Após o café da manhã, demos mais um passeio à beira-mar.
lira um dia quente e agradável. Mas tínhamos que voltar. Caressa
sequer comunicara à mãe que não dormiria em casa. Eu acreditava
que sua mãe tivesse dormido alcoolizada, ou que tivesse tomado uma
dose extra de tranqüilizantes e assim jazesse adormecida. O
entusiasmo da descida não se repetiu no percurso de volta. Caressa
estava tensa, preocupada com a reação da mãe. Quando conheci sua
mãe, entendi que a preocupação dela era absolutamente justificável.
Ademais aquela tinha sido a primeira noite que pernoitara fora de
casa. Parei o carro, como sempre fazia, na esquina perto da casa
dela. Desliguei o motor. Já sentia com antecipação a saudade que
ficaria no lugar dela. Enderecei-lhe um olhar lânguido, amargurado.
- Por que tenho medo de voltar para casa? Por que tenho
medo de olhar para minha mãe? - perguntou-me.
- Você passou uma noite fora de casa... - disse-lhe - Nós
vivemos uma nova experiência, uma emoção nova... E natural que
sinta medo, insegurança.
Houve um instante de silêncio. Ela baixou os olhos,
reflexiva.
- Sabe a impressão que tenho? A impressão de que, se
minha mãe olhar para mim, vai me ver nua...
Seu tom de voz tinha um timbre de fragilidade. Ela era uma
menina frágil. Uma menina que temia a idéia de ser mulher. E o tom
frágil de sua voz despertava em mim um incontrolável desejo, ou
impulso de protegê-la. De dizer-lhe: Não tema, Caressa... Porque a
amo. Por que sou capaz de tudo por você.
- Vamos pôr um ponto final nisso. - disse, com ênfase -
Vou com você até sua casa para esclarecer nosso relacionamento.
Caressa olhou-me, arqueando as sobrancelhas. Com voz
teatral, acrescentei divertido:
- Sentaremos nós três: eu, você e ela. Eu direi a ela: vê quem é o Romeu? Eu sou o Romeu: Caio Graco. Se sou professor
dela? Sim, sou o professor dela. Se não sou muito velho?
Sinceramente, não me sinto tão velho. Mesmo porque ela me ama
assim. Não ama, Caressa?
Ela deixou escapar um risinho tenso e respondeu fazendo
biquinho:
- Muito! Mas hoje não, Caio... se soubesse como minha
mãe é, não estaria tão tranqüilo assim. Amanhã você vem, se quiser
pode vir pela manhã, para falar com ela... Hoje, é melhor eu entrar
sozinha.
Um tenso silêncio passou entre nós.
-r- Tem certeza que assim será melhor?
- Sim. Tenho.
- Está bem... Mas amanhã quero terminar com esta estória.