capítulo 8

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Beatrice Fontenelle

— Não vou desculpar você por me fazer ir nessa festa, Ana.— Resmunguei enquanto ela arruma o meu cabelo com um sorriso gigantesco no rosto.

— Cunhada, eu preciso do meu marido em casa para me ajudar com as crianças, afinal eu não fiz eles sozinha. Mas você está tão relutante em ir para essa festa e eu ainda não entendi o porquê.— Pelo espelho eu olhei para ela sentindo uma imensa falta da Stella, que já viajou com o Dom para conseguir aliar a Argentina a nós.

Ela sim me entenderia.

Claro que não é culpa da Ana não me entender, afinal ela não sabe que existe uma história por trás da minha imensa recusa.

— Não existe motivo, eu só não queria ir.— Respondi cruzando os braços.

— Sei, então se eu te falar que você pode ir sozinha não vai fazer diferença nenhuma?— Perguntou arqueando as sobrancelhas.

Eu nem percebi que isso é apenas um teste, me virei na cadeira olhando para ela animada pensando ter sido agraciada por Dio por não precisar passar a noite inteira passando vontade ao lado do meu maior desejo.

Da pessoa que eu amo em segredo e que nunca vai ser meu.

— Posso mesmo?— Perguntei com os olhos brilhando de animação.

— Não, não pode, mas isso me fez ter certeza que sua recusa tem muito mais a ver com o seu par do que com a festa em si. Quer me contar o que aconteceu?— Perguntou e eu até pensei em aceitar a oferta, mas logo depois sacudi a cabeça em uma negativa.

A Ana e o meu irmão são um casal especialmente unidos, tudo o que ele sabe ele conta a ela e eu tenho um pouco de medo de que o contrário também aconteça. Se eu aceitar a oferta e me expor completamente amanhã pela manhã eu posso estar casada ou chorando a morte do Henrique.

Melhor não arriscar.

— Tudo bem Bea, se não confia em mim para me contar o que está acontecendo eu não vou te pressionar, mas de qualquer forma quero que saiba que você tem sim a liberdade de conversar comigo sobre qualquer coisa, e eu lhe asseguro que não vou contar ao seu irmão.— Ana disse e eu assenti um pouco preocupada com a última parte do seu discurso. Como ela sabe que eu tenho medo que ela conte ao Marco?

Bom, pensando de forma lógica não deveria ter sido uma surpresa para mim, por que foi uma soma bastante simples. Eu não querer ir para uma festa acompanhada do Henrique obviamente denuncia que o problema é de cunho sentimental, e ela sabe perfeitamente que as nossas regras são bastante divinas no tocante a isso e o Marco como nosso capo teria que aplica-las, doesse a quem doesse.

— Obrigada, Ana. Não é que eu não confio em você, é só que...— Dei de ombros.

— Eu sei, imagino que haja algum risco de vida no meio dessa história.— Ana disse e eu arregalei os olhos assustada.

— Como você sabe disso?— Questionei já me entregando por completo e pouco me importando com isso.

— Eu não sou boba, Bea. Vocês dois estão juntos, não é? Imagino que você esteja com medo de dar bandeira na frente das pessoas por que sabe o que pode acontecer a ele se as pessoas descobrirem que ele desonrou a irmã do capo da famiglia. É uma situação bastante complicada mesmo, mas se me permite dar uma opinião, diga a ele que faça o pedido logo antes que alguém menos discreta que eu perceba.— Minha cunhada disse com um nível de sabedoria impressionante, isso claro se não formos contar o equivoco no espaço tempo. Eu e ele não estamos juntos, mas já estivemos.

Acenei com a cabeça de cima para baixo sem saber como dizer a ela que o tal pedido nunca viria, preferi deixar a história ir seguindo e quando não der mais para simplesmente ignorar eu invento algo plausível o bastante para dizer que terminamos e bom o suficiente para que ela não precise contar a ninguém sobre esse breve deslise.

Melhor assim, aí ninguém sai machucado dessa confusão.

Se a Stella estivesse aqui a Ana não teria percebido por que eu teria conversado com alguém e estaria consideravelmente menos tensa.

Mais tarde a culparei pelo meu infortúnio.

Ana terminou a minha maquiagem e o meu cabelo em silêncio, menos quando me fez passar um batom da cor vinho justificando que isso vai funcionar como um alarme, se eu beijar o Henrique vai deixar tanta marca que todos vão saber.

Ótimo, mais um motivo para ficar longe dele.

Coloquei o meu vestido que foi cuidadosamente escolhido pela minha cunhada bastante provocativa e me olhei no espelho.

Não posso reclamar, eu estou um verdadeiro arraso.

Não posso reclamar, eu estou um verdadeiro arraso

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       (Vestido da Bea)

Segundos depois ouvi uma voz bastante conhecida por mim na sala de casa e revirei os olhos.

Bom, não tenho para onde correr.

Me levantei e dei um abraço na Ana para agradecer a dedicação nessa produção toda.

— Se divirta, aproveite.— Ela sussurrou no meu ouvido e eu sorri para ela.

Sai no quarto e caminhei até a sala dando de casa com o Henrique tão arrumado quanto nunca o vi antes. Acho que nunca vi ele usando um smoking na vida, mas com certeza deveria usar mais vezes por que fica a completa tentação.

Ele por sua vez está completamente hipnotizado me encarando, e por sorte o Marco as vezes é tão tapado que não percebeu.

— Irmã, você está fantástica.— A voz do meu irmão parece ter despertado o Henrique do transe no qual estava e eu agradeci a Dio por isso.

— Grazie fratello, foi tudo graças a sua esposa.— Respondi apontando na direção dela que está agora parada no topo da escada, tentando inutilmente ficar fora dos holofotes.

— É, ela é perfeita mesmo. Boa festa para vocês por que agora eu vou ativar o modo pai responsável. — Ele disse e eu ri sabendo que é a mais pura verdade. Essa noite o meu irmão só vai parar quieto quando seus dois pestinhas pegarem pesado no sono.

Me despedi dele também e segui caminhando para fora de casa com o Henrique no meu encalço.

— Você está incrível.— Ele disse abrindo a porta do carro para mim.

Gostei do gesto, mas não posso demonstrar isso.

— Grazie.— Respondi simplesmente tentada a abrir a janela do carro assim que ele entrou no veículo simplesmente por ser completamente sufocante estar no mesmo local que ele e não poder fazer nada a respeito.

— Se eu pudesse te levar para outro lugar amore mio, para relembrar os nossos momentos de paixão de antes...— Henrique disse dando partida deixando a sugestão no ar.

Meu corpo gritou como se implorasse que eu aceite a oferta passando por cima de todo o meu orgulho por ter sido feita de boba um tempo atrás.

E eu quase aceitei.

Quase.

Até quando será que eu vou conseguir sustentar esse "quase"? Será que consigo sustentar até a festa acabar?





Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora