Capítulo 1

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Beatrice Fontenelle

Acabei de chegar da Escócia e estou doida de tanta saudade do Rael, meu pequeno homenzinho de cinco anos e claro a pequena Stacy de seis meses.

Passei uma temporada na Escócia com os meus primos por que o retorno do Enzo foi muito difícil, ele foi cruelmente apelidado como "aquele que voltou dos mortos" e como se isso já não fosse complicado e exaustivo o suficiente ele precisou começar imediatamente com o treinamento para finalmente se tornar o chefe da máfia escocesa.

É mesmo muita responsabilidade de uma vez e como eu também precisava espairecer a minha cabeça por um tempo, acabei me oferecendo para ajudar na organização da cerimonia que será em alguns meses.

O motorista fez todo o trajeto para a casa do meu irmão em completo silêncio e eu agradeci muito por isso, eu simplesmente odeio papo furado.

Desci do carro indo em direção a casa que também vai ser a minha casa pelos próximos quinze dias enquanto aguardo pacientemente que o a minha fique pronta. Eu poderia ter ficado na casa dos meus pai que é literalmente aqui do lado, mas os dois decidiram de repente ter uma segunda lua de mel e viajaram, a grande ideia dos dois pombinhos da terceira idade inspirou outros dois da mesma classe, meu tio Tom e sua nova esposa Rute. Eles não chegaram a ter uma viagem de lua de mel, então conta como a primeira mesmo.

Isso significa basicamente que nós, as "crianças" deles estamos completamente por conta própria.

Arrastei a mala até a porta, aguardei pacientemente a inteligência artificial da câmera reconhecer o meu rosto e abrir a porta para mim. Imaginei que fosse ser um pouco mais complicado, afinal de contas acabei de deixar o meu cabelo um pouco mais escuro e assumo que me rendi a modinha do butterfly cut hair.

- Finalmente chegou.- Meu irmão disse com um sorriso no rosto assim que me viu. Ele está com a bebê Stacy no colo e eu fui imediatamente até ela, ignorando o braço do Marco que estava estendido na minha direção para me dar um abraço.

Bom, eu tenho que estabelecer as minhas prioridades, e como ainda não conheço a nova neném da família, o Marco fica obsoleto.

- Vem com a titia, amore mio.- Peguei a garotinha sorridente e quase sem cabelo no meu colo.

Os meus sobrinhos são com certeza tudo o que eu tenho de mais importante na minha vida. Talvez um dia eu me case e tenha os meus próprios filhos para amar e cuidar, mas eu preciso admitir ao menos para mim mesma que o casamento deixou de ser exatamente um grande sonho para mim a bastante tempo.

Ninguém além da Stella, esposa do Dom e minha amiga, sabe sobre esse meu passado, e na realidade nem mesmo ela sabe com tanta profundidade por que eu simplesmente travo quando o assunto são sentimentos. Prefiro muito mais sair chutando alguma coisa até extravasar.

Bom, o caso é que desde que eu conheci o Henrique, nosso chefe da segurança, me apaixonei por ele de uma forma avassaladora. Claro que eu nunca disse nada, tinha apenas dezesseis anos na época, e eu sabia que para ele o dever estava acima de qualquer coisa, e ele nunca ousaria se envolver com a irmã de seu chefe.

Seria suicídio.

Mas no fim das contas, depois de um tempo ele ousou.

Eu estava com quase vinte e quatro anos, não sei explicar muito bem o que aconteceu ou como aconteceu, eu já estava perfeitamente acostumada a silenciar os meus sentimentos perto dele, fazia isso tão bem que ninguém nunca desconfiou, mas naquela noite estávamos os dois de tocaia aguardando um traidor da cosa nostra que estava desviando fundos e armas de nosso arsenal para revender e ficar com os lucros, estávamos apenas nós dois e um carro suspeito se aproximou então tanto eu quanto ele em uma fusão de pensamento rápido nos jogamos no chão entre os arbustos da floresta e talvez tenha sido essa proximidade escandalosa que deu inicio a tudo.

Senti o olhar dele queimando em mim e me ergui para olhar. Ele estava com um brilho tão diferente nos olhos naquele momento, olhando para mim com desejo e vontade, ele sempre foi tão respeitoso que mal olhava diretamente para mim quanto estávamos sozinhos, então quando eu vi ele me olhando daquele jeito eu perdi o juízo completamente. Não que eu tenha muito juízo de qualquer forma.

Quando o Henrique tomou a iniciativa de me beijar eu esqueci de absolutamente tudo. Esqueci que pelas regras eu deveria permanecer virgem até estar casada, esqueci que ele provavelmente iria se arrepender logo em seguida, esqueci que estávamos trabalhando e esqueci o quanto o Marco iria ficar furioso se descobrisse, eu simplesmente me entreguei ao momento completamente e me senti nas nuvens quando ele fez o mesmo.

Claro que acabamos perdendo os suspeitos de vista, inventamos uma mentira mirabolante para contar ao Marco como justificativa e nenhum de nós dois se importou muito com o esporro.

Depois disso os nossos encontros ficaram frequentes, eu sempre dormia na casa dele, ou ele no meu antigo apartamento, mas nunca estávamos ficando separados a menos que fosse por razão de trabalho. Hoje eu sei que para ele não passava de uma ficada casual e por conveniência, mas para mim e para mim mente apaixonada nós estávamos em um relacionamento que iria ser oficializado a qualquer instante. Comecei a sonhar com um casamento, com a vida que teríamos juntos quando tudo não fosse mais um segredo, no entanto acho que ele nunca cogitou a possibilidade de deixar de ser. Em um belo dia, depois de longos dois meses que estávamos "juntos" eu resolvi fazer uma surpresa para ele, eu queria comemorar os nossos dois meses juntos e cheguei de surpresa em sua casa.

O Henrique estava no quarto, eu tinha escutado alguns sons vindo de lá, não me passou pela cabeça que eu poderia ver algo que eu detestasse então simplesmente fui entrando e foi ai que tudo desmoronou tão rápido quanto começou.

Ele estava meio sentado e meio jogado na cama, com a toalha jogada em cima da cama ao seu lado como se tivesse acabado de sair do banho, completamente pelado e na frente dele uma mulher loira das penas gigantescas igualmente despida.

Senti os meus olhos arderem imediatamente, senti vontade de gritar e de chorar, as emoções foram tão conflitantes que eu fiquei alguns segundos parada no mesmo lugar, Henrique me percebeu ali emoldurada na soleira da porta e seu rosto assumiu uma expressão de completo espanto e só ai eu tive forças para sair daquela cena ridícula.

Não, na verdade a ridícula fui eu de acreditar que algo surgiria dai.

Ouvi a voz dele atrás de mim, me pedindo para esperar aos berros por que segundo ele, aquilo tinha uma explicação, mas eu não quis ouvir.

Que explicação seria aceitável diante do que eu vi? Ele só queria me contar alguma mentira, sei disso.

Desde então eu fujo dele como o diabo foge da cruz, com exceção dos casos de trabalhos onde conversamos apenas o indispensável.

Não vou deixar que me machuquem de novo.

- Irmã? Você está bem?- A voz do Marco me trouxe de volta a mim, me tirando dos devaneios do passado.

Assenti com a cabeça voltando a atenção para a minha sobrinha ainda em meus braços.

Eu não preciso lembrar do passado quando tenho outras coisas com o que me ocupar.















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Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora