Capitulo 25

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Após o café da manhã, demos mais um passeio à beira-mar.

lira um dia quente e agradável. Mas tínhamos que voltar. Caressa

sequer comunicara à mãe que não dormiria em casa. Eu acreditava

que sua mãe tivesse dormido alcoolizada, ou que tivesse tomado uma

dose extra de tranqüilizantes e assim jazesse adormecida. O

entusiasmo da descida não se repetiu no percurso de volta. Caressa

estava tensa, preocupada com a reação da mãe. Quando conheci sua

mãe, entendi que a preocupação dela era absolutamente justificável.

Ademais aquela tinha sido a primeira noite que pernoitara fora de

casa. Parei o carro, como sempre fazia, na esquina perto da casa

dela. Desliguei o motor. Já sentia com antecipação a saudade que

ficaria no lugar dela. Enderecei-lhe um olhar lânguido, amargurado.

- Por que tenho medo de voltar para casa? Por que tenho

medo de olhar para minha mãe? - perguntou-me.

- Você passou uma noite fora de casa... - disse-lhe - Nós

vivemos uma nova experiência, uma emoção nova... E natural que

sinta medo, insegurança.

Houve um instante de silêncio. Ela baixou os olhos,

reflexiva.

- Sabe a impressão que tenho? A impressão de que, se

minha mãe olhar para mim, vai me ver nua...

Seu tom de voz tinha um timbre de fragilidade. Ela era uma

menina frágil. Uma menina que temia a idéia de ser mulher. E o tom

frágil de sua voz despertava em mim um incontrolável desejo, ou

impulso de protegê-la. De dizer-lhe: Não tema, Caressa... Porque a

amo. Por que sou capaz de tudo por você.

- Vamos pôr um ponto final nisso. - disse, com ênfase -

Vou com você até sua casa para esclarecer nosso relacionamento.

Caressa olhou-me, arqueando as sobrancelhas. Com voz

teatral, acrescentei divertido:

- Sentaremos nós três: eu, você e ela. Eu direi a ela: vê quem é o Romeu? Eu sou o Romeu: Caio Graco. Se sou professor

dela? Sim, sou o professor dela. Se não sou muito velho?

Sinceramente, não me sinto tão velho. Mesmo porque ela me ama

assim. Não ama, Caressa?

Ela deixou escapar um risinho tenso e respondeu fazendo

biquinho:

- Muito! Mas hoje não, Caio... se soubesse como minha

mãe é, não estaria tão tranqüilo assim. Amanhã você vem, se quiser

pode vir pela manhã, para falar com ela... Hoje, é melhor eu entrar

sozinha.

Um tenso silêncio passou entre nós.

-r- Tem certeza que assim será melhor?

- Sim. Tenho.

- Está bem... Mas amanhã quero terminar com esta estória.

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora