Capítulo 6.

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O dia em que a família de Vegas se juntava para pedir pizza em seu apartamento com certeza era considerado um dos melhores dias da semana. Eles conversavam enquanto bebiam vinho tinto e comiam as grandes fatias com as mãos, rindo toda vez que Macau demonstrava sua desatenção ao deixar o recheio cair em sua roupa e a sujando de molho de tomate. Ele sempre foi um pouco desastrado desde criança, de qualquer maneira. Mesmo assim, a diversão e afeição entre eles pairava no ar com neutralidade a cada vez.

Menos nessa. Desta vez, as coisas realmente pareciam diferentes demais para passarem despercebidas.

Vegas conseguia disfarçar bem com eles, ou simplesmente se sentia acolhido por aquele carinho familiar e cotidiano, que o envolvia sem que ele precisasse dizer qualquer coisa. Era natural e aconchegante. Uma sensação que acalmava os ânimos e o fazia se sentir melhor. Porém, não podia fazê-lo esquecer cem por cento, mesmo que quisesse.

Assuntos aleatórios indo e vindo, eles já tinham terminado de jantar, apenas trocando algumas palavras sobre as aulas de Macau. O garoto parecia cada vez mais animado com as novas experiências, o que fez Vegas sorrir e parabenizá-lo por estar se saindo tão bem. Era surpreendente a diferença entre ambos nas mais pequenas coisas.

— Eu vou ao andar de baixo, okay? — o Theerapanyakul mais jovem se levantou, atraindo a atenção dos mais velhos enquanto teclava alguma coisa no celular. — Tenho um amigo da faculdade que mora nesse prédio. Quero ir falar com ele.

— Amigo? — Vegas ergueu a sobrancelha sugestivamente, desviando o olhar para encarar o pai de relance, sentindo a cumplicidade ser devolvida.

— Sim, senhores Theerapanyakul. Só um amigo, nada demais. — Macau estreitou o olhar para eles, observando quando os dois começaram a rir juntos. Embora parecesse ameaçador no ato, no fundo lhe fazia sorrir.

— Tudo bem, sem problemas. — Vegas suavizou.

— Não demore muito, daqui a pouco nós já vamos embora. — Gun disse para o mais novo em tom de advertência.

— Pode deixar. — Macau murmurou, saindo do apartamento com um sorriso divertido estampado nos lábios.

Após a deixa do filho mais novo, Gun virou-se para Vegas, erguendo as sobrancelhas.

— Será que é só amigo mesmo?

Vegas gargalhou, achando hilário a seriedade no questionamento curioso do pai.

— Deve ser, eu acho… não sei, Macau até hoje não conversou comigo sobre sexualidade. Não sei se ele gosta de garotos. — deu de ombros, batucando os dedos no tampo da mesa. — Por que acha que pode ser algo a mais? Ele já falou sobre isso com o senhor?

— Na verdade, não. Nunca conversamos sobre isso diretamente. — Gun analisou cautelosamente, inclinando a cabeça de modo pensativo. — E, bem, depois que fiquei sabendo sobre você, eu não tiro essa possibilidade dele. Quero dizer, não que eu ache que seria por sua causa, mas sim que estou aberto para qualquer descoberta. Não descarto essa hipótese, pois sei que isso é algo que não posso rotular por minha própria concepção. Só irei ter certeza no momento que ele disser algo, isso se ele se sentir à vontade para compartilhar. Vou apoiar ele de qualquer forma.

Com um sorriso de orelha a orelha e coração aquecido, Vegas assentiu para a fala do mais velho, sentindo uma animação contagiante no peito.

Dizer que isso o deixava feliz facilmente seria considerado um eufemismo. Ele sabia o quanto esse apoio que tinham do pai era importante, pois foram criados da melhor forma possível por ele, sempre tendo os sentimentos e emoções respeitadas, sempre sendo escutados. Gun amava e cuidava dos filhos como ninguém desde que Vegas se entendia por gente. E era, no mínimo, um alívio saber que Macau não precisaria passar pela fase da estranheza.

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