Capítulo 2

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Mas o que o velho me ensinou eu jamais me esqueço
Seja lá como for, na vida tudo tem seu preço
No mundo, o falso e o verdadeiro se confundem
Mas os que sabem jamais se iludem
Não é fácil encontrar o caminho
Mas é bom olhar pro lado e ver que não estou sozinho

Charlie Brown Jr. - Be Myself

A VISTA ERA FASCINANTE em meio aos quatro homens, sendo dois jovens e outros dois de mais idade, vestidos de preto e com aqueles bigodes enormes reunidos em torno daquela mesa, sob pouca luz, fumando pesadamente. A tensão era grande e continuava aumentando, até a contagem final de pontos e as carteiras sendo puxadas. O diloti contava com muito barulho e demonstração de coragem, bravura e machismo, e, muitas vezes, era apenas por diversão e honra.

Sorrindo com astúcia, com as mãos ágeis e um raciocínio perspicaz, Theodorus avançava nas jogadas e trapaceava enquanto os seus três oponentes não estavam olhando. Ao final da partida, ele havia ganhado todo o dinheiro e percebeu a expressão de decepção e indignação no rosto dos outros três, que lhe passaram todos os euros que tinham. Após mais duas partidas, as quais logrou êxito como vencedor, ele saiu de lá rapidamente, pois sabia que seria descoberto tão cedo ou tarde pelas suas artimanhas para ganhar.

Ao final daquela tarde, Theodorus resolveu pegar suas coisas da pousada e ir embora para Lefkada na última balsa disponível naquele dia, deixando os otários, como ele chamava, para trás com seus prejuízos. Por cinco horas e ao lado de sua fiel motocicleta, ele continuou seu percurso nômade rumo a Lefkada, de onde pegaria mais um ferryboat rumo à ilha de Meganisi. A noite estrelada e limpa o fez parar um pouco e vislumbrar aquele espetacular céu que se refletia e se perdia nas águas escuras e profundas, se encontrando com a longínqua areia branca e fina.

Ele decidiu não se hospedar em nenhum lugar porque queria logo chegar a Meganisi pela manhã, no primeiro ferryboat do dia. Aproveitou a vida noturna naquela madrugada e vasculhou os pontos da ilha sobre sua moto, depois permanecendo em uma taberna até que o dia amanhecesse. Por volta das 5h da manhã, Theodorus pegou o primeiro ferryboat com destino a Meganisi, a menor ilha com conexão a Lefkada, no arquipélago das Ilhas Telebóides.

Talvez poderia ficar uns dias a mais em Meganisi, pensou. A pequena ilha era simpática e as pessoas eram hospitaleiras, observou ele ao descer da balsa e chegar ao Porto de Vathy, uma das principais aldeias de Meganisi, à costa nordeste da ilha, no final de uma enseada. Theodorus subiu na motocicleta e pilotou na beira do encantador porto com águas azuis profundas, onde as atividades de pesca e navegação eram realizadas com segurança.

O cais estava repleto de um grande número de barcos, uma vez que era época balnear, apresentando uma vista panorâmica cativante sobre a vila. A vila era bastante pitoresca com um labirinto de casas e vielas caiadas de branco e algumas igrejas viradas para o mar, além de uma série de charmosos restaurantes e tabernas, que ofereciam deliciosa comida local. Curioso, Theodorus se virou em direção a dois pescadores, que trajavam roupas simples e puxavam uma rede vazia do mar.

- Parece que a colheita de olivas koroneiki dos Kouris já passou de uma tonelada. - Falou o pescador moreno ao colega. - Imagine, Atticus, a quantidade de dinheiro que não devem estar ganhando! Sempre foram tão ricos!

- Ao menos, a família gera empregos em nossa ilha. - Respondeu o tal Atticus. - Bem, vamos voltar ao nosso trabalho. Ajude-me aqui a jogar essa rede novamente.

Os dois não notaram a presença de Theodorus, que ligou novamente a moto e seguiu viagem. Decidiu seguir uma placa rumo à região central, em Spartochori, que ficava acima de uma montanha. À medida que avançava pelo caminho, Theodorus notou como os habitantes da aldeia estavam envolvidos em atividades agrícolas com a vasta área de olivais para cultivar. As pessoas também estavam envolvidas na pecuária, enquanto o leite de ovelha e cabra era amplamente produzido na ilha.

Chegou ao local e subiu uma rua de paralelepípedos ladeadas de buganvillas rosas e brancas. Uma pequena hospedaria tinha dois quartos e ele se registrou em um, conjecturando que talvez pudesse até arrumar um trabalho enquanto decidia o que iria fazer por lá. Deixou novamente o local e decidiu explorar mais a ilha. O vento fresco balançava novamente o cabelo até os ombros e a barba longa, assim como roupa de tecido fino e leve, que se agarrava ao corpo.

Pegou um caminho de terra e avançou por mais um de um quilômetro, até que se deparou com uma cerca alta e que avisava que era uma propriedade particular. Mesmo assim, Theodorus decidiu se arriscar e deixou a moto do lado de fora da cerca, subindo no arame e pulando do outro lado do terreno. Quase se machucou ao cair no chão, mas se levantou e passou as mãos a fim de tirar a terra sobre sua roupa.

Começou a andar e inspirou o ar puro e fresco, sentindo o intenso cheiro da enormidade de flores e árvores que existiam naquele bosque. Continuou andando pela trilha e ouviu um forte barulho de água, como se fosse de uma cachoeira. O local era composto por um rochedo e um pequeno lago, sendo complementado com uma cachoeira idílica de quinze metros de altura, cercado por uma abundante vegetação verdejante. Theodorus estava certo, mas, mais do que isso, havia uma pessoa se banhando no rio, a julgar pelos sons de algo se movimentando. Theodorus se escondeu atrás de uma grande e alta árvore, espiando para ver o que encontraria. Ao ver água azul turquesa, limpa e cristalina se movendo, ele notou que uma mulher submergia do fundo.

De costas, a pele alva e brilhosa parecia uma porcelana, o cabelo castanho escuro e cacheado chegava ao fim das costas e ela se preparava para mergulhar novamente. Aquilo era um anjo caído, uma ninfa, pensou Theodorus, enquanto passava os olhos pelo corpo da mulher e a cobiçava. No entanto, quando ela estava prestes a mergulhar novamente, Theodorus se distraiu e pisou em um galho seco no chão, chamando a atenção da moça, que virou de frente para ele.

A atitude foi totalmente impensada, porque, no mesmo momento, ele tornou a cobiçar o corpo jovem e curvilíneo, os seios pequenos cobertos pelas mãos. E, quando subiu o olhar quente, se deparou com os intensos olhos verdes, que o fitavam com muita raiva e indignação. A jovem estava apenas da cintura fina e tenra para baixo submersa, mas, naquele momento, se apressou e foi se esconder atrás de uma pedra.

- O que faz aqui? - A bela mulher falou entre dentes. - Por acaso, não sabe que esse local é privado? Como conseguiu entrar aqui? - Disparou ela com todas aquelas perguntas. Ela estava certa, afinal, ele era um invasor.

Sorrindo com indolência e descaramento, Theodorus continuou a caçoar com ela e a respondeu em seguida.

- Vi que era privado, mas decidi me arriscar. Afinal, esse lugar paradisíaco atiçou minha curiosidade. Nunca estive em um lugar mais bonito que este. - Explicou Theodorus.

- Pois deve sair daqui! Seja um cavalheiro e vá embora! Por acaso, não percebeu que quero privacidade?

A mulher tinha os olhos verdes mais bonitos que ele tinha visto e o corpo de uma deusa. Tanto que seu corpo respondeu na mesma hora, já que uma lava incandescente atravessou sua corrente sanguínea, dando o sinal do desejo que a jovem o provocava.

Alcançado pelo Destino - Série Fascínio Grego - Livro I (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora