Capitulo 30

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Tive um sono irrequieto durante a noite de sábado para domingo, de agosto. A tristeza de Caio Graco tinha me perturbado demais o espírito.

Levantei tarde, quase meio-dia. Passava um pouco das duas

da tarde quando cheguei à casa de Caio. Procurei-o na biblioteca,

mas ela se encontrava vazia. O "Retrato de Caressa", que, até à noite

anterior, tinha espaço cativo na sala, agora se encontrava na parede

da biblioteca. Sobre a mesa havia um saxofone. Peguei o instrumento

e soprei uma nota desafinada. Percebi uma parte amassada. Ocorreume

que aquele era o saxofone que Caio mencionara em sua narrativa.

O instrumento que tocava quando adolescente. A voz de Antônio

irrompeu na biblioteca.

- Este é um instrumento muito querido pelo meu patrão -

observou da porta. Caminhou em minha direção e pegou o sax, com

um sorriso nas feições.

- Antes das sete da manhã Caio já estava tocando no alto da

figueira. Há muito tempo que eu não o via tocar o saxofone.

- Caio... tocando? - indaguei surpreso.

- Sim. Tocou muitas vezes uma canção que costumava

tocar quando era menino.

- E onde ele está agora?

- Saiu. Não me disse para onde ia. Primeiro saiu com o Alfa

Romeo. Retomou só para trocar de carro. Está com o carro branco...

Depois de um instante em silêncio acrescentou, sorrindo:

- Enfim, ele se barbeou....

- Barbeou-se?

- Sim. E também se vestiu com esmero. Está parecendo um

noivo, acho que ele venceu a depressão.

- Tudo indica que venceu...

Não quis dizer a palavra que me veio a cabeça, mas o que me ocorreu não foi que Caio tinha vencido a depressão, mas a morte.

- Ele deixou algum recado parta mim?

- Disse para que descanse, hoje. E que levasse as fitas para

começar a redação a partir de amanhã.

- Então, hoje realmente é um dia de domingo! Creio que vou gastar minha tarde de uma outra maneira.

Antônio sorriu.

- Acho que sim.

Tomei um táxi e retornei para casa. Apesar de não se estar no

inverno, a tarde era fria. O tempo estava agradável. Esperei o sol se

pôr e, pouco mais de seis da tarde, fui até o "Bar dos Miseráveis". Ali

tomei duas doses de Domecq, uma cerveja e comi uma porção de

salame. Não fiquei muito tempo, voltei para casa antes das nove com

0 mundo girando ao meu redor. Lancei-me à cama e dormi.

Foi preciso que dona Joana batesse com força e insistência

para que eu acordasse. Quando levantei, conferi a hora no relógio:

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora