Capitulo 28

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Durante toda a semana, tentei me convencer de que tudo não

passava de um medo infundado, uma loucura. Mas, não tinha

coragem de ir à casa de Regina e perguntar-lhe quem era o pai de

Caressa.

Certa tarde, tomei coragem e fui procurar Gina. Estacionei na

frente da casinha miserável. O portão estava escancarado. A porta

estava apenas encostada. Empurrei-a e entrei. Era a cozinha. A

mobília era deprimente, o ar recendia a fumaça de cigarro e álcool.

Uma mulher saiu do quarto com olhos vermelhos, entre os dedos

segurava um cigarro. Era Regina, mãe de Caressa. Era ela, Gina,

prima de Caressa.

- Caio Graco... há quanto tempo! - disse com voz

arrastada. Limitei a fitá-la - Quando Caressa me falou seu nome

suspeitei que fosse você... Quando vi aquele carro azul parado na rua,

tive certeza de que era você.

- O único amor de minha vida... - continuou ela. - Agora

é o noivo de minha filha. Querem se casar, não é mesmo? Felizes

para sempre!

Gina desatou num riso histérico. Quando se conteve estava

enxugando as lágrimas. Um risinho de ironia e satisfação surgiu nos

seus lábios.

- Parece que Deus escreveu nos livros sagrados, que nossos

destinos haveriam de se cruzar por toda nossas vidas.

- Suspeito que não! - respondi com firmeza, procurando

dissimular meu ódio - Talvez, tenha sido outra força que cruzou os

nossos destinos, que um dia a colocou diante de mim.

Ela assentiu com um movimento de cabeça:

- O diabo, talvez!

O cigarro, entre os dedos, tinha se acabado. Ela acendeu

outro e jogou a bituca no chão. Pôs-se a lançar, com desleixo, baforadas de fumaça no ar.

- Responda-me uma coisa, Gina... Sua prima, alguma vez,

lhe disse algo sobre um maço de rosas, que comprei para ela na frente

do cinema?

- Sim. - respondeu ela. Eu tremi - E também de como

cia jogou o maço de rosas pela janela do carro. - acrescentou

desdenhosa.

- E você disse isso à sua filha? - murmurei.

- Devo ter dito, não tenho certeza...

Houve um instante de opressivo silêncio.

- Por que você colocou esse nome na menina?

- Por quê? - soltou um riso irônico - Porque pensei que

fosse gostar... Eu gosto desse nome. Caressa. E diferente, não?...

- Não estou aqui para brincadeiras, Gina! - Ela me

interrompeu:

- Ainda se lembra do meu apelido?

Prossegui, enérgico:

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora