Capitulo 29

166 11 0
                                    

As sextas-feiras sempre têm tristes mistérios para nos revelar.

Foi assim naquela sexta-feira, 25 de junho. Caressa apareceu de

repente em minha casa. Eu estava trancado na biblioteca. Ela bateu

muitas vezes, nervosa, chamando por mim. Quando abri a porta e a

olhei, soube no mesmo momento que sua mãe tinha cometido o gesto

mais vingativo de sua vida. Ela chorava copiosamente. Encostou a

porta com as costas. A diáfana luz do abajur incidia em seu rosto,

acentuando o desespero em suas feições.

- Caio, minha mãe está bêbada... - deu uma pausa para

engolir os soluços e enxugar as lágrimas - Ela diz... Ela diz que

vocês se conheceram há muito tempo. E verdade?

Depois de lutar com a angústia e a dúvida, respondi-lhe:

- Sim. E verdade...

O semblante dela tomou-se ainda mais triste do que já estava.

Depois de uma pequena pausa ela tomou fôlego e perguntou:

- Você é o meu pai?

Olhei nos olhos dela e a consciência da tragédia caiu sobre

mim como se o globo terrestre desabasse sobre meus ombros. As

lágrimas molhavam-me o rosto. O sofrimento e a separação

irreconciliável estavam suspensos por um frágil fio, suspenso por

uma única palavra; a palavra que eu era obrigado a pronunciar:

- Sim...

Ela deu um gritinho abafado, encobriu o rosto com as palmas

das mãos e jogou-se na poltrona, chorando. Fiquei em silêncio.

Algum tempo depois, ela conteve o choro e se levantou como se se

sentisse refeita do choque. Colocou-se diante de mim com olhos

súplices:

- Diz que tudo isso é mentira! Diz, por favor...

Meu silêncio foi a resposta.

- Então diz que me ama! Diz que apesar de tudo ainda me

ama!

- Ainda te amo! Muito..

- Ama-me do mesmo modo que me amava, Caio? Como

um homem ama uma mulher?

Diante do meu silêncio, ela gritou:

- Diz que sim, Caio!

- Amo-a de uma maneira muito mais intensa do que um

homem é capaz de amar uma mulher. Eu te amo como um pai ama

uma filha.-

Mentira! - gritou ela -Você não admite, mas me ama

como uma mulher!

Dei-lhe as costas.

- Não tome as coisas mais difíceis e dolorosas do que já

fttão sendo... - murmurei.

Ela saltou em mim e me abraçou, espremendo o rosto úmido

cm meu peito.

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora