Era a semana dos exames finais. Caressa precisava tirar boas
notas em matemática para obter a aprovação. Naqueles dias dei-lhe
nulas de reforço ou melhor, estudamos juntos, porque eu também
sempre fui péssimo nessa disciplina. Minha única vantagem era a de
compreender as questões com mais facilidade que ela e explicá-la,
imprimindo na voz um tom de quem domina o assunto. Quando a
semana chegou ao fim, Caressa recebeu a aprovação para cursar, no
ano seguinte, a 7a série. E, naquela mesma semana, eu fui exonerado
do quadro de professores da rede estadual de ensino.
Não me senti abatido pela conseqüência do meu romance.
Ser professor na rede pública de educação era algo muito importante
para mim. Mas o amor que eu sentia por ela compensava qualquer
perda que pudesse surgir.
A uma semana do Natal fizemos compras, muitas compras.
Descobri que ela gostava de fazer compras, ou melhor, tinha
verdadeira compulsão pelo consumo. Talvez, por ter vivido toda uma
vida de privações. De qualquer maneira, o dinheiro de vovó, agora,
estava disponível e eu poderia fazer dele o que bem entendesse. E
gastá-lo, para satisfazer os caprichos de Caressa, era o mesmo que
gastar com meus próprios caprichos. Compramos patins-in-line, urso
de pelúcia, um cão siberiano de pelúcia, um macaco de pelúcia e
mais um saco cheio de outros bichos de pelúcia, compramos ainda
raquetes de hóquei, tacos e bolas de golfe, uma mesa de ping-pong,
espingardas de paintball, roupas de inverno, roupas de verão, roupas
de banho e calçados. Comprei tudo que lhe despertara algum
interesse. Coisas que jamais seriam usadas. Ela me fez comprar uma
enorme árvore de Natal, com quase três metros de altura e toda uma
coleção de enfeites natalinos. E, por último, um jogo de pisca-pisca
com mais de quinhentos metros de fio e com a espantosa quantidade
de duas mil luzes. Contratei um eletricista que gastou um dia inteiro
de trabalho para instalar a parafernália na fachada da casa. Quando caiu a noite, pudemos ver o resultado: o efeito de tantas luzes,
acendendo e apagando, foi tão inebriante que a frente da casa
assemelhava-se mais a um cenário cinematográfico do que uma
residência. Apagamos as luzes da parte externa, inclusive as do
jardim e da piscina, para fazer ressaltar o colorido da decoração.
Naquela noite, colocamos a mesa de jantar no gramado, e
jantamos sob a tímida claridade colorida da decoração. Nossa ceia de
Natal foi bastante privativa. Havia apenas Caressa e eu. Antônio e
Maria tinham viajado para rever parentes.