Durante toda a semana, tentei me convencer de que tudo não
passava de um medo infundado, uma loucura. Mas, não tinha
coragem de ir à casa de Regina e perguntar-lhe quem era o pai de
Caressa.
Certa tarde, tomei coragem e fui procurar Gina. Estacionei na
frente da casinha miserável. O portão estava escancarado. A porta
estava apenas encostada. Empurrei-a e entrei. Era a cozinha. A
mobília era deprimente, o ar recendia a fumaça de cigarro e álcool.
Uma mulher saiu do quarto com olhos vermelhos, entre os dedos
segurava um cigarro. Era Regina, mãe de Caressa. Era ela, Gina,
prima de Caressa.
- Caio Graco... há quanto tempo! - disse com voz
arrastada. Limitei a fitá-la - Quando Caressa me falou seu nome
suspeitei que fosse você... Quando vi aquele carro azul parado na rua,
tive certeza de que era você.
- O único amor de minha vida... - continuou ela. - Agora
é o noivo de minha filha. Querem se casar, não é mesmo? Felizes
para sempre!
Gina desatou num riso histérico. Quando se conteve estava
enxugando as lágrimas. Um risinho de ironia e satisfação surgiu nos
seus lábios.
- Parece que Deus escreveu nos livros sagrados, que nossos
destinos haveriam de se cruzar por toda nossas vidas.
- Suspeito que não! - respondi com firmeza, procurando
dissimular meu ódio - Talvez, tenha sido outra força que cruzou os
nossos destinos, que um dia a colocou diante de mim.
Ela assentiu com um movimento de cabeça:
- O diabo, talvez!
O cigarro, entre os dedos, tinha se acabado. Ela acendeu
outro e jogou a bituca no chão. Pôs-se a lançar, com desleixo, baforadas de fumaça no ar.
- Responda-me uma coisa, Gina... Sua prima, alguma vez,
lhe disse algo sobre um maço de rosas, que comprei para ela na frente
do cinema?
- Sim. - respondeu ela. Eu tremi - E também de como
cia jogou o maço de rosas pela janela do carro. - acrescentou
desdenhosa.
- E você disse isso à sua filha? - murmurei.
- Devo ter dito, não tenho certeza...
Houve um instante de opressivo silêncio.
- Por que você colocou esse nome na menina?
- Por quê? - soltou um riso irônico - Porque pensei que
fosse gostar... Eu gosto desse nome. Caressa. E diferente, não?...
- Não estou aqui para brincadeiras, Gina! - Ela me
interrompeu:
- Ainda se lembra do meu apelido?
Prossegui, enérgico: