seria o suficiente se eu nunca pudesse te dar paz?

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oi, tudo bem?

introduzo esse capítulo bem depressa, mas com o aviso de que estamos chegando ao nosso final. ainda temos mais dois capítulos planejados, e já estou ficando bem melancólica com o fato de que não vamos mais "conversar" toda semana.

acho que minha onda de gratidão já é expressa exaustivamente aqui, mas eu nunca posso passar sem agradecer a todos por nunca terem desistido dessa história e, no fim das contas, terem me obrigado a não desistir também. espero que um dia eu consiga dar paz pra vocês em troca por terem aderido aos meus devaneios literários tão religiosamente.

o capítulo de hoje está bem enxuto, mas ele é bem importante para os acontecimentos seguintes. por favor, peço que tentem compreender exatamente cada um dos personagens. tentem tirar um tempinho para enxergar eles além do momento que estiver descrito nas linhas seguintes, estamos combinadas?

agradeço à todas as minhas amigas que estão comigo nessa jornada. todas elas que, com seus variados talentos, me estimularam a continuar. vocês sabem quem são e eu as amo.

boa leitura!

***

Stenio segurou o telefone de sua esposa enquanto mal dava espaço para seu corpo sentir as suas mãos. Os dedos tremiam, o peito apertava, e, gradativamente, de sua pele escorria algo parecido com suor.

Ele não conseguia acreditar em nada daquilo. Nenhum momento daquela situação parecia capaz de ser assimilado dentro da sua cabeça, que só guardava uma enorme nuvem turva de confusão e de desgosto em seu aspecto mais visceral. Como uma cobra peçonhenta, a mente do advogado passou a sabotá-lo, pensando na caixinha inocente de papelão que seus membros foram incapazes de sustentar e que agora estava simplesmente disposta no chão.

Em seu subconsciente, os anos rebobinaram. Os momentos foram indo e voltando, e de repente, ele estava de novo em frente àquela mesma casa, com a garganta ardendo em um grito vazio de qualquer efetividade, o qual implorava desesperadamente para a esposa não ir embora.

Você não pode ir. Não deixe seus filhos. Não me deixe.

Nada daquilo teve resolução na época. Nenhuma de suas súplicas silenciosas, lágrimas derramadas ou afagos presenteados para que Helô decidisse que aquele era o seu lugar.

Ele tinha sido tolo em pensar que ela havia mudado.

De volta ao presente, tudo estava tão claro de uma hora para a outra, como o sol do alvorecer. As mensagens esclarecedoras do tal – como era mesmo o nome? – sujeito, a embalagem do teste de gravidez jogada entre os vincos do piso frio de seu lar. O lar que ele dividia com a mulher que agora planejava deixá-lo. Mais uma vez.

Stenio sentiu seu peito se fechar em angústia. Por um momento, pensou que nunca mais ia ser capaz de respirar. Foi como se, aos poucos, alguém o tivesse chacoalhando para a realidade, lhe exclamando em uma voz levemente zombeteira: "Olhe só, você caiu nessa de amor de novo!".

Não era a partida que lhe machucava. Não. De um jeito ou de outro, a consciência de Alencar já previa que isso poderia acontecer. Ele e Helô eram completamente instáveis. Eles tinham se machucado por vezes suficientes para saberem que era apenas uma questão de tempo até que estragassem as coisas pela milésima vez.

A dor vinha porque ele se permitiu a uma entrega que não deveria. E porque agora, Deus do céu, ia ter que fazer com que seus filhos desistissem de sentir falta da mãe deles, também.

Pensando nisso, o segundo sentimento que atingiu Stenio naquele início de tarde foi o de raiva, exatamente como veio no dia em que viu a sua mulher pela primeira vez desde que a delegada tinha voltado de Atlanta. Ele se sentia simplesmente furioso com Heloísa, porque ela estava fazendo absolutamente tudo o que ele lhe implorou em diversos momentos que não fizesse: criar um vínculo inquebrável com as suas duas crianças. Eva e Téo tinham se apegado, criado a experiência de uma mãe presente em suas vidas, para Helô simplesmente jogar tudo pela janela.

chuva da meia noite (steloisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora