Capítulo 38

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ALFONSO

Viola Davis é uma entrevistadora formidável. Eu escolhi o Tia's, um aconchegante café cubano com um toque boêmio, por causa da atmosfera amigável. No entanto, minhas convidadas do almoço estão posicionadas como lutadoras de boxe. Entre elas, há inocentes tigelas de salsa e tortillas que acabaram de sair do forno.

Eu queria um pouco de salsa, mas tinha medo de levar uma mordida.

— O que você vê como seu dever, na posição de líder empresarial, quando o assunto é ser um modelo para jovens mulheres? — Viola pergunta. Seu gravador digital está apontado na direção de Anahí como uma arma.

— Você faz essa pergunta aos CEOs homens que entrevista? — Anahí atira de volta.

Eu deveria ter pedido tequila.

— Geralmente, não se cobra dos homens os mesmos padrões exigentes que são impostos às mulheres no poder — Viola recita , seu olhar deslizando para mim.

Eu me senti injustamente julgado.

— Não é meu trabalho explorar a injustiça dos padrões duplos existentes — Viola continua. — Meu trabalho é pintar uma imagem precisa da mulher que não faz nem um mês, evitou por pouco uma prisão em conexão com uma batida policial.

Inclino-me para frente, pronto para interpor uma defesa. Viola Davis era conhecida por ser agressiva, mas justa. No entanto, a minha fonte na Building Fortunes não mencionou que muito mais da energia da entrevista tendia para a agressividade.

O salto muito afiado de Anahí encontra meu pé debaixo da mesa.

— Alguns podem ver uma mulher que não foi presa porque não fez nada de errado — Anahí corrige suavemente. — Quando eu acordo de manhã, sou uma CEO que tem centenas de funcionários e suas famílias contando comigo para que faça boas decisões. Tenho milhões de clientes em todo o mundo que me responsabilizam quando se trata dos produtos que desenvolvo e vendo. Eu levo isso muito a sério. Mais a sério do que acusações infundadas e fofocas. Se você não está na arena comigo, não tenho tempo para ouvir as suas críticas. Metaforicamente, é claro.

— Claro — Viola diz com o que poderia ser um aceno de aprovação.

— Viola, vamos deixar isso claro — Anahí diz, liberando seus utensílios do guardanapo enquanto dois garçons se aproximavam com nossas refeições. — Eu não preciso que você goste de mim.

— Não sou obrigada a gostar de você — Viola responde com calma.

Ela me lembrava da minha implacável professora de inglês da sétima série, uma mulher que eu pensei que me odiava até o último dia de aula, quando ela friamente me disse que eu tinha potencial se fosse inteligente o suficiente para não acabar com ele.

— Você também não é obrigada a pintar um quadro bonito meu. Eu não sou boazinha. Não sou uma chefe amigável. Eu sou forte. Sou inteligente. Sou ocupada. Mas também sou muito, muito justa. E eu me preocupo profundamente com meus funcionários e clientes. Nem todo bilionário, mulher ou não, pode dizer isso. Eu conquistei meu lugar aqui e não vou permitir que ninguém questione minhas realizações.

— Sua empresa certamente revolucionou o tratamento de rugas — Viola diz. Eu detecto uma alfinetada. A implicação era clara: rugas não eram câncer.

Anahí sorri perigosamente, e penso em mandar uma mensagem avisando a Cath que se preparasse para uma partida apressada com uma pá e uma lona.

— Minha empresa doou dezenas de milhões de dólares para programas STEM para meninas, departamentos de ciências de universidades e programas de sustentabilidade ambiental. Nosso novo tratamento de cicatrizes dará a dezenas de milhares de pessoas, incluindo veteranos feridos e sobreviventes de violência doméstica, uma chance de serem vistos por algo que não seja os seus passados.

Miss Independent - Adapt AyA [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora