Beatrice Fontenelle
Quando o Henrique me perguntou o que eu quero senti uma vontade avassaladora de confessar que tudo o que eu quero é ele, mas me obriguei a sair correndo imediatamente para evitar me deixar levar.
Não são os mesmos motivos, mas ainda sinto que não consigo me declarar, sinto que não consigo abrir o meu coração. Acho que eu boicotei a minha felicidade por tanto tempo que agora me sinto constrangida ao ter vontade de agir de forma diferente.
Como se eu não merecesse.
Me tranquei dentro do quarto e fui rapidamente tomar um banho relaxante, depois de ter passado a tarde inteira no pier isso é tudo o que eu preciso.
Relaxar.
Preferi não comer nada antes de dormir, não por não estar com fome, mas sim por medo de encontrar o Henrique passeando pela andar de baixo ainda.
Não, é melhor ficar aqui em segurança, onde posso me ocupar com meus pensamentos e trabalhar o fato de que eu corro o grande risco de ter perdido o amor dele para sempre. Fora que amanhã temos uma visita ao ultimo galpão, não posso estragar a missão e a minha vida amorosa de uma única vez.
Fechei os olhos e em poucos minutos acabei adormecendo.
Me levantei mais cedo que todos na casa novamente, isso é b om, me concede tempo de sobra para me preparar da maneira correta.
É claro que a lagartixa desenxabida e sem graça vai participar da missão também, na verdade desde que ela conheceu o Henrique não tem sido capaz de se manter distante dele, e tem sido um esforço gigantesco manter as minhas mãos longe do pescoço dela.
Justamente por isso que preciso de tanta preparação, vou ter que me controlar muito para não acabar fazendo alguma besteira, e com alguma sorte poderemos ir embora hoje mesmo daqui e nunca mais voltar.
Uma batida leve soou atrás da porta que liga os quartos e eu gelei por saber de quem se trata.
Não respondi.
— Vamos comer alguma coisa antes de sair, e per favore não se comporte como uma criança mimada dessa vez, você esta indo a trabalho então haja de acordo.— Henrique conseguiu juntar um convite, um aviso e uma advertência na mesma frase, que maravilha. Me senti uma ameba, mas tudo bem.
Assenti com a cabeça e aparentemente essa era toda a resposta que ele precisava para se retirar tão rapidamente quanto entrou.
Sacudi a cabeça e peguei a minha arma antes de sair do quarto, não acho que vai ser necessário usa-la, mas por segurança a levarei.
Creio que haja um padrão aqui, Nicco pode ser muitas coisas, mas idiota não é uma delas. Suspeito que não passe mais de três dias em um lugar, a forma mais difícil de ser encontrado é sempre se mantendo em movimento. Justamente por saber disso que eu posso afirmar que não existe perigo nesse galpão no momento atual, ele já foi abandonado a um tempo de pelo menos cinco dias, vamos encontrar rastros é claro, e algum significativo eu espero, mas nada além disso.
Desci as escadas e não quis comer absolutamente nada de café da manhã, achei indigesto participar da mesa como se nada me incomodasse, então para evitar agir como uma criança mimada como fui acusada de fazer pelo próprio Henrique, eu esperei pelos dois do lado de fora.
Infelizmente o meu momento de pura solitude não durou por muito tempo, eles comeram rápido demais para não me deixarem esperando por muito tempo.
Quanta consideração.
— O que acontece se não encontrarmos nada hoje?— Angélica questionou e eu mesma fiz questão de responder.
— Ficaremos presos nesse fim de mundo até ter algum avanço.
— Talvez você aproveitasse mais a cidade se passasse mais tempo olhando em volta e menos tempo reclamando.— Ela retrucou dando de ombros tentando fazer parecer que foi apenas um comentário inocente.
Mesmo sabendo que foi muito mais que simples palavras eu escolhi me controlar e ser superior.
Apenas revirei os olhos e fingi que não ouvi nada.
Esse ultimo galpão fica a uma longa viagem de distância, em um loteamento abandonado e escondido pela vasta vegetação local encobrindo com perfeição o esconderijo.
Ele com certeza passou muito mais de três dias aqui, o lugar é quase uma batcaverna!
Entrei na frente mas fui rapidamente seguida, não me dei ao trabalho de ter a arma em punhos por que como eu disse, não existem perigos reais aqui, é mais como uma missão de exploração, reconhecimento e recolhimento de fatos do que uma de ação propriamente dita.
O lugar está inteiramente vazio, é claro, mas os computadores que foram furtados da nossa base de segurança ainda estão plugados.
— Tenta encontrar algo no computador, vou vasculhar os papeis e a Angélica vai verificar os fundos do galpão.— Henrique delegou as funções e sumiu das minhas vistas em seguida, tal qual sua amiguinha.
Revirei os olhos. Maravilha, ele me mandou fazer exatamente o que eu já iria fazer sem ordem alguma.
Vasculhei os arquivos e o HD interno do computador mas não encontrei nada, o disco rígido foi brutalmente deletado. Nicco certamente pensou que essa fosse uma decisão inteligente, e de fato seria se eu não tivesse uma carta na manga. Lucien, o melhor hacker de todos os tempos.
Enviei uma mensagem explicando de forma breve a situação e pedindo ajuda para ele, como a família inteira está focada na cerimonia de posse do comando que o Enzo está se preparando imagino que estejam todos meio que desocupados na maior parte do tempo.
Por sorte eu acertei na mosca, o Lucien não tardou a me responder com um simples " pluga o celular no computador e faz tudo o que eu falar". Obviamente obedeci com rapidez e logo depois do celular estar devidamente plugado o Lucien começou a enviar diversos códigos, números, algoritmos e não sei mais o quê. O fato é que ele conseguiu hackear o computador mesmo distância e como em um passe de magica apareceram três arquivos que anteriormente estavam deletados.
" Selecionei apenas os mais importantes, divirta-se. " A mensagem brilhou no visor do computador em letras verdes neon.
Como eu não faço a menor ideia de como ele fez isso decidi ir pelo caminho tradicional, voltei para a janela da nossa conversa no celular e digitei " você é uma aberração" em resposta.
" Sou um deus grego da tecnologia, agora pare de desafiar a minha benevolência e vá trabalhar."
Tentei enviar uma mensagem novamente, mas dessa vez quando eu apertei na setinha para enviar apareceu na própria tela do meu celular um aviso de bloqueio gigante dizendo que meu celular está bloqueado por vinte e quatro horas.
Eu vou matar o Lucien.
Deixei isso como uma tarefa extra para fazer depois e comecei a abrir os arquivos. No primeiro não tinha nada de muito importante, apenas uma rota totalmente organizada de todos os lugares onde se esconderam, no entanto o segundo arquivo fez os meus olhos saltarem das orbitas oculares.
— Henrique! Temos que voltar para casa agora, eu encontrei algo!
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Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle
Romansa⚠️ ESSE É O TERCEIRO LIVRO DE UMA SERIE, SE NÃO QUISER SPOILER DA UMA CONFERIDA NO VOLUME 1 E 2⚠️ Bea preferiria morrer antes de admitir que sempre teve uma paixonite platônica por Henrique, o chefe da segurança. Morreria dez vezes para não precisa...