36-Tinta de cabelo

73 12 1
                                    

Los Angeles, é a porra de Los Angeles que eu odeio. Nessa última semana eu me entupi de qualquer coisa, e faz um tempo que não fico sóbria, e não durmo. A sensação é muito boa, tudo o que eu sinto é abafado, e eu não tenho que viver com a dor.

Só tenho que viver com a vergonha.

Eu não aguentava mais olhar para essa cidade, ela lembrava a minha banda, ela me lembrava Alex, me lembrava os momentos bons. E lembrar dos momentos bons é lembrar que acabou que agora só me sobraram os ruins, quando eu penso nisso eu faço outra carreira e ai eu cheiro.

Eu estava decidida, fiz minhas malas, uma mochila com o que sobrou das drogas no fundo, e minhas roupas em cima. E outra apenas com roupas. Joguei as malas na parte de trás do meu conversível.

Eu estava completamente fora da minha cabeça? Sim, eu nem sabia o que estava fazendo. Só peguei minhas coisas e comecei a dirigir. Por um dia inteiro, e ai eu dormi no meu carro. E depois eu cheirei um pouco de cocaína pra me manter acordada e bebi um pouco de champanhe. Eu não estava correndo com o carro por que eu tinha consciência de que poderia ser presa.

Depois de 42 horas eu cheguei em New York. Eu prometi a Alex que iríamos pra New York, mas eu não prometi que iria com ele. Eu me hospedei em um hotel qualquer, joguei minhas coisas na cama e tentei dormir. Mas na realidade eu fiquei umas 5 horas olhando para o teto, enquanto minha sobriedade voltava, as lágrimas quentes vieram junto. Era hora de cheirar outra carreira.

(...)

Eu estava andando pelas ruas agitadas de New York, estava frio pra cacete, eu sai sem algumas blusas já que meu corpo suava de calor. Entrei em um bar underground, estava tocando uma coisa mais blues. Nesses últimos dias eu não suportava ouvir música nem nada. Encostei no bar.

-Me vê dois copos de whisky - Pedi pro Barman, ele estava de costas para mim.

-Dois copos? - O cara se virou, ele parecia um adolescente - Eu conheço você.

-Não conhece não - Desviei o olhar, não queria ser reconhecida.

-Você é a vocalista...ex vocalista do Ghost Society - Revirei os olhos.

A uns dias atrás foi publicado uma carta aberta nas redes sociais sobre o anúncio de que eu sai da banda, e Tom deixou bem claro que foi por conflitos internos entre a vocalista e a banda, ele definitivamente me excluiu. Quando eu li aquilo eu estava quase sóbria, joguei meu celular pela sacada.

-Só me traz logo essa bebida.

Ele me deu os dois copos, enchi a garrafa que eu levava comigo, e deixei o dinheiro no balcão. Eu queria fazer essas coisas sem julgamentos, foi quando passei por uma loja de cosméticos. Lá estava várias tintas de cabelo, peguei um descolorante e um tonalizante. Paguei pelas coisas e peguei a sacola, indo em direção ao hotel.

Bebi toda a garrafa de whisky enquanto preparava a mistura entranha. Olhei meu reflexo no espelho do banheiro. Não parecia a mesma pessoa que eu era em Julho no Glastonsbury, que se foda. Eu não sou a mesma pessoa!

Peguei a tesoura e passei nas pontas vendo todo aquele cabelo laranja cair na pia. Continuei cortando até ele estar da altura do ombro. Peguei a tinta e passei apressada por todo o cabelo. Deixei aquela coisa agindo enquanto fui pegar mais bebida no frigobar. Peguei uma garrafinha de Gin e bebi tudo antes de jogar em um canto do quarto.

No fim da noite eu estava com os cabelos descoloridos, quase brancos, e muito álcool nas minhas veias.

Ghost Society | Alex TurnerOnde histórias criam vida. Descubra agora