Capitulo 24

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Por volta das duas da tarde, já me encontrava angustiado ante

possibilidade da Caressa faltar à aula de sexta-feira. A idéia de que, caso ela faltasse, eu só a reveria três dias depois me colocava em

verdadeiro pânico. Quando saí de casa com destino à escola o anseio

de vê-la era tão intenso que dirigi às cegas, meio sem rumo e quando

dei por mim estava fazendo um itinerário completamente diferente ao

que estava habituado. Estava passando pela rua onde havia deixado Caressa. Assim que percebi estar naquela rua, passei a observar com atenção as calçadas. Duas quadras depois eu a vi. Caminhava

cabisbaixa, os cadernos abraçados ao peito. Eu a segui, por uns

duzentos metros e, depois, aproximei-me. Buzinei. Ela parou, voltou-se

para trás e me olhou com a expressão mais triste, que jamais tinha

visto em seu rostinho. Voltou a baixar a cabeça e continuou andando.

Saltei do carro e corri para ela.

- Caressa...

Ela não levantou a cabeça, arfava de maneira contida.

Coloquei o dedo em seu queixo e o ergui. Seus olhos estavam

vermelhos, lacrimosos. Os lábios se contraíam, nervosamente. Eu

pressenti uma explosão de lágrimas e a envolvi com ternura em meus

braços. Ela chorou baixinho.

- O que foi? O que aconteceu?

- Minha mãe... Minha mãe está bêbada...

- Sinto muito... Gostaria de poder ajudá-la.

Ela enxugou os olhos.

- Ninguém pode ajudá-la. Só ela mesma...

Suspirou e continuou se desabafando:

- Eu sempre falto às aulas quando ela se embriaga. Tinha

prometido para mim mesma, que não faltaria mais. Quando peguei os

cadernos para sair, ela implorou para que ficasse. Quando eu lhe

disse que não ficaria... ela me xingou com palavrões horríveis...

- Fez bem em sair.

- Tenho medo de deixá-la sozinha, professor... Quando ela

sai bêbada pelas ruas sempre apronta escândalos.

- Não seja tão responsável por aquilo que não pode mudar.

Seus lábios prenunciaram o choro.

- Estava indo para a escola... - disse, abrindo a porta do

carro - Entre! Posso levar você até lá.

Ela entrou. Sentei-me ao volante. A olhei em silêncio.

- Não quero ir à escola... - murmurou com voz

entrecortada.

- Quer que a leve para casa de algum parente?

Ela balançou a cabeça, recusando. Liguei o carro e arranquei.

- Vou levá-la para ver algo de que, tenho certeza, vai

gostar.

Minutos depois o portão de casa se abria para a passagem do

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora