Capítulo 32

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ALFONSO

Meu escritório em um domingo está parecendo muito com meu escritório em uma quarta-feira. Eu terei que reestabelecer os finais de semana de folga necessários para a minha equipe.

Não que eu fosse um chefe exigente daqueles que praticamente seguram um chicote. Eu apenas contratava pessoas que se preocupavam profundamente com os seus empregos.

Era o motivo pelo qual eu estou no meio de uma reunião informal de equipe regada a comida chinesa em uma tarde de domingo.

Rebeka aponta seus hashis para uma das telas na parede. Seus pés, calçados com coturnos de cadarços magenta, estão apoiados no tampo de metal da mesa de conferência.

— Ok, tela um — ela diz com a boca cheia de lo mein de porco. — Essas são as postagens de maior desempenho nas redes sociais de Anahí Portilla no mês passado. Pré e pós-comoção.

Não gostamos do termo "escândalo". Criada por minha equipe muito criativa, nossa escala de classificação de situações indesejáveis começava em um "Opa" e ia até um "PQP". PQP era reservado para ameaça de bomba, multidão enfurecida e precipitação nuclear.

A situação de Anahí se encaixava como uma comoção na extremidade superior de um desafio, mas era algo que ainda poderia ser vencido.

Rebeka nos guia através dos dados, nenhuma surpresa de fato. Uma grande mudança da atenção geral. Um aumento significativo na percepção negativa. Trolls rastejando de suas tocas para postar suas opiniões inúteis.

Mesmo depois de todos esses anos de "reparações", ainda me surpreendia ao ver quantas pessoas sentiam um prazer tão cruel em estripar seus semelhantes. Frequentemente, por infrações que incluíam a audácia de estrelar um filme, escrever um livro ou, Deus me livre, não caber em um manequim menor. Se eu fosse uma pessoa melhor, teria pena deles. Mas eu não era. Então, simplesmente desejo uma crise terrível de herpes a cada um deles e continuo com o meu dia.

— Então, as nossas amadas vadias dos dados tossiram essa joia — Rebeka diz, passando para o próximo slide.

As vadias dos dados – ou analistas, como eram chamadas para fins de recursos humanos – eram Ancarla, uma ex-analista da CIA, e Roger, um jogador campeão mundial barra hacker semiprofissional, que eu atraí para o mundo corporativo com bônus generosos e horários flexíveis. Na metade do tempo, eles nem iam ao escritório e, quando o faziam, um deles invariavelmente estava usando calça de pijama. De alguma forma, acabei com os dois presentes em um domingo.

Ancarla mastiga uma bala de alcaçuz negro, a sobremesa depois de sua carne com brócolis, e então aponta para a tela.

— Você vai ver o aumento nas menções nas mídias aqui na noite da comoção. Desde então, elas têm permanecido consistentemente altas. A linha com o emoji sorridente estipula a nossa medida de positividade pública – curtidas, comentários bons, itens de guarda-roupa esgotados etc. A linha com o emoji vomitando representa os trolls, os maldosos, os juízes de "como ousa ser chamado de humano".

Cada vez que o emoji vomitando aparecia a linha negativa se redesenhava, um ruído de peido soava. Eu era o único membro da equipe com mais de trinta anos e às vezes, eles faziam eu me sentir como se tivesse mais de setenta.

— Portilla tinha uma reputação estelar antes dessa situação — Roger diz, retomando o assunto. Ele tem uma bebida energética aberta em seu cotovelo e dois iPads na frente de sua sopa agridoce. — Totalmente limpa, meio chata. Deveria ter nos chamado antes desse negócio para que a deixássemos mais agradável.

Eu concordava com essa avaliação. Mas a maioria dos líderes não percebia que poderia usar um pouco de humanização na percepção do público até que fosse tarde demais.

Miss Independent - Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora