Capítulo 16

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Fugir agora não resolve nada

Mas não vou chorar

Se você quiser partir

Às vezes a distância ajuda

E essa tempestade um dia vai acabar

Priscilla Alcantara - Quando a Chuva Passar


ARTEMIS SENTIA COMO se todos os seus estivessem vigiados naquela mansão, como se fosse uma criminosa ou pior, uma prisioneira. Como se devesse satisfação sobre sua vida pessoal à sua chefe, que só sabia desprezá-la e pisar em sua cabeça. Ela só queria pensar no futuro dos filhos, com uma gestação gemelar de alto risco como a sua, não podia brincar nem só um instante com sua saúde. Artemis chegou em seu quarto, largou a mochilinha esportiva no chão e ainda absorvia tudo que tinha acontecido desde que voltou do posto de saúde. Estava grávida de trigêmeos. Estava esperando os herdeiros daquele maldito, cafajeste, que não valia absolutamente nada. Estava carregando três bebês, uma grande responsabilidade que teria agora em diante.

Sentando-se na cama, Artemis pegou o celular e começou a procurar por vagas de emprego na cidade, algo que lhe permitisse trabalhar de forma home office, de preferência. Ela fez um currículo num aplicativo de texto on-line e o exportou em pdf, podendo enviá-lo para as empresas que tinham as vagas que buscava. Artemis procurou em alguns sites, rolou a tela e lia as descrições das vagas, até que encontrou três que lhe gostaram bastante. Uma delas, que parecia ser exatamente o que estava procurando, oferecia plano de saúde e vale-refeição aos funcionários. A empresa era de revenda de produtos médicos e comprava muitos deles da Alemanha, o que tornava Artemis muito qualificada à vaga. Artemis havia conseguido aprender alemão, um idioma que exigia muita dedicação contínua, aos seis anos e teve aulas com um professor particular até os dezenove anos. Já o inglês ela havia aprendido de forma autodidata, quando a tia Iliana havia comprado a ela um curso com CD e livro da língua.

Basicamente, o emprego requeria que ela fizesse traduções de documentos tanto para o alemão, quanto para o reverso, ou seja, do alemão para o grego, além de poder ser solicitado que ela fosse intérprete em alguma reunião ou negociação importante. O trabalho era remoto e isso lhe conferia condições de poder trabalhar de casa e manter o descanso recomendado pela médica que a havia atendido pela manhã, não comprometendo seu repouso durante aqueles próximos meses. Além disso, estava escrito que a empresa ia fornecer uma boa conexão de internet e um notebook de ponta para que a pessoa contratada executasse as tarefas com produtividade. Muito confiante de que conseguiria ser contratada, Artemis terminou o cadastro no site e, caso fosse chamada, teria que participar da entrevista, que seria de forma on-line, em cinco dias. Até que se finalizasse o processo seletivo, ela teria que suportar as humilhações de Emilia e como se seus passos fossem monitorados a cada instante.

Por dez dias, Artemis participou do processo seletivo on-line, inclusive participando de uma entrevista que foi conduzida inteiramente em alemão. Em alguns momentos, ela foi questionada em inglês, tendo que mudar de idioma rapidamente. Além disso, teve de fazer uma prova, sem que se fosse permitido usar um tradutor ou dicionário, do contrário, o candidato seria desclassificado. Ao final da entrevista, a recrutadora avisou que havia duas pessoas escolhidas para a vaga, mas que o candidato contratado seria avisado por e-mail até o final daquela semana. Por mais um tempo, Artemis fez conforme planejado e aturou as provocações e humilhações de Emilia Thanoulis. Contudo, ela teve a feliz notícia de que havia sido contratada para trabalhar na empresa de venda de produtos médicos e de saúde, que fazia negócios na Alemanha. Aquele era o momento pelo qual estava esperando, o fim daquela tortura e rebaixamento de trabalhar para a sobrinha de Kalliopi.

Aquela mulher era uma desalmada que, a todo momento, via motivo para perseguir Artemis ou apontar defeitos em suas funções, mesmo que ela se dedicasse ao máximo e, ainda sim, não seria suficiente para contentá-la. Trabalhar como tradutora naquela empresa a permitiria manter o repouso recomendado pelos médicos, além de ganhar bem melhor e poder alugar um pequeno apartamento para poder viver. Aos poucos, ela iria melhorar de vida, começaria a comprar o enxoval dos bebês e ir montando sua casa, começando pelos itens simples. Ela lutaria a cada instante pelo bem-estar dos trigêmeos, não permitindo que nada, nem ninguém os ferisse ou os machucasse. Ela só tinha a eles e eles, a ela. Mesmo sendo filhos daquele cretino, Artemis os amaria até o fim de seus dias, afinal, eles não tinham culpa de que o pai fosse um golpista e mentiroso. Seria o início de uma nova vida, novas mudanças e uma fase repleta de desafios: a maternidade tripla.

Alcançado pelo Destino - Série Fascínio Grego - Livro I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora