Sempre foi você - Pejão

Você superou?

Pov Pedro

Ele nos levou até um restaurante mexicano, não muito cheio, e entramos e pegamos uma mesa perto da janela. A toalha de mesa tinha uma mancha e sem querer pensei se seria um lugar adequado para comer.

— Imagino que você nunca veio aqui antes. - ele diz me olhando.

— Por que acha isso?

— Você está encarando essa mancha, e imagino que pensando se é um lugar seguro pra comer haha.

— Ok, você me pegou haha.

— A comida é ótima, eu vinha várias vezes depois da escola com uns amigos, eu sempre quis que você pudesse vir aqui comigo.

— Isso é fofo. - eu sorrio. - O que você pode comer daqui? Não acho que tenha muita opção vegetariana.

— Não muitas, mas tem algumas coisas que eu posso comer. E então como você tá se sentindo? Emocionado? Ansioso?

— Um pouco de tudo, vai ser interessante estar na minha própria casa.

— Boa tarde, já sabem o que vão pedir? - a garçonete pergunta.

— Eu ainda não olhei o cardápio. - eu respondo.

— Sem problemas, quando decidirem é só me chamar. - ela sorri e sai.

— Vai ser ofensivo de eu pedir frango?

— Óbvio que não, pede o que quiser.

Chamamos a garçonete e fizemos nossos pedidos, alguns minutos depois ela trouxe nachos que são por conta da casa. Ficamos um pouco em silêncio comendo.

— Há meses atrás você imaginou que estaríamos aqui sentados juntos comendo, como se nada tivesse acontecido? - eu pergunto quebrando o silêncio e ele negou com a cabeça.

— Antes de vir pra cá eu estava contado para os meus melhores amigos porque eu evitava voltar.

— Sinto muito por isso...

— Tranquilo, eu tava contando e eu nunca tinha falado de você, de nós, de quando éramos mais novos, eu botei na minha cabeça que eu mal lembrava da gente.

Não respondi nada, só continuei olhando para ele esperando que ele continuasse.

— E foi uma surpresa pra mim que enquanto eu contava eu percebi que eu não  tinha esquecido nada, tava tudo guardado na minha memória. E eu tentei por muito tempo não pensar em tudo isso.

— O que quer que eu te diga? - eu pergunto e ele levanta os ombros.

— Contar nossa história pra eles foi o que eu precisava pra entender tudo, como foi estranho nunca conversar sobre o que tivemos, nos 7 anos que eu morei lá, nos 7 anos que convivemos juntos sempre soubemos que não daria em nada. E foi bom poder falar disso com alguém, me ajudou a deixar as coisas em perspectiva e me ajudou a superar.

— E você superou?

— Sim.

Aquelas palavras teriam sido como uma faca no meu peito se eu não o conhecesse tão bem para saber que ele estava mentindo. Talvez seria mais fácil para nós dois fingir que não existia mais nada entre os dois.

— Eu também. - respondi e ele concordou com a cabeça.

Nesse momento nossos pedidos chegaram e começamos a comer novamente em silêncio, e novamente eu ia tentar quebrar o silêncio desconfortável.

— Posso te perguntar uma coisa? - eu pergunto sorrindo e ele concorda com a cabeça. - Você realmente participou de uma orgia de 7 pessoas em Barcelona? - nós começamos a rir.