Quinta-feira, 15 de outubro, dia do professor.
Naquele dia era natural que eu esperasse por surpresa,
sobretudo de alunos da 6a série, cuja média de idade era de 13 anos.
No ano anterior os alunos da 6a série tinham me presenteado com
cartões e alguns objetos. Entre eles, me recordo ainda de uma caneta
personalizada e de um cachimbo de modelo um tanto excêntrico. Em
1992, não foi diferente. Assim que entrei na sala, os alunos se
calaram e o suspense tomou conta de todos, deslizei um olhar sobre
seus rostos sorridentes e encostei a porta. Olhando minha mesa
entendi o significado do misterioso silêncio. Puxei a cadeira e me
sentei. Fiquei contemplando os cartões e três embrulhos. Recordei-
me de certa vez que eu, um estudante na 5a série no colégio
protestante, presenteara meu professor com as obras completas de
Lutero. Fiz uma expressão de espanto e lhes disse com um sorriso
bailando no rosto:
- Parece-me que vocês esqueceram alguns objetos sobre
minha mesa.
Meus olhos percorriam rosto por rosto e, saltou, também,
para o angelical rostinho de Caressa. Percebi que ela estava sem
blusa. Segundo a meteorologia, devido a uma frente fria, teríamos um
fim-de-semana com muito frio. Acertaram. Naquela quinta-feira o
frio já exigia o uso de algum agasalho. Por que não veio com sua
jaquetinha preta, sua tolinha? - censurei-a intimamente. -
Levantei-me, retirei o sobretudo e o coloquei num canto da mesa.
- Aqui na sala não faz tanto frio como lá fora - justifiquei.
Sentei-me.
- Bem - prossegui. - Vamos ver o que estes bilhetes e
pacotes nos reservam.
Primeiro, li os bilhetes. As mensagens eram quase muito
semelhantes. Depois de ter lido os bilhetes, passei para os presentes.
Eram três pequenos pacotes. Peguei o primeiro e o mostrei para a
sala:
- Será que alguém pode ter uma idéia do que está dentro
:esse embrulho? - perguntei-lhes. Surgiram as mais bizarras
sugestões: um, gritou tratar-se de um estojo de maquiagem; outro
sugeriu uma caixa de massa para modelar e um terceiro, provocou o
nso geral da sala, ao opinar que eu ganhara uma ratoeira. Quanto a
mim, no primeiro contato com o embrulho, já havia deduzido tratar-
se de um livro.
- Eu acho que é um livro... - comentei.
Osvaldo levantou-se da cadeira, veio até mim: