Capitulo 9

364 11 0
                                    

Foi uma quinta-feira terrível. Não pude ir à casa de Caressa.


Minha avó participaria de uma reunião do conselho administrativo da


empresa, de modo que ocuparia o motorista até à noite. A simples


idéia de estar privado da presença de Caressa, mesmo que fosse por


um único dia, provocava-me uma incontrolável agonia. A síndrome


de abstinência se tornou ainda mais pungente em tomo de nove horas


da noite. Julguei enlouquecer de desejo. Minha vontade era de sair


correndo em direção à casa dela e só descansar em seus braços. Mas


superei as longas horas de sofrimento e, creio eu, dormi por volta das


onze da noite. Chegou a sexta-feira. Sexta-feira prenhe de maus


presságios e do mal. A noite, ao chegar à casa dela, encontrei sua


mãe no portão. Estava agitada. Dona Solange estava pálida, trêmula.


Explicou-me o motivo de tanta angústia:


- Oh, Caio, ainda bem que você chegou.Eu estava mesmo


ansiosa para vê-lo.Você não sabe o que aconteceu... Ontem, dei pelo


desaparecimento de uma peça de roupa de Caressa... Não sei como


isso pôde acontecer. Eu tomo tanto cuidado!


Até então eu não havia entendido nada. Sorri, consolador e


disse-lhe:


- Para que se martirizar por uma peça de roupa? Não se


preocupe com isso. Depois se compra outra!


- Ah, Caio, meu generoso Caio, você não entendeu... - a


mulher olhou para a porta da sala da casa da irmã de Elimar,


cochichou: - Sumiu uma peça íntima de Caressa!


Eu sorri enrubescido, perguntei:


- E daí?


- Você ainda não entendeu o motivo da minha


aflição...Tenho medo de que esses aí façam mal à minha filha!


Sorri incrédulo ante a superstição da mulher.


- Não haverão de fazer-lhe nada. Fique calma, dona


Solange.
Caressa está?


-- Oh, me desculpe, o estou retendo com os meus pavores


enquanto sua namorada espera por você... Aliás, hoje ela está


incrivelmente geniosa. Venha! Vamos descer. A pobrezinha está


assustada, também não é para menos... Veja o que essa gente cruel


está planejando para esta noite... - acrescentou, cochichando quase


que com a boca fechada: - Vão sacrificar o bichinho!


Ela se referia a um bode preto que se encontrava amarrado à


porta da sombria casinha. O animalzinho estava voltado para o fundo


do quintal e, ao voltar-se para o meu lado, se pôs a berrar num timbre


de dor e medo.

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora