No outro dia, um domingo sem brilho, acordei tarde. Passava
das dez da manhã, quando me sentei à beira da cama e tirei os
primeiros acordes do saxofone. Estava tocando, quando bateram à
porta. Era Maria.
- Caio, o Antônio pediu-me para que o avisasse: sua mãe e
sua avó pediram para que ele as levasse à casa de sua namorada -
confidenciou ela, assim que abri a porta.
- Mamãe?! - indaguei estupefato.
- Sim. Estão saindo... - acrescentou, dirigindo-se à janela
do meu quarto. - Veja!
Ainda vi o carro, como um vulto azul, dobrando à direita do
portão.
- Foi sua avó quem exigiu... - comentou Maria - Eu as vi
conversando na mesa enquanto tomavam café.
- Obrigado por se preocupar comigo. Mas não tenho nada a
temer. Elas vão encontrar a menina mais doce do mundo. E melhor
assim: conhecendo-a, quem sabe não me deixam em paz, hein?
Ela concordou sem convicção, depois saiu.
Voltei ao meu sublimador de emoções.
Naquele domingo, o almoço foi servido um pouco mais
tarde. Eu já me encontrava sentado quando vovó chegou, bufando
como um touro. Mamãe estava com uma expressão de severidade,
tinha um rosto pétreo.
- Maria disse-me que tinham ido à casa de Caressa? -
perguntei-lhe.
A resposta de mamãe foi tão áspera quanto sua feição:
- Não toque nesse assunto agora, não quero perder o apetite.
Se é que ainda me sobrou algum!
Acatei-lhe o pedido. A exceção de um ou outro resmungo de
protesto de vovó, o almoço transcorreu no mais absoluto silêncio.
Após o almoço, mamãe determinou que eu a acompanhasse à
biblioteca. Assim o fiz. Ela fechou a porta.
- Sente-se! - disse. Ela permaneceu em pé, suspirou e deu
início à ladainha:
- Onde você encontrou essa menina, Caio?
- Eu não a encontrei! Eu a conheci numa festa de
aniversário.
- Não me lembro de tê-lo autorizado ir a alguma festa de
aniversário.
- Porque eu não lhe pedi autorização.
- Ah, muito bem!
Houve um momento de silêncio e tensão.
- Com certeza deve estar sabendo que ela pertence a uma
"renomada família de feiticeiros?".
- A família dela nada tem a ver com isso. O terreiro no