Quatro meses depois eu ainda não conseguia acreditar
naquilo que tinha ouvido, gravado e redigido. Não conseguia
acreditar na história narrada por Caio Graco. Uma certa tarde peguei
o endereço com Antônio e desci à casa de praia. Lá estava o barco, a
pequena praia particular, a encosta rochosa, a areia, o sol. Tudo
testemunhando as palavras de Caio. Sabia que tudo era verdade. Dois
corpos jaziam na mesma sepultura para provar a veracidade dessa
história e desse amor. Tudo isso ainda não era suficiente para dar
veracidade à sua história. Ainda assim, tudo me parecia inacreditável.
Eu tinha revisado o texto, mas não o considerava completo.
Não sabia exatamente o quê, mas alguma coisa naquela história não
linha me convencido, soava falso, absurdo.
Já tinha abandonado minhas buscas e engavetado o texto da
história de Caio e Caressa quando resolvi procurar por Regina, mãe
de Caressa. Afinal, ela tinha importância crucial nessa história. Não
sabia o seu endereço. Pelas descrições e referências citadas por Caio
não foi difícil para que eu chegasse a uma pequena casa, num bolsão
de miséria, muito próximo ao bairro do Morumbi. A aparência
externa da casa era de abandono, uma placa pregada na parede
oferecia o imóvel para locação. Bati palmas insistentemente e já tinha
aberto a porta do carro para ir embora, quando a vizinha olhou por
sobre o muro.
- Não tem ninguém aí... - informou a mulher - se quer
alugar a casa tem que ir à imobiliária da placa.
- Não quero alugar a casa. - respondi-lhe - Estou
procurando por uma mulher chamada Regina.
- A mãe da menina que se matou?
- Sim. Ela morava aqui?
- Morava. Ela bebia muito, era meio louca...
- Pode me dizer onde ela está morando agora?
- No hospício. Faz uns dois meses que ela foi internada no no hospício.
- Internada? Sabe o nome do hospício?
- O nome não sei dizer. Sei que fica na cidade de Barueri.
- Está ótimo. Muito obrigado.
Liguei para a Secretaria Estadual de Saúde e consegui o
endereço da única casa de saúde mental estabelecida naquela cidade
No outro dia, manhã de sábado, me à clínica. Apresentei-me
na recepção e fui conduzido a um quarto coletivo. Regina estava
dormindo, sob o efeito de sedativos. A enfermeira me informou que
ela demoraria um pouco para acordar. Mas acordaria calma. Era uma
mulher de pele clara e envelhecida, o cabelo mal tratado ostentava
um louro oxigenado. Disse à enfermeira que voltaria mais tarde.