Capitulo 4

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Quinta-feira, 5 de julho de 1978


Despertei cedo, tomei banho, fui à copa e tomei o café da


manhã junto com vovó, que tinha por hábito estar à mesa, no


máximo, às 7h30. E incrível como vovó consegue manter o silêncio


por tanto tempo. Ela pouco me dirige a palavra. Naquele dia, estava


tão feliz que não pude resistir ao desejo de sorrir-lhe.


- Bom-dia, vovó!


Ela me olhou sobre as lentes grossas dos óculos, com uma


cara rancorosa e depois voltou a lambuzar o pão com patê. Senti


uma vontade quase incontrolável de gritar-lhe: Vovó, eu estou feliz,


muito feliz, sabia?! Mas não ousei, não tinha coragem, depois talvez


ela não guardasse em suas lembranças qualquer forma de sensação


que pudesse permitir-lhe o entendimento dessa expressão.


À tarde, mamãe queria me vestir com os tradicionais ternos


"cafonas":


- Caio, meu querido, você tem que estar elegante. Tem que


se apresentar com aparência de um rapaz honesto e de boa família.


Moças de respeito apreciam a sobriedade, a maturidade de um belo


terno.


Era inconcebível encontrar Caressa com aquele terno; aquilo


me envelhecia demais!


- Sim mamãe... mas, ocorre que a família dela é muito


humilde; ela talvez aprecie, mas os pais e irmãos dela podem me


considerar um esnobe... Não quero que pensem que sou um riquinho


arrogante e pretensioso. - Mamãe abraçou-me:


- Como você é sensível, meu rapazinho. Então está bem.


Mas não vou dispensá-lo de uma boa camisa social e uma calça de

linho.


Assenti. Ao menos, havia me livrado do paletó cafona.
Mamãe deu as últimas instruções ao motorista:


- Antônio, muito cuidado pelas ruas... e não saia de perto do


meu menino. A periferia é um lugar infestado de marginais e, por


isso, é muito perigoso.


- Sim, dona Rute.


- Quando terminar o culto, leve-os à casa da moça e entre


com ele na residência dela...


- Sim, dona Rute.


- Você sabe que o Caio ainda é um menino, apesar do


tamanho, por isso não o deixe sozinho.


- Farei tudo como a senhora está mandando, dona Rute.


- Então, vai... e cuidado!


Mamãe abriu a porta do carro e me beijou no rosto.


- Quando conversar com os pais da moça tome cuidado

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora