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Enid

Benjamin se remexeu um pouco em meu colo conforme a garçonete oferecia o pedido de Wednesday a ela, seus olhos negros expressivos pegavam os mesmos movimentos que os meus, não eram muitos, ela parecia tímida, e não era para menos, eu também estava, era a primeira vez que nos encontrávamos longe do seu consultório, eu não poderia dizer se as suas consultas valiam de algo para minha vida, até porque eu ainda não sabia a diferença entre estar realmente bem, ou apenas ok.

As vezes é tão complicado achar, concluir, um momento leve, é um momento feliz ou apenas é um momento 'Ok'? Sempre quis achar essa diferença, talvez buscasse a resposta naquelas consultas, mas no fundo, eu já sabia que não a encontraria.

- Parece que ele também está com fome - pisquei e voltei para a cafeteria com os pensamentos assim que a sua voz distante me chamou, olhei para Benjamin e o encontrei com a colher que eu usava afim de comer uma torta de maçã, em sua boca, dei uma pequena risada.

- Não, ele não está - conclui - Ele comeu antes de sair de casa, está apenas fazendo charme porque gostou de você.

- Olha só, já é galanteador desde pequeno? - a mulher riu, de uma forma divertida e simples, dei de ombros, curvando meus lábios para um pequeno sorriso de acompanhamento.

- Acho que sim.

A sensação estranhamente desconfortável sempre vinha uma hora ou outra, não só no seu consultório, mas como minha própria casa, no meu próprio quarto, em uma cafeteria, em uma praça, qualquer estabelecimento, qualquer região, poderia me deixar desconfortável em questão de segundos, o som alto, as vozes, muitos pessoas, muita aglomeração.

O sufocamento era mais que real e a minha necessidade apenas de sair correndo sempre, sempre aumentava, me deixando encurralada em pensamentos que eu prometi ao meu eu interior que nunca mais teria. Era tão fácil, parece tão fácil, não é? Apenas dizer a você mesma que nunca mais terá pensamentos ruins, mas eles...apenas surgem.

Apenas surgem em sua mente vazia e escura, tomando forma, cenários, trágicos, tristes, sem vida, acabando com a sua vida. Quando você se da conta, está colocando na ponta do lápis quem sentira a sua falta, prestando atenção que...ninguém se importa de verdade, ninguém sentirá sua falta, ninguém e seu amigo, não ao ponto de sentir algo com sua partida.

Uma semana? Não, um, dois dias, é o máximo de tempo em que alguém sentirá a sua falta, depois disse irão dizer a famosa frase 'Ela não gostaria de nos ver tristes, então vamos continuar'.

Acho que desisti dos meus pensamentos na parte em que comecei a escrever cartas, uau, essa parte é tão escrota de se falar, principalmente quando digo que não há sentimentos, quando eu digo que não tenho sentimentos, eu tenho...eu tenho tantos que alguns eu mau sei o que são, mas não são bons, não gosto de senti-los e de tê-los em mim.

Escrever apenas um 'para a minha irmã; Isabel Sinclair' fez o meu coração arder, ardeu tanto que só parou quando eu larguei o lápis e me afastei daquilo, me afastei de todos os pensamentos. Pensar é algo que eu evito, mas o pensamento nunca me evitou.

Eu esqueço os pensamentos, mas os pensamentos nunca esquecem de mim.

- Se sente desconfortável com minha presença aqui? - Wednesday perguntou após alguns minutos de silêncio, aonde os meus olhos focaram no prato branco a minha frente, levantei minha cabeça e neguei, sem tanta certeza para falar a verdade.

The Psychologist - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora