolve, mas você tem que tomar cuidado quando estiver sozinho, uma distração como essa pode ser fatal. – Gonçalo falou, limpando o pouco de sangue da testa com um lencinho branco que levava no bolso.
Eduardo assentiu, indo o resto do caminho em silêncio. Ao chegarem, ele e Gonçalo se despediram e o mais novo foi para o quarto, encontrando tudo em silêncio com Fernanda já dormindo e tentando tomar banho e colocar uma cueca sem que ela percebesse, pois se acordasse naquele momento, não pararia de questionar cada minuto que ele passou fora. O homem se deitou devagar e suspirou quando a esposa se deitou automaticamente em seus braços, começando a fazer carinho no cabelo dela. Depois de tanto tempo, era triste admitir, mas nunca amou Fernanda como devia, seu sentimento era mais de irmão mais velho. Realmente ele acreditava que só se amava uma vez na vida e o seu tempo já tinha passado com Rebeca. Eduardo segurou outro suspiro. Não era a primeira vez que pensava no seu amor só naquele dia, chegou até a vê-la em uma suposta outra mulher, mas aquilo o fazia muito mal e ele só precisava voltar a guardar os sentimentos dentro dele outra vez.
~ * ~
Eduardo se tornou um homem rico e casado, mas continua pensando na "Rebeca". Mas será que ele a viu mesmo na esquina ou foi só imaginação? 😏♥️

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Amor De Quinta
RomanceRebeca Sanchez era uma linda moça de 15 anos prestes a conhecer o amor com o seu colega de classe Eduardo Juárez, até que a família do rapaz decide ir embora do país, separando assim o casal. Anos depois, grandes mudanças acontecem na vida da moça q...