EpílogoNovembro de 1993

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Quatro meses depois eu ainda não conseguia acreditar

naquilo que tinha ouvido, gravado e redigido. Não conseguia

acreditar na história narrada por Caio Graco. Uma certa tarde peguei

o endereço com Antônio e desci à casa de praia. Lá estava o barco, a

pequena praia particular, a encosta rochosa, a areia, o sol. Tudo

testemunhando as palavras de Caio. Sabia que tudo era verdade. Dois

corpos jaziam na mesma sepultura para provar a veracidade dessa

história e desse amor. Tudo isso ainda não era suficiente para dar

veracidade à sua história. Ainda assim, tudo me parecia inacreditável.

Eu tinha revisado o texto, mas não o considerava completo.

Não sabia exatamente o quê, mas alguma coisa naquela história não

linha me convencido, soava falso, absurdo.

Já tinha abandonado minhas buscas e engavetado o texto da

história de Caio e Caressa quando resolvi procurar por Regina, mãe

de Caressa. Afinal, ela tinha importância crucial nessa história. Não

sabia o seu endereço. Pelas descrições e referências citadas por Caio

não foi difícil para que eu chegasse a uma pequena casa, num bolsão

de miséria, muito próximo ao bairro do Morumbi. A aparência

externa da casa era de abandono, uma placa pregada na parede

oferecia o imóvel para locação. Bati palmas insistentemente e já tinha

aberto a porta do carro para ir embora, quando a vizinha olhou por

sobre o muro.

- Não tem ninguém aí... - informou a mulher - se quer

alugar a casa tem que ir à imobiliária da placa.

- Não quero alugar a casa. - respondi-lhe - Estou

procurando por uma mulher chamada Regina.

- A mãe da menina que se matou?

- Sim. Ela morava aqui?

- Morava. Ela bebia muito, era meio louca...

- Pode me dizer onde ela está morando agora?

- No hospício. Faz uns dois meses que ela foi internada no no hospício.

- Internada? Sabe o nome do hospício?

- O nome não sei dizer. Sei que fica na cidade de Barueri.

- Está ótimo. Muito obrigado.

Liguei para a Secretaria Estadual de Saúde e consegui o

endereço da única casa de saúde mental estabelecida naquela cidade

No outro dia, manhã de sábado, me à clínica. Apresentei-me

na recepção e fui conduzido a um quarto coletivo. Regina estava

dormindo, sob o efeito de sedativos. A enfermeira me informou que

ela demoraria um pouco para acordar. Mas acordaria calma. Era uma

mulher de pele clara e envelhecida, o cabelo mal tratado ostentava

um louro oxigenado. Disse à enfermeira que voltaria mais tarde.

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora