Capitulo 26

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Era a semana dos exames finais. Caressa precisava tirar boas

notas em matemática para obter a aprovação. Naqueles dias dei-lhe

nulas de reforço ou melhor, estudamos juntos, porque eu também

sempre fui péssimo nessa disciplina. Minha única vantagem era a de

compreender as questões com mais facilidade que ela e explicá-la,

imprimindo na voz um tom de quem domina o assunto. Quando a

semana chegou ao fim, Caressa recebeu a aprovação para cursar, no

ano seguinte, a 7a série. E, naquela mesma semana, eu fui exonerado

do quadro de professores da rede estadual de ensino.

Não me senti abatido pela conseqüência do meu romance.

Ser professor na rede pública de educação era algo muito importante

para mim. Mas o amor que eu sentia por ela compensava qualquer

perda que pudesse surgir.

A uma semana do Natal fizemos compras, muitas compras.

Descobri que ela gostava de fazer compras, ou melhor, tinha

verdadeira compulsão pelo consumo. Talvez, por ter vivido toda uma

vida de privações. De qualquer maneira, o dinheiro de vovó, agora,

estava disponível e eu poderia fazer dele o que bem entendesse. E

gastá-lo, para satisfazer os caprichos de Caressa, era o mesmo que

gastar com meus próprios caprichos. Compramos patins-in-line, urso

de pelúcia, um cão siberiano de pelúcia, um macaco de pelúcia e

mais um saco cheio de outros bichos de pelúcia, compramos ainda

raquetes de hóquei, tacos e bolas de golfe, uma mesa de ping-pong,

espingardas de paintball, roupas de inverno, roupas de verão, roupas

de banho e calçados. Comprei tudo que lhe despertara algum

interesse. Coisas que jamais seriam usadas. Ela me fez comprar uma

enorme árvore de Natal, com quase três metros de altura e toda uma

coleção de enfeites natalinos. E, por último, um jogo de pisca-pisca

com mais de quinhentos metros de fio e com a espantosa quantidade

de duas mil luzes. Contratei um eletricista que gastou um dia inteiro

de trabalho para instalar a parafernália na fachada da casa. Quando caiu a noite, pudemos ver o resultado: o efeito de tantas luzes,

acendendo e apagando, foi tão inebriante que a frente da casa

assemelhava-se mais a um cenário cinematográfico do que uma

residência. Apagamos as luzes da parte externa, inclusive as do

jardim e da piscina, para fazer ressaltar o colorido da decoração.

Naquela noite, colocamos a mesa de jantar no gramado, e

jantamos sob a tímida claridade colorida da decoração. Nossa ceia de

Natal foi bastante privativa. Havia apenas Caressa e eu. Antônio e

Maria tinham viajado para rever parentes.

Chuva De NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora