Capítulo 24

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E você poderia ter isso tudo

Meu império de sujeira

Eu vou te decepcionar

Eu vou te ferir

Eu uso essa coroa de espinhos

Sobre meu trono de mentiras

Cheio de pensamentos quebrados

Que eu não posso consertar

Johnny Cash - Hurt


UM SENTIMENTO FORTÍSSIMO invadiu o coração de Manos sem que ele pudesse controlá-lo ou medi-lo. Ver seus filhos ali, ao vivo e a cores, parecia ser uma miragem à sua mente. Não conseguia acreditar que ele fosse encontrá-los bem ali, naquele momento, ao lado da mãe e de uma mulher, que parecia ser amiga de Artemis. Eles eram seus filhos, pensou consigo mesmo, com muito orgulho e admiração. Eles eram fortes, saudáveis e estava bem claro que Artemis era mais do que uma boa mãe a eles, os criando com muita dedicação e sacrifício. Sacrifício porque, agora, ele conseguia imaginar como deve ter sido difícil comprar tudo que era necessário para que eles crescessem bem. Ainda pior, devia ter sido a falta dele como pai, sem uma figura masculina em que eles pudessem se espelhar enquanto se desenvolviam.

    Logo que adentrou o apartamento, quando Artemis estava fechando a porta bem no seu nariz, ele começou a perceber a simplicidade do apartamento, sem o luxo que ele vivia, em Vouliagmeni. A sala e cozinha eram conjugadas, havia o básico, que eram os aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, sem muita decoração e as paredes eram todas brancas. Contudo, bem próximo da porta, havia algo que lhe chamou a atenção: o diploma de graduação em Engenharia de Alimentos de Artemis. Ao ler aquilo, que dava a ela as disposições para exercer a profissão, Manos começou a sentir mais mal ainda ao conjecturar como ela havia feito para conciliar os estudos da universidade, com o emprego e a criação dos filhos, que, certamente, deveriam ter demandado muito dela. E o que ele faria agora? Haveria uma forma de voltar no passado, apagar o que fez e ainda poder aproveitar a infância dos seus trigêmeos, que tinham seu sangue? Que desgraça havia feito? Havia como resolver aquilo, de alguma forma?

    Isso era o que havia feito? Roubado tudo que aquela jovem tinha, a abandonado e deixado os filhos em seu ventre? Agora, ali estavam as consequências de seus atos. Três crianças idênticas, às quais deveria ter faltado muita coisa e ainda deveria faltar, tudo por conta da ausência dele como pai. De repente, encarando a ex e as crianças, Manos se deu conta dos sentimentos conflitantes que invadiram seu coração. Primeiramente, ele nunca havia se arrependido de seus crimes. Em segundo lugar, jamais pudera pensar que havia cometido tantos estragos na vida daquela mulher e, consequentemente, na vida daquelas crianças. De uma coisa Manos tinha certeza: aqueles eram seus filhos. Não havia nenhuma dúvida em seu coração. Então, diante do questionamento de uma das crianças, ele observou como Artemis não respondia nada e decidiu intervir na situação.

- Olá, meu amiguinho! - Manos se aproximou da criança, se agachou à altura dela e cumprimentou docemente o filho. -  Como você está hoje?

- Eu estou bem. Mas, quem é você? - O menino tinha os olhos igualmente azuis como os dele.

- Eu me chamo Manos Karagiannis. Sou um conhecido e chefe da sua mãe na fábrica em que ela trabalha.

    Manos se virou e assistiu às reações distintas e confusas passando pelo rosto lindo de Artemis. Ele viu uma leve pontada de raiva nos olhos verdes ao vê-lo conversar com o próprio filho. Então, uma tristeza parecia ter tomado conta da mãe dos seus filhos, quase que deixando cair muitas lágrimas. Manos percebeu quando ela as segurou para que não caíssem perante os filhos. Já a amiga de Artemis estava apenas vendo aquilo tudo, sem se pronunciar por nada.

Alcançado pelo Destino - Série Fascínio Grego - Livro I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora