Capitulo 21

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O inconsciente possui estranhos mecanismos para fazer com


que impulsos se realizem. Na noite de segunda para terça-feira minha


alma se debateu tanto em sua opressiva gaiola, que meu corpo


amanheceu adoecido. Acordei com calafrios e febre de 38 graus.


Segundo Antônio, desde a madrugada, ele permanecera à beira de


minha cama, colocando compressas geladas em minha fronte para


baixar uma febre de quase 40 graus. Eu podia sentir em meu corpo a


fria umidade do suor.


- Agora está melhor, patrão...


- Pesadelos, Antônio... horríveis pesadelos... e sonhos


maravilhosos.


- Pelas coisas que dizia posso imaginar... - disse ele.


Maria enxugava-me a testa em circunspecto silêncio.


- Foram tantos sonhos e pesadelos... Caressa, Antônio...


Não, não quero lembrá-los.


- Foram delírios produzidos pela febre, apenas isso!


- Delírios... Não! Foram sonhos. Mais que sonhos, foi uma


viagem por lugares distantes. Uma viagem pelo além.


- O médico me disse que chegaria antes das nove. Daqui a


pouco deve estar por aqui.


Maria ausentou-se do quarto com a bacia d5água. Puxei o


braço de Antônio para junto de mim:


- Um dia, você me disse que acreditava na reencamação.


Ainda crê?


- Sim, patrão, ainda creio!


- Lembra-se do que o espírito de Caressa me disse naquela


sessão mediúnica? E o outro espírito de luz?


- Lembro-me.


- Então diga, Antônio!


- Que voltaria. Que ela já havia reencamado.


- Sim, Antonio... foi com isso que sonhei. Esta noite meu
espírito deixou meu corpo para mostrar por onde ela tinha passado.


Meu espírito foi buscá-la além do portão da morte. Meu amor trouxe-


a de volta à vida... Lembra-se do dia que faltou combustível ao Alfa-


Romeo, Antônio?


- Sim.


- Naquele dia eu a vi, e você não acreditou em mim... No


dia em que faltou gasolina no Alfa Romeo... Não é estranho que


justamente o Alfa-Romeo me levasse ao encontro dela? Diga,


Antônio, não é estranho? Pois bem, eu ainda tentei evitar revê-la.


Tinha prometido que não voltaria procurá-la na frente de sua escola.


E sabe o que aconteceu, Antônio? Alguma coisa mais forte que


minha promessa a levou até à escola onde leciono e a colocou na


minha sala de aula, sentada na carteira em frente à minha mesa. Sim,

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora