Capítulo 5

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Beatrice Fontenelle

São mais de duas da manhã e eu estou na porta da casa do Henrique esperando ele vir me atender.

Realmente comecei a fazer o relatório para ele naquele mesmo instante, eu sei o quanto ele está cansado e espero que o meu esforço não tenha sido em vão e que ele tenha usado esse tempo de sobra para descansar.

Pouco tempo depois ele abriu a porta, usando apenas uma calça de moletom preta exibindo seus músculos e abdômen em plena forma. Henrique parecia um pouco chateado e eu realmente não entendi o motivo, antes de qualquer coisa ele colocou o rosto para fora de casa e olhou a rua ao nosso redor constatando o que eu já sabia, que a rua está completamente escura e deserta.

— Você não devia sair de casa uma hora dessas.— Ele disse em tom de advertência quando me puxou pelo braço para dentro de casa. 

Peguei o envelope dentro da bolsa e entreguei nas mãos dele.

— Meu irmão quer esse relatório bem cedo, e acho que você já sabe muito bem que ele não tem graça quando é contrariado. Demorei muito para conseguir alguma informação vantajosa por isso só consegui acabar agora. — Respondi sentindo um desconforto gigante no corpo pelo simples fato de que eu não consegui parar a pesquisa nem mesmo para tomar um misero banho. Preciso ir para casa urgentemente.

— Não tem problema, seu irmão nem sabe que você está me ajudando Bea, aposto que ele ficaria furioso se descobrisse isso ao saber que aconteceu alguma coisa com você no meio do caminho trazendo isso para mim. Aposto que eu amanheceria com a boca cheia de formiga.— Retrucou colocando o envelope junto aos seus materiais de trabalho, e com isso eu quero dizer basicamente uma arma, um silenciador e munição.

— Não vai conferir?— Perguntei para ele com a testa franzida.

Qualquer pessoa que seja membro da famiglia sabe que o meu irmão é sim um líder justo e até tranquilo na medida do possível quando se trata de coisas simples, mas essa historia do Nicco ter chegado tão perto de se infiltrar no nosso meio o deixou a beira do colapso nervoso. Marco não anda tendo muita paciência para qualquer que seja o erro referente a esse assunto, então achei mesmo que ele fosse conferir antes de simplesmente entregar ao Marco assim.

— Não, eu confio em você.— Ele disse com um sorriso realmente sem me passar nenhum tipo de duvida.

— Acho que você está confiando demais sabe, eu tenho todos os motivos do mundo para ter raiva de você e poderia usar essa oportunidade para te sacanear, seria a chance perfeita para o Marco ficar tão irritado ao ponto de te dar um tiro.— Retruquei tentando lhe fazer criar desconfiança no que diz respeito a mim, no entanto parece não ter surtido nenhum tipo de efeito.

— Você não colocaria a minha cabeça a premio Bea, tenho certeza.— Respondeu sentando no sofá. Não sei o motivo, mas acabei fazendo o mesmo que ele e me sentei ao seu lado.

Uma das coisas que eu mais gostava entre nós dois é que nem tudo se resumia a sexo ou beijos quentes, mas nós tínhamos as melhores conversas, brincávamos e riamos juntos todos os dias. Acho que foram essas coisas que me fizeram acreditar piamente que nós dois acabaríamos nos tornando mais que amantes casuais.

— Por que você acha isso?— Perguntei jogando as minhas costas para trás, na almofada do sofá.

— Por que por mais que você se esforce para me fazer pensar o contrario, eu sei que você gosta de mim, não me deixaria me dar mal quando tem a chance de evitar. A prova disso é que você passou horas fazendo um relatório que era obrigação minha apenas para que eu pudesse descansar um pouco.— Henrique disse com um sorriso convencido no rosto me deixando constrangida e irritada ao mesmo tempol.

Eu sabia que demonstrar preocupação seria o mesmo que demonstrar fraqueza, droga!

— Eu só não queria que você morresse de exaustão antes da gente pegar o Nicco, por mais que me custe admitir você é ótimo como chefe da segurança. — Respondi tentando fazer disso algo praticamente insignificante, além de egoísta.

— Você gosta de mim, para de mentir.— Ele disse deitando a cabeça de lado para poder olhar para mim enquanto sorri descaradamente, parecendo muito contente com a sua própria constatação sobre o assunto.

— Não costumo gostar de pessoas que me fizeram mal, mas pode acreditar no que quiser.— Retruquei dando de ombros afinal de contas o que eu disse é a mais pura verdade.

— Eu não trai você Bea, juro por tudo o que você quiser. Me deixa explicar o que aconteceu, per favore.— Henrique pediu com a voz tão tranquila e suave que quase me convenceu a escuta-lo, mas tão rápido quanto essas palavras entraram na minha mente elas foram bombardeadas pelas lembranças daquele dia.

Não posso me deixar ser enganada.

— Não vamos falar sobre isso, eu tenho que ir para casa, vim só deixar o relatório.— Respondi tentando me levantar, mas fui impedida pela soa mão esquerda segurando o meu punho.

— É muito tarde para você sair, é perigoso. dorme aqui e amanha você vai.— Ele sugeriu e mesmo sabendo que eu sou mais perigosa para os outros do que o contrario eu assenti levemente com a cabeça.

Talvez eu não passe de uma fraca masoquista, mas eu estou a três anos sendo forte e me mantendo longe dele que eu senti a necessidade de me enganar apenas um pouco hoje. 

Só um pouco.

— Tudo bem, você tem razão, mas eu preciso de um banho.— Respondi e ele me soltou quando viu que eu aceitei ficar.

— Pode tomar no meu quarto, pegue uma camisa para dormir, enquanto isso eu vou fazer alguma coisa para comermos, eu estou faminto. Acordei literalmente agora.— Ele respondeu coçando a nuca um pouco envergonhado por ter dormido o dia inteiro, e pelo que eu estou vendo ainda não foi o bastante.

Assenti com a cabeça e caminhei sozinha na direção do quarto dele, afinal eu já fiz esse percurso varias vezes no passado.

Assim que entrei senti o meu corpo sendo inundado por esse perfume maravilhoso que ele nunca trocou, a decoração também continua a mesma.

Tomei um banho rápido e me sequei com a toalha dele mesmo, caminhei até o seu closet e retirei de lá a mesma camisa que eu sempre vestia quando estava aqui, é como se ela fosse minha e eu quando eu a vesti percebi que ele deve pensar da mesma forma por que ainda está com o meu cheirinho na roupa.

Eu não queria ser uma bisbilhoteira completa, mas eu só vou ser caracterizada assim caso eu seja pega, e eu não vou ser. Abri algumas gavetas do seu criado mudo para tentar saber um pouco mais a fundo como anda a vida dele nesse tempo em que estamos completamente longe, mas em uma dessas gavetas eu encontrei algo que nunca imaginei que encontraria nessa casa.

Uma foto nossa.

Os dois completamente sorridentes aparentando estar no auge da mais pura felicidade... Por que ele guarda isso?

Não tive muito tempo para pensar a respeito, ouvi passos vindo para o quarto e guardei a foto no mesmo lugar imediatamente.

— Fiz o meu prato especial: Sanduiches e suco.— Anunciou com um sorriso enquanto me entrega uma grande bandeja.

Nós comemos em silêncio, nada que fosse desconfortável, muito ao contrario disso.

E no fim de tudo por mais que meu cérebro gritasse alerta em vermelho eu acabei me permitindo dormir próxima a ela, na mesma cama, aproveitando o calor do seu corpo.

O mesmo calor que eu sinto falta a tanto tempo.

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora