Minha vida foi marcada por um longo e tenebroso inverno de
quatorze anos, que se estendeu de 31 de julho de 1978 a 23 de
setembro del992. De repente, chegou ao fim. Surgiu a primavera.
Primavera de pôr-do-sol flamejante. Primavera de flores. Primavera
de chuvas súbitas que antecedem o verão. Primavera de lirismo e
sonhos.
Era 24 de setembro de 92, uma quinta-feira, manhã
ensolarada do segundo dia de primavera. No dia anterior, Antônio,
que conhecia bem a mecânica do velho Alfa-Romeo, desde manhã,
tentava em vão, resolver um problema em seu carburador. No início
da tarde, ele jogou a toalha e me aconselhou a procurar uma
mecânica autorizada para fazer a reposição das peças condenadas ou
promover a substituição do carburador. Olhando em seu rosto suado,
eu sorri ante sua determinação. Agradeci seus esforços e disse-lhe
que fechasse o capô. Liguei para a concessionária e solicitei o
endereço da oficina autorizada mais próxima da minha casa. Liguei
para lá e pedi que providenciassem um reboque para meu velho Alfa-
Romeo. Meia hora depois, um guincho levava o carro a reboque.
Mais tarde o gerente da oficina me ligou para e informou que a
substituição das peças foram tinham sido efetuadas e que meu velho
carro se encontrava à toda prova. O gerente me ofereceu um
funcionário para trazer o carro até minha casa, mas recusei-lhe a
gentileza. Queria trazê-lo pessoalmente. Fazia algum tempo que não
dirigia esse carro, tão precioso em recordações. Chamei um táxi e
momentos depois desci na frente da oficina. Com descrição e
palavras técnicas, o gerente explicou-me o funcionamento do sistema
de carburação do veículo e o porquê do problema. Não entendi
absolutamente nada e quando ele acabou de falar, resmunguei algo,
aprovando tudo quanto dissera. Paguei o conserto, agradeci e deixei a
oficina. O desempenho do veículo me surpreendeu e eu,
deliberadamente, decidi alongar um pouco o percurso de volta.
Passava por uma rua sem tráfego quando, de repente, o carro deu dois
pequenos trancos e parou de funcionar. Protestei com um suspiro.
Esperei alguns segundos e liguei novamente o motor. Houve
combustão, mas antes que eu pisasse no acelerador o motor apagou.
Voltei a ligar a chave, mas desta vez só o motor de arranque
funcionou. - "Carburação!" - disse para mim mesmo. Saltei do
carro e olhei em minha volta à procura de um telefone público. Não