Capitulo 7

236 7 0
                                    

No outro dia, um domingo sem brilho, acordei tarde. Passava


das dez da manhã, quando me sentei à beira da cama e tirei os


primeiros acordes do saxofone. Estava tocando, quando bateram à


porta. Era Maria.


- Caio, o Antônio pediu-me para que o avisasse: sua mãe e


sua avó pediram para que ele as levasse à casa de sua namorada -


confidenciou ela, assim que abri a porta.


- Mamãe?! - indaguei estupefato.


- Sim. Estão saindo... - acrescentou, dirigindo-se à janela


do meu quarto. - Veja!


Ainda vi o carro, como um vulto azul, dobrando à direita do


portão.


- Foi sua avó quem exigiu... - comentou Maria - Eu as vi


conversando na mesa enquanto tomavam café.


- Obrigado por se preocupar comigo. Mas não tenho nada a


temer. Elas vão encontrar a menina mais doce do mundo. E melhor


assim: conhecendo-a, quem sabe não me deixam em paz, hein?


Ela concordou sem convicção, depois saiu.


Voltei ao meu sublimador de emoções.


Naquele domingo, o almoço foi servido um pouco mais


tarde. Eu já me encontrava sentado quando vovó chegou, bufando


como um touro. Mamãe estava com uma expressão de severidade,


tinha um rosto pétreo.


- Maria disse-me que tinham ido à casa de Caressa? -


perguntei-lhe.


A resposta de mamãe foi tão áspera quanto sua feição:


- Não toque nesse assunto agora, não quero perder o apetite.


Se é que ainda me sobrou algum!


Acatei-lhe o pedido. A exceção de um ou outro resmungo de


protesto de vovó, o almoço transcorreu no mais absoluto silêncio.
Após o almoço, mamãe determinou que eu a acompanhasse à


biblioteca. Assim o fiz. Ela fechou a porta.


- Sente-se! - disse. Ela permaneceu em pé, suspirou e deu


início à ladainha:


- Onde você encontrou essa menina, Caio?


- Eu não a encontrei! Eu a conheci numa festa de


aniversário.


- Não me lembro de tê-lo autorizado ir a alguma festa de


aniversário.


- Porque eu não lhe pedi autorização.


- Ah, muito bem!


Houve um momento de silêncio e tensão.


- Com certeza deve estar sabendo que ela pertence a uma


"renomada família de feiticeiros?".


- A família dela nada tem a ver com isso. O terreiro no

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora