Capítulo 16

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Paçoca.

Eu entrei pro crime por ódio mermo, não posso dizer que foi por precisão nem necessidade, por que minha coroa mermo tendo pouco sempre batalhou pra caralho pra me dar o necessário, graças a Deus e a ela nunca passei fome, tinha tempo de nos ta no limite, tendo só o que era preciso, mas mermo assim tinha, tudo isso graças a minha Coroa que sempre foi uma mãe foda, que ralava pra caralho pra me ver um menorzinho com futuro, uma faculdade, e até mesmo sendo um jogador

e realmente era o que eu queria pra mim, até ver o filho da puta que ajudou a me colocar no mundo, que sempre se mostrou um bom pai, presente, atencioso,tirando meu chão, tirando tudo que eu tinha, que era minha rainha.

Porra essa foi a pior traição da minha vida, foi o que mais doeu em mim, foi sem dúvida a minha maior perda, foi por isso que sou quem sou hoje.

Eu sabia que a relação dos meus pais não era da mais perfeitas sabia por que ele não fazia nem questão de manter aparência de que vivia bem com minha mãe. mas pra mim mermo, ele não era um pai ruim, sempre estranhei o fato de só minha mãe trabalhar, só ela manter a casa, mas segundo ela era por que gostava, e porque pro meu pai não aparecia muitas oportunidades, mas porra, uma vida inteira assim, uma vida inteira sem aparecer nada, eu engoli isso

até eu ficar de maior e ciência das coisas, mas o papo é que como pai, ele não deixou a desejar nunca pô,  sempre foi presente, me levava na escola, me incentivava a ser homem de bem, meu pai não bebia, não se drogava, tinha tudo pra nós ser uma família feliz, nunca me preocupei muito com o fato deles aparentemente não serem feliz como casal, na minha cabeça era coisa deles isso até eu perceber o quanto ele era ruim e abusivo, até eu ter idade pra juntar as peças e entender que ele era um cara pra mim é outro pra minha mãe, cresci vendo minha mãe aparecendo com roxa, muitas vezes com o cabelo cortado, machucada, mas porra como que eu ia associar que aquele cara que era um pai exemplar, que me dava tanto amor, era o mermo que causava tanta dor a minha mãe, ela mesmo nunca falava de fato o que tava rolando, sempre uma desculpa atrás da outra e nenhuma fazia sentido mas eu menorzinho sem saber de nada da vida, apaixonado pelo meu pai, fui engolindo, aceitando. como eu ia desfazer a imagem de pai que eu tinha e transformar em um agressor filho da puta, e eu também podia fazer o que pô?, não tinha nada ao meu alcance, nem maldade na mente eu tinha pra juntar as coisas e entender o que tava rolando dentro da minha própria casa, mas isso durou só até meus 16 anos, quando pela primeira vez eu presenciei o que ele fazia com a minha mãe durante a vida toda, foi ali que eu tive a virada de chave da minha vida, e foi o que  me levou a fazer tudo que eu fiz e faço até hoje, ele maltratava minha mãe, minha coroa, diante dos meus olhos e eu nunca percebi, não intervi, nunca fiz nada pra proteger ela por que eu tinha uma visão fodida sobre ele que não me deixava perceber quem ele era e quando eu fui conhecendo quem ele era, foi tarde demais, ver o arrombado que sempre cuidou de mim, me protegeu,me ensinou coisa pra caralho, ver ele levar de mim tudo que eu tinha

ver ele matar minha mãe de porrada, ver minha vida passar na minha frente como um filme, como se tudo que eu vivi durante 16 anos fosse mentira, ver o homem que eu tanto ne inspirei, amei, acabar com tudo, com a minha vida porra, isso me destruiu. Quando eu entrei na cozinha já não tinha mais tempo de fazer nada, por que ela já tava morta, tudo isso por causa da doença dele, ciúmes, das coisas que ele mermo criava na cabeça dele e fez questão de me contar, o filho da puta teve coragem de olhar na minha cara e dizer que tinha feito aquilo por que minha mãe era puta, por que se vestia como puta, por que não respeitava ele, até dizer que o dinheiro que minha mãe trazia pra casa, que sustentava aquele cuzão,segundo ele não era do trabalho, era dela abrir as perna pros cara rico da pista, porra, lembro como se fosse hoje, quele dia, naquele momento, tudo que tinha de bom em mim sumiu, morreu junto com minha mãe, e junto morreu o amor que um dia eu senti por aquele covarde, no peito só tinha ódio mermo, dor, desejo de vingança, porra eu fui traído, fui apunhalado, pelo cara que devia cuidar da minha mãe, cuidar de mim. desse dia em diante eu só tinha um propósito matar meu pai da pior forma possível, e foi essa a razão de eu ter entrado pro crime, não foi por dinheiro, por mulher, não foi por luxo, por  nada disso, foi pra acabar com o arrombado que abriu uma ferida em mim, que acabou com meus planos que fez minha vida virar o que é hoje.

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