capítulo 17

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Henrique Moretti

Fiquei acordado o tempo inteiro desde que ela saiu do quarto, mas mesmo assim me obriguei a ficar deitado ao menos para relaxar o corpo.

Ando muito cansado fisicamente e psicologicamente desde que as buscas se intensificaram e especialmente desde que eu e a Bea terminamos. Tenho dormido muito pouco por noite e preciso aproveitar qualquer oportunidade de descanso.

Ouvi duas batidinhas suaves na porta do meu quarto e ergui a cabeça esperando que a pessoa entre e se identifique.

Para a minha surpresa a Angélica que entrou porta a dentro com um grande sorriso no rosto.

Rapidamente me sentei na cama acreditando se tratar de algo urgente para lea vir aqui, pelo que sei a família dela tem muitas liberdades, mas ainda assim nenhuma dessas liberdades inclui ela poder entrar no quarto de um homem.

Especialmente um homem solteiro.

— Que bom que você está acordado, vim te convidar para conhecer a cidade.— Ela disse sentando na minha cama me olhando com atenção.

Percebi que ela pode realmente estar com algum tipo de interesse por mim, e eu sei que estou completamente indisponível para qualquer coisa que envolva me relacionar com alguém, mas fé certa forma eu vi isso como uma oportunidade para me distrair.

Talvez seja bom sair.

Como amigos.

— Acho ótimo, vai chamar a Beatrice?— Perguntei com o intuito de descobrir com certeza se é apenas uma gentileza ou um interesse realmente.

— Na verdade pensei em ser apenas nós dois, de você não se importar.— Angélica respondeu dando de ombros e eu assenti com a cabeça.

Ela devia imaginar que eu aceitaria sair por que já está arrumada para um passeio durante a noite, usando uma saia jeans e uma blusa meio curta.

Bem bonita e despojada ao mesmo tempo.

— Claro, você me dá um tempo para tomar um banho?— Perguntei já levantando da cama. Angélica assentiu e eu peguei uma calça e uma camisa para me arrumar também, nada muito formal, apenas o bastante para não passar vergonha.

Meu banho foi bem rápido, não quis me alongar muito para não ser rude com a moça me esperando no quarto.

Sai do banheiro já vestido, passei perfume e sai de casa juntamente com a Angélica. Eu queria me oferecer para dirigir, mas não conheço nada aqui então deixei o cavalheirismo de lado e deixei que ela me levasse para o centro da cidade, segundo ela vamos a um parque de diversões famoso pela iluminação e fofos de artifícios.

Parece algo que um casal faria para aproveitar a companhia um do outro.

Assim que descemos do carro e começamos a dar uma caminhada tranquila pelo parque senti uma vontade absurda de estar aqui com a Beatrice, ela adoraria esse lugar.

Sai da casa da família da Angélica tão rápido que nem mesmo conferi se a Bea estava dormindo. Tive medo de ser tão fraco que ao vê-la fosse desistir de sair.

— Você é calado assim mesmo?— A voz da Angélica ao meu lado chamou a minha atenção quando paramos em frente a uma tenda de tiro ao alvo com bichinhos de pelúcia como prêmio.

Olhei fixamente para um urso branco gigante que eu facilmente levaria para a Beatrice.

— Desculpa, não quis parecer rude.— Respondi voltando minha atenção diretamente para ela como forma de educação.

Eu devia ter ficado em casa, está mais do que na cara que esse passeio não vai ser dos melhores.

— Não por isso, é só que eu estou dando em cima de você desde que vocês chegaram, e você não olhou mais que duas vezes para mim, e em nenhuma delas tinha um pingo de interesse. Das duas uma, ou você é gay, ou me achou feia.— Angélica acusou em meio q uma brincadeira misturada com sinceridade e eu engasguei com a saliva antes de gargalhar impressionado em como ela consegue ser direta.

— per Dio, nem uma coisa nem a outra acredite.— Retruquei ainda rindo.

Primeira vez em dias que me sinto leve de verdade, quase sem preocupações.

— Então isso levanta uma terceira possibilidade: você está apaixonado por alguém. É isso?— Perguntou e me encarou com expectativa creptando em seus olhos.

Cocei a nuca um pouco constrangido por ser tão óbvio assim os meus sentimentos, mas confirmei com a cabeça.

— Fui pego em flagrante?— Perguntei para descontrair.

— Claro! E eu aposto o meu silenciador favorito que é por aquela Beatrice.— Arregalei os olhos assutado com a perspicácia da Angélica, espero que essa habilidade seja bem aproveitada por essa máfia.

Nem olhei diretamente para a Bea desde que chegamos, achei que estava completamente protegido de qualquer desconfiança.

— Eu me arrisco a dizer que não deixei isso claro.— Falei olhando para ela enquanto andamos aqui te uma barraquinha de comida.

Não conheço ao menos mais da metade, então deixei ela escolher o que vamos comer.

— Você não, mas ela sim. Achei que ela fosse me dar um tiro a qualquer momento.— Angélica não parece nem um pouco desapontada por eu não estar disponível para qualquer envolvimento com ela, isso me fez fazer uma nota mental de falar aos primos da Beatrice, Enzo e Lucien, que existem mulheres que não se irritam por receber uma recusa.

Eu também nunca tinha me reparado com essa realidade em particular.

— Ela bem que queria.— Respondi com sinceridade. Se a Beatrice pudesse teria dado um tiro na mulher a minha frente.

Me peguei imaginando a reação que ela pode ter ao saber que eu saí com a Angélica.

— Isso me levanta outra questão, se ela sentiu ciúmes então também te ama, mas por que vocês não estão juntos?— Questionou interessada quando sentamos em um banco próximo a roda gigante.

— Longa história Angélica, mas resumindo ela não confia em mim e me chutou por três anos.— Resumi de uma forma bem curta e simples, não vou contar tudo o que aconteceu entre nós dois, eu já acabei contando muito mesmo  sem pretender.

Acho que isso de deve ao fato de não ter ninguém com quem falar sobre isso.

— Não, isso não entra na minha cabeça de jeito nenhum. E tem mais, vou te ajudar.— Angélica retrucou parecendo determinada.

— Como assim?— Perguntei mordendo o lanche que não identifiquei o que é, mas é bem apimentado e muito gostoso.

— Mulher nenhuma aguenta muito ciúmes,  confia em mim a vai admitir que te ama.— Ela disse dando uma piscadela para mim.

Eu acho ri desacreditado, mas lhe dei carta branca.

Se ela conseguir esse milagre, vai ter salvo minha vida inteira.

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Onde histórias criam vida. Descubra agora