chuva da meia noite (steloisa)

em câmera lenta, uma poção do amor

oi! tudo bem?

hoje estou sem tempo de me prolongar nas dedicatórias, mas queria dedicar esse capítulo à aly, aniversariante da semana! parabéns, meu amor, felicidades. espero que a história esteja do seu agrado.

também à jess (como sempre), lou, sarah, manu, rafinha e sabrina. amo todas!

obs.: quero ver se vocês pegam todas as referências à taylor nesse capítulo, hein? tô curiosa pra saber se deixei claro ou não, rs.

boa leitura!

***

Stenio tinha uma relação estranha com o Tempo.

Quando conheceu Heloísa, o rapaz achou que aquele místico Senhor dos meses e dos anos era uma espécie de seu aliado, afinal, projetar o encontro dele com a moça foi, sem dúvidas, um ato de cura na vida do rapaz. Ele, que sempre fora tão perdido, ao vê-la pela primeira vez tomou como principal objetivo de sua vida conquistá-la.

Na noite em que a mulher de cabelos acobreados, num fatídico dezembro, foi embora, o advogado experimentou o outro lado do ciclo do Tempo: o interminável buraco que se abriu em seu peito lhe apresentou o azul triste da solidão – ele sentia saudades de Helô até no simples ato de respirar. Ficava tentando entender, ao mesmo tempo que se esforçava para educar duas crianças tão dolorosamente parecidas com ela, como permitiu que aquilo acontecesse. Como fora tão cego a ponto de não vê-la agonizar em seu próprio e silencioso sofrimento.

Paradoxalmente, Stenio ainda conseguia ser surpreendido pelo mesmo fenômeno que o havia devolvido e tirado a felicidade tantas vezes. Ao testemunhar Eva e Téo crescendo, o advogado se deu conta de que todas aquelas turbulências haviam cruzado o seu caminho por alguma razão, e que depois do céu azulado da meia-noite, ele receberia o horizonte roxo-rosa do alvorecer – a calmaria e a certeza. Seus filhos eram a sua certeza.

No momento em que Eva se perdeu, o homem entrou em pânico. Porque, pela primeira vez em muito tempo, aquela certeza começou a escorrer sorrateira pelos seus dedos. E evitá-la de escapar de vez não era uma tarefa unicamente de Stenio. Ele ia precisar de muito mais que o amor e a criação carinhosa reservada aos filhos se quisesse ter a sua menininha de volta, em segurança.

Foi por isso que decidiu ligar para a delegacia.

Sabia que no momento em que assim fizesse, tornaria o acontecimento mais real: Eva estaria definitivamente desaparecida e ele seria definitivamente culpado por não a ter observado propriamente. Além disso, reviveria memórias estranhas, as quais lutou por muitos anos para que ficassem guardadas.

Não que ele nunca tivesse ido a uma delegacia depois da partida de Heloísa – era um advogado criminalista, pelo amor de Deus. Mas era verdade que havia evitado ao máximo aquela unidade em específico para a qual ligara – a mais próxima de sua casa, diga-se de passagem –, porque era ali que a esposa costumava dar seus plantões e fazer o que ela mais gostava no mundo.

Stenio não era bobo. Sabia que Helô tinha ido embora do país para viver no exterior. Ele ouviu um dos colegas da antiga faculdade comentando certa vez, num reencontro anual da turma dos dois. Quando as notícias chegaram aos seus ouvidos, o advogado se assustou ao perceber que não esperava nada diferente vindo dela: aquela era a Heloísa Sampaio que ele conhecia, destemida, corajosa, que ao ter uma ideia nunca mais a tirava da cabeça. Ela tinha escolhido mudar e recomeçar e, de fato, assim fizera. Só que ele, com todo o seu sentimentalismo e idealizações, continuou o mesmo Stenio, aquele que sonhava com uma família e estabilidade no futuro.

Essa era uma das razões – além do desaparecimento da filha, claro – pelas quais o seu corpo inteiro tremia enquanto guiava o próprio carro até a antiga delegacia de Helô, à procura de Eva. Pelo telefone, ele falara com um agente da polícia, que o garantiu que em breve a pequena estaria com a família em segurança.