Capítulo 1

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ANAHÍ

A umidade do sul da Flórida me atingiu como um punho quente e suado no segundo que meus saltos tocaram a calçada em frente ao prédio onde eu trabalho.

Estava um pouco cedo para passar por esse calor escaldante, mesmo para os padrões de Miami.

Entre os mosquitos, os lagartos, os piores motoristas que já se sentaram ao volante e o calor opressor, Miami tinha um sistema de defesa natural inerente contra pessoas que não eram do lugar. Eu, no entanto, era.

Minha mãe havia pressionado por um endereço mais respeitável, e meu pai, um nativo de Miami, acabou ficando na cobertura da família em Manhattan durante os meses de verão. Mas meu coração continuava preso firmemente às luzes néon e palmeiras balançando.

— Obrigada, Cath. Eu devo estar pronta para ir almoçar à uma da tarde — eu digo, à minha assistente, também motorista, além de segurança ocasional.

Cath era menor do que o meu um metro e setenta, tanto que eu ficava bem maior do que ela de salto. Livre das exigências do permanente escrutínio público, ela sempre optava por usar tênis ou botas confortáveis e estava sempre com o cabelo escuro em um coque apertado. Uma lembrança do seu tempo nos fuzileiros navais. Ela também tinha encontros como se isso fosse um esporte competitivo e se interessava por esportes radicais nos dias de folga.

Às vezes, eu queria ter nascido uma Catherine em vez de uma Anahí.

— Precisa que eu mande cinquenta e seis mensagens para lembrá-la, chefe? — ela brinca, fechando a porta do Range Rover atrás de mim.

Eu bato meu copo de café no dela.

— Acho que consigo me virar — eu digo secamente. — Agora, vá fazer o que a Cath "faz-tudo" faz quando não está bancando a minha babá.

Seus olhos cinzas se iluminam.

— Eu poderia encaixar um ficante no café da manhã. Ou um treino. Ou talvez eu apenas dirija por aí e grite com as pessoas pela janela — ela medita olhando para frente.

Eu faço uma careta por trás dos meus óculos escuros. Cath tinha uma liberdade que eu nunca teria. E mesmo se a tivesse, eu não saberia o que fazer com isso.

O ar-condicionado no lobby de mármore travava uma batalha sem fim contra o calor lá fora. Acenando para a mesa de segurança, vou diretamente para o elevador. Verifico meus e-mails novamente a caminho do sexagésimo segundo andar.

Meu dia já começara horas antes da minha chegada ao trabalho. Eu já havia cuidado dos e-mails marcados como "urgentes" e "prioridades" que surgiram durante minhas cinco horas de sono. Mas sempre havia mais.

As portas de vidro com as palavras "Perfectie* por Anahí Portilla", gravadas em letras douradas, se abrem para me receber.

— Bom dia, Sra. Portilla. Vestido divino — a minha mais nova recepcionista fala.

Aos vinte e quatro anos, ela era uma beldade de tirar o fôlego que desejava uma carreira na Perfectie mais do que queria atenção por sua aparência. Eu gostava disso nela, e assim que os seus dezoito meses na recepção terminassem, ficarei feliz em remanejá-la para o departamento de marketing, ou de pesquisa, ou onde quer que o seu coração formado com louvor pela Universidade de Miami desejasse ir.

— Bom dia, Rosalie — eu respondo, com um aceno, enquanto passava pela mesa.

Os escritórios da Perfectie* eram sofisticados e femininos. Fotos de mulheres com rostos luminosos e sem marcas decoravam as paredes de marfim com pesadas molduras prateadas e douradas. Os sofás eram de linho macio, em tom cremoso. Vasos com flores frescas brancas e rosa-perolado eram entregues duas vezes por semana. O carpete, uma luxuosa nuvem creme, amortecia os pés em saltos stiletto. Havia espelhos por toda parte para verificações discretas de batons e dentes. E um lembrete do porquê estávamos ocupando o último andar de um dos prédios mais exclusivos de Miami.

Miss Independent - Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora