Capítulo 6

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Henrique Moretti

Convencer a Bea a ficar na minha casa não foi tão difícil quando eu pensei que seria e isso é bom.

De alguma forma é o bastante para não me deixar desistir completamente de tudo.

A três anos que eu busco me apegar a pequenas coisas, quase insignificantes apenas para não desistir de tudo.

Eu me senti como não sentia a muito tempo quando ela aceitou dividir a mesma cama comigo, me senti um tanto quanto sorrateiro quando esperei pacientemente que ela pegasse no sono apenas para poder abraçar ela e dormir com ela assim, em meus braços de novo.

Acordei antes das seis da manhã, tomei um banho e me arrumei, mas antes de sair fiz um café da manha para a Bea e deixei ao lado da cama junto com uma florzinha para ela acordar feliz. Lhe dei um beijinho suave na testa e sai de casa rumo a casa do Marco para lhe entregar os relatórios.

Espero que ele esteja de bom humor.

Parei na frente da casa e esperei a câmera me reconhecer e liberar a minha entrada na casa.

Adoro essa tecnologia, quero uma dessas na minha casa também, em algum momento converso com o Marco sobre isso, não acredito que ele vá ver problema, mas de qualquer forma ele é o meu chefe e preciso de sua autorização. 

A porta abriu automaticamente e eu segui para o escritório pelo caminho que já conheço muito bem, mas precisei interromper os meus passos ao ouvir uma pequena discussão do chefe da cosa nostra com a sua amada primeira dama. O único problema é que eu já estava literalmente na porta do escritório e não tinha como voltar atrás.

— Eu já falei Marco, não me importo que você seja o chefe e precise ir para essa festa, a Stacy está doente e eu preciso que você me ajude.— Ana disse com a voz firme, deixando pouco espaço para uma discussão.

No momento eu estou na situação mais desconfortável já vivenciada por uma pessoa na vida. Parado na porta ouvindo a discussão e me fingindo de invisível.

— Amore mio, eu preciso estar presente.— Ele tentou argumentar, mas é claro que isso foi impossível.

— Mande o Dom e a Stella como representantes.— Ana deu a opção dando de ombros despreocupadamente.

— Eles já vão na Argentina essa semana fazer um acordo por mim amore mio, justamente para que eu não precise me ausentar daqui.— Marco explicou e nesse momento eu fui notado.

Talvez tenha sido a minha respiração ou qualquer outro movimento brusco que eu possa ser feito, mas eu fui descoberto.

Ana me olhou e sorriu como se tivesse encontrado a solução para todos os seus problemas.

— Henrique.— Disse simplesmente com um floreio de mãos exagerado na minha direção.

— Oi?— Respondi meio que em uma pergunta sem entender como eu acabei me envolvendo nessa conversa sendo que eu fiquei perfeitamente calado desde que entrei.

— O que tem o Moretti?— Marco questionou com a testa franzida, aparentemente tão confuso com o raciocínio de sua esposa quanto eu.

— O Henrique é um homem de muita confiança da nossa família, pode ir nos representando.— Ana disse e eu arregalei os olhos.

— Pode até ser, mas ele não é membro da família, apenas membros podem nos representar.— O chefe disse eu aliviei minha respiração novamente.

— Manda a Bea junto com ele meu amor, isso só vai ser um problema se você quiser que seja um.— Ana disse cruzando os braços na altura do peito dando a entender que é melhor para ele que não faça isso ser um problema.

Marco suspirou dando-se por vencido e automaticamente me dando por vencido também.

— Henrique, você vai acompanhar a minha irmã na festa da famiglia.— Ele disse olhando para mim e não vi outra opção a não ser assentir e encarar isso como um trabalho.

Detesto as festas da famiglia, nunca tem nada de interessante, é sempre a mesma coisa.

Mães desesperadas procurando maridos para as duas filhas incrivelmente fúteis, pais e irmãos procurando acordos vantajosos, mulheres viúvas se relacionando descaradamente com os membros solteiros do concelho e as próprias jovenzinhas fúteis e vazias conversando sobre a última coleção de roupas de não sei qual estilista. É uma grande chateação quando preciso comparecer a esses eventos, mas ao menos nesse terei um grande incentivo para ir feliz e contente.

A Bea.

Não que seu irmão precise ficar sabendo disso.

Ana saiu saltitante de felicidade por ter conseguido o que queria me deixando sozinho no escritório com o seu marido.

— Case Henrique, é ótimo nunca mais vencer uma discussão na vida.— Marco comentou com um sorriso enquanto se senta em sua cadeira me fazendo rir antes de fazer o mesmo que ele.

— Acredito que tenham muito mais vantagens do que desvantagens.— Retruquei colocando o envelope sobre a mesa.

— Com toda certeza, quando se tem uma esposa como a minha ganhar discussões é algo totalmente insignificante.— Respondeu parecendo cada vez mais apaixonado por ela.

É bonito de ver o tipo de relação que eles conseguiram, especialmente por que nenhum deles escolheram um ao outro, foram prometidos em casamento ainda muito jovens e não tinham alternativa a não ser cumprir o contrato que foi firmado por seus pais. Quem diria que o futuro reservava um grande amor.

— Eu imagino.— Comentei com um sorriso simples.

Não acho que tenha muito a contribuir sobre o assunto.

— Nunca vi você com ninguém Moretti, nunca teve vontade de se casar?— Marco questionou enquanto estende a mão para o envelope.

Vi aí uma possibilidade para minha imaginação.

E se eu contar a ele o interesse genuíno que tenho por sua irmã?

Mais que isso, e se eu me atrever a lhe contar que nós dois já nos envolvemos no sentido amplo da palavra alguns anos antes... Será que ele a entregaria para mim em casamento ou acharia mais cômodo arrancar a minha cabeça do meu pescoço?

Senti uma vontade absurda de testar a minha teoria, mas não seria certo.

A Beatrice ainda não quer me ver nem pintado de ouro e sei que obrigar ela a se casar comigo não seria nada sabio da minha parte, só iria dar a a mais munição para seguir me odiando... Não, eu preciso ganhar a confiança dela de novo.

Fazer ela ver em mim pouco a pouco o mesmo homem que ela enxergava a alguns anos e só aí eu vou poder pensar no meu próximo passo.

— Tenho vontade sim Marco, mas preciso convencer a mulher a aceitar.— Comentei despreocupadamente.

— Então já tem uma candidata? Que maravilha, se precisar da minha ajuda para convencer a dama estarei aqui, amigo.— Ele disse e eu prendi o riso.

Duvido muito que a oferta continuasse de pé se ele soubesse de quem estou falando.

— Claro, vou me lembrar disso.— Respondi assentindo com a cabeça.

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora