Capítulo 13

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BEATRICE FONTENELLE


Respirei fundo ainda encostada ao corpo do Henrique, ambos sem roupas e ao ar livre.

Dio, por mais que eu tente negar, por mais que eu saiba que deveria estar longe dele preciso admitir que estar assim é a melhor coisa do mundo.

Eu e ele combinamos em tantos níveis inexplicáveis... É absurdamente difícil permanecer acreditando que ele errou tanto comigo.

Me sinto tão tentada a deixa-lo se explicar...

Antes que eu pudesse dizer alguma palavra para o homem ao meus lado ouvi alguém batendo na porta da frente da minha casa me fazendo dar um salto assustada.

Especialmente quando ouvi a voz da tal pessoa.

— Bea! Irmã, vem aqui.

— Cazzo, é o Marco!— Henrique exclamou revirando os olhos chateado com a interrupção do momento.

 — Mas que inferno! Eu acabei de sair da casa dele, o que ele quer aqui hoje?— Questionei muito mais para mim do que esperando qualquer resposta exterior.

Me levantei e comecei a me vestir em uma velocidade assustadora, aproveitei e joguei na direção do Henrique as suas roupas também, imagino que a ultima coisa que ele queira é que o meu irmão mundialmente conhecido pela falta de piedade o veja em tanta falta de roupas com sua irmãzinha.

Senti a mão do Henrique segurando o meu cotovelo antes que eu pudesse arrasta-lo para um esconderijo seguro antes de entrar em casa e pensar em alguma boa mentira para contar ao Marco sobre a minha demora.

— Eu acho melhor contar a verdade a ele. Eu posso enfrentar isso Bea, só preciso da sua permissão.—  Ele sugeriu e por um momento eu tive vontade de rir.

Logo em seguida percebi não se tratar de uma brincadeira e me perguntei se ele estava ficando maluco durante o curto percurso do piquenique até perto desse arvore frondosa.

—  Enlouqueceu? Não pode achar realmente uma boa ideia contar ao meu irmão que tem um caso com a irmãzinha dele.—   Retruquei me perguntando se vai levar mais do que dois minutos para ele voltar a realidade, por que esse é todo o tempo que eu disponho para ir abrir a porta antes que o Marco dê um jeito de fazer isso sozinho.

— Ele é mais razoável do que você pensa Beatrice, especialmente se souber que isso não é apenas um caso sem importância, eu quero me casar com você e você sabe que quer o mesmo.—   Henrique falou com tanta certeza que eu me senti exposta diante dele.

Tão exposta que a minha reação foi rejeitar as suas palavras tão rapidamente quanto elas me acertaram.

— Eu não vou me casar com você Henrique, nós dois sabemos que isso não vai acontecer.—  Retruquei olhando em seus olhos.

Preferia que eu não estivesse fazendo isso, por que por mais que essa tenha sido uma decisão automática minha eu não estava em de longe prepara para o olhar de decepção que ele direcionou a mim nesse instante.

Como se tivesse entendido agora mesmo que não vale a pena insistir em mim pelo simples fato de que eu nunca vou mudar.

Essa constatação doeu mais em mim do que nele.

—  Entendi. Se isso não vai levar a nada —  Henrique gesticulou com o indicador de mim para ele. —  Então não tem por que continuar.—  Concluiu com os olhos contendo lagrimas.

Senti uma vontade absurda de contradizer as minhas próprias palavras, no entanto fiquei em silêncio. 

E teria permanecido ainda mais em silêncio se não fosse pelo barulho do celular dele indicando uma mensagem.

Henrique riu sem humor olhando para a tela do aparelho.

—  Seu irmão me mandou vir para a sua casa por que ele quer conversar com nós dois. —  Disse evitando olhar para mim.

—  Acha que ele sabe de alguma coisa?—  Questionei preocupada com a possibilidade de ter sido pega no flagra.

Especialmente por que os meus pais chegam hoje de viagem, isso me faria ficar sem tempo para contornar a situação com o Marco antes que ele contasse para os nossos pais.

—  Sobre o que aconteceu com a gente? Acredito que não, Dio te livre de ter que casar a força com um homem a quem não suporta e não confia não é? Vá atender a porta, eu vou chegar pela porta da frente. Não se preocupe, eu não vou levantar suspeitas para ele senhorita Fontenelle, eu sei reconhecer o meu lugar. —  Ele saiu caminhando para longe de mim, aguardando o meu irmão entrar em casa para ele "chegar".

Ouvir o Henrique me chamar de "senhorita Fontenelle" me soou absurdamente estranho aos meus ouvidos. Nem mesmo quando nós dois não tínhamos absolutamente nada um com o outro ele me chamava dessa forma. 

Quis ir atrás dele e pedir que não me trate dessa forma, mas me contive, afinal temos problemas maiores agora.

Entrei pela porta dos fundos e corri até a porta da frente dando de cara com o meu irmão extremamente irritado na entrada.

— Céus, que demora foi essa? Pensei que ia ter que entrar pela porta dos fundos.—  Ele reclamou assim que entrou em casa.

Respirei fundo e falei a primeira coisa que me veio na cabeça.

—  Estava no banho, sabia que é cansativo se mudar de casa?—  Questionei me sentando ao lado dele para examinar se ele acreditou em mim.

—  Tudo bem, que seja. Vamos esperar o Henrique chegar por que eu quero falar com vocês dois.—  Assim que ele calou a boca Henrique surgiu na entrada da porta que eu deixei entreaberta justamente para ele. 

A expressão de decepção é incrivelmente maior, quase como se ele tivesse segurando as lagrimas e se negasse a deixar alguma cair mesmo que superficialmente.

— Ótimo, preciso falar com vocês sobre a missão do Nicco. Vocês não estão conseguindo nenhum avanço no nosso território e isso é inaceitável! Vocês são os melhores e não estão avançando. — Marco parece realmente bravo com isso e eu o entendo, tanto eu quanto o Henrique andamos distraídos demais e de certa forma pode sim ser nossa culpa a falta de avanços.

— Sinto muito Marco, ele é muito rápido e ainda não encontramos o seu rastro. — Henrique respondeu de cabeça baixa, ainda de pé na posição "descansar".

— Então é bom encontrarem, e rápido!  Daqui duas semanas vocês vão viajar para a Argentina, vão se hospedar com nossos novos aliados e como lá foi o ultimo lugar que o Nicco usou como esconderijo até onde sabemos deve haver algo por onde começar.— Ele delegou as ordens e tanto eu quanto o Henrique apenas assentimos aceitando a missão.

Não que tivéssemos outra opção é claro, Marco simplesmente não tem graça quando não consegue o que ele quer.

— Só retornem quando tiverem noticias.—  Dito isso Marco saiu passando serio por nós dois, usando sua postura de chefe da famiglia e não a de amigo ou irmão. 

— Sim senhor. —  Henrique disse mesmo sabendo que Marco já não podia ouvi-lo mais. 

— Henrique, sobre antes... —  Comecei a falar mas ele estendeu a mão na minha direção me fazendo parar.

—  Não precisa desenhar para que eu entenda, não vou mais incomodar com os meus sentimentos que no fim das contas, são apenas meus.—  Dito isso ele também me deu as costas e foi embora.

Algo em sua linguagem corporal me deixou apavorada. Como se ele estivesse realmente indo para sempre.

Sem a pretensão de voltar. 

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora