Capitulo 27

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Naquela noite, retornei para casa tentando imaginar a

dimensão do sentimento daquele homem por aquela garota. Havia

tanta sinceridade em sua narrativa e tanta intensidade e pureza em

seus sentimentos que sua expressão não saía da minha cabeça.

No outro dia, assim que encontrei Caio Graco, entendi o que

ele quisera dizer na noite anterior. Ele tinha revisitado toda sua triste

história durante aquela noite. O efeito de suas lembranças sobre seu

espírito foi devastador. Estava abatido, abaixo de seus olhos se viam

sombras escuras. O cansaço pesava em cada traço de seu rosto.

Liguei o gravador. Ele começou:

- O ano iniciou de maneira maravilhosa. Ficávamos o dia

todo juntos. Descíamos e subíamos a serra com tanta naturalidade

que o percurso parecia não passar de mil metros. Era como atravessar

a rua e caminhar duas quadras. Quando estávamos em casa, Caressa

passava quase que todo o dia na piscina. Se eu recusasse a fazer-lhe

companhia, ela se punha a gritar o meu nome precedido pela palavra

professor. Era o seu jeito de tentar me irritar. Quando eu exibia o

rosto na janela, ela acenava, sorrindo:

- Vem, Caio. A água esta deliciosa. Você não está sentindo

calor? - dizia ela.

Então eu não resistia ao seu chamado, aos seus gestos, e

momentos depois, eu também mergulhava na piscina.

Caio voltou-se na direção da janela com a expressão de quem

vê algo que é impossível ser visto por mim

- Você ouviu? - perguntou.

- Não.

- Eu a ouvi. Ela me chama o tempo todo...

Depois de uma longa pausa, Caio continuou:

- O meu paraíso terrestre perdurou ainda por mais de trinta

dias. Depois os sonhos se desvaneceram...

Era a segunda quinzena de fevereiro. Caressa me pediu para

ii ver a mãe. Eu a levei. Se soubesse o que o destino nos reservava eu

ii leria levado para muito longe dali. Eu a teria levado para uma ilhota

desabitada, distante da civilização e da própria humanidade.

Como sempre, ela desceu uma quadra antes e foi só. A

verdade é que eu tinha maus pressentimentos e medo daquela mulher

i|iie eu nem mesmo conhecia. Talvez, temesse que ela não permitisse

que continuássemos o nosso relacionamento. Era um medo irracional,

inexplicável, mas legítimo. Era um medo que nascia no fundo de

minha alma.

Caressa retomou eufórica.

- Caio, você não vai acreditar! - disse, após um suspiro.

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora