Capítulo 01

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ROSÉ 

– Roseanne!

O canto dos pássaros e os sons da cidade se preparando para descansar durante a noite estavam me embalando em um estado de sonho. Tudo ao meu redor estava desaparecendo enquanto eu olhava fixamente à distância, esperando para ver algo. Qualquer coisa, na verdade, mesmo que traga pavor ao meu coração. Depois de ouvir meu pai falando com o mensageiro na noite passada, não consigo parar de pensar nisso.

Ela está vindo.

As palavras ecoam em minha cabeça, sem parar.

Como princesa, procuram me proteger muito. Um bufo desagradável me escapa. Segundo meu pai, sou bonita demais para me preocupar com política e guerras. Eu mordo minha língua, não querendo causar problemas, mas eu observo. Eu vejo e ouço tudo o que é dito, seja em voz alta ou sussurrado a portas fechadas.

A Pérsia caiu, e agora aquela mulher selvagem voltou sua atenção para a Babilônia. Ela se autodenomina uma descendente de deuses e afirma ser protegida pelo próprio Deus Sol. Ela não ouviu falar sobre o que se esconde por trás da beleza desta cidade e suas torres de joias?

Eu vi isso chegando. Em meus momentos de esperança, ou estúpidos, eu acreditava que isso aconteceria muito depois de eu me separar desta vida. Quão errada eu estive. Em muitas de minhas orações no templo, tive um vislumbre do que estava por vir. Não claramente o suficiente para falar sobre isso em voz alta, apenas o suficiente para me deixar com medo.

Eu vi um sol forte brilhando na Babilônia, a ponto de me cegar. Nessa visão, nunca me senti mais orgulhosa de sua beleza. Então os leões vieram, vagando ao nosso redor como os animais magníficos que são. Um andando na frente de todos eles, segurando uma bela rosa desabrochando em suas mandíbulas. Quando ponho meus olhos nele, tudo está banhado em uma cor vermelha brilhante.

Levantando a mão para proteger meus olhos para que eu possa ver melhor, eu percebo que não é cor, mas sangue. O cheiro espesso e acobreado me faz engasgar cada vez que isso acontece. Embora seja apenas uma visão, ainda posso sentir o líquido espesso se infiltrando em minha pele.

Em um momento de fraqueza, falei com uma sacerdotisa no templo na primeira vez que a vi. Durante dias, ela disse a qualquer pessoa que quisesse ouvir que invoquei uma maldição neste reino. É angustiante que ela não soubesse que este reino foi amaldiçoado há muito tempo simplesmente por me ter nele.

Eu me pergunto se isso me torna uma pessoa horrível por estar com medo, tanto quanto estou ansiosa para ver aquele exército majestoso marchar em direção à cidade. Minha cidade. Ela vai destruí-la? Ela vai, sem saber, me libertar desta gaiola de ouro onde eles querem me negociar como uma ovelha? Mais como um lobo em pele de cordeiro, mas vendido mesmo assim. Um arrepio percorre minha espinha ao me lembrar de todos os chamados nobres tentando impressionar meu pai querendo minha mão.

Nem mesmo os raios dourados do sol poente que espreitam pelas torres podem aquecer minha pele gelada. Há quanto tempo estou sentada aqui? A beleza dos canteiros de flores e de todas as árvores frutíferas ao meu redor parece sufocante e venenosa. Onde todo mundo vê paisagens imponentes dignas dos deuses, vejo algemas.

Mesmo as estátuas magníficas ao meu redor, esculpidas com tanta reverência e cuidado, parecem que estão prontas para me atacar e me comer viva. Quanto mais eu olho ao meu redor, mais forte meu coração bate no meu peito. Posso sentir o pânico se instalando, mas não tenho forças para impedi-lo. Pressionando ambas as palmas entre meus seios e ofegando por ar, rezo para que ninguém veja essa fraqueza.

– Rosé! Aí está você.

A mão no meu ombro me puxa de volta à realidade e faz minha pele arrepiar. Olhando para minha amiga, eu empurro meu ombro para longe. Ela deveria saber que era melhor não me tocar.

Cursed Queen - Lalisa G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora