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Wednesday

- Divina está em casa?

- Não-

- Maia?

- Também não-

- Ótimo - respondi afobadamente, me sentando sobre o seu sofá, vendo Yoko com a feição um pouco franzida conforme fechava a porta, me olhando com um pouco de preocupação e desconfiança.

- Ok, o que aconteceu para que esteja tão afobada assim?

- Você tem que me prometer que esse assunto não irá sair daqui, Yoko, é algo muito sério.

- Tudo bem, eu prometo. Sou sua melhor amiga, e o que eu mais fiz na nossa adolescência foi guardar os seus segredos.

- Tudo bem... - eu respirei fundo, não sabendo quantas vezes no caso, o ar ia e vinha rapidamente, quase não fazendo o efeito necessário para a pega de oxigênio sobre os meus pulmões, me deixando ainda mais nervosa - Você se lembra da Enid certo? Minha paciente pós traumática.

- Sim, eu me lembre dela, e lembro também que você não queria pegar o caso.

- Eu acho... não, eu não acho, eu tenho certeza, que ela foi abusada sexualmente pelo o pai dela - soltei, de uma vez, sendo a confissão mais dolorosa que eu pudera fazer naquele segundo. Yoko arregalou um pouco os olhos, se remexendo sobre o sofá, claramente desconfortável.

- Ela... te contou isso? - eu neguei.

- Eu descobri, sozinha.

- Mas... como? Como você descobriu sozinha? - mordi um pouco a minha língua, desviando os meus olhos dos seus, mesmo sabendo que teria que contar, ainda tensa sobre os acontecimentos tão repentinos é tão pesados.

- Eu e ela... estamos nos relacionando.

- Wednesday... você sabe que isso é errado, é contra as regras - Yoko alertou, com um tom de voz piedoso, como se sentisse dó de mim, e eu a entendia, as vezes até eu me pegava pensando sobre isso, mas fazia questão de afastar, afim de não arruinar a pouca felicidade que eu tinha na minha vida.

- Eu sei, eu sei que é errado, mas... eu não sei quando aconteceu, quando percebi eu só... é tarde demais, Yoko, eu estou apaixonada por ela, e não posso caminhar pra trás depois de tanto lutar contra os meus próprios fantasmas. A questão não é essa, e sim, ela. Ontem, fui passar a noite na sua casa, e lá, tem um porão, repleto de coisas-

- E como a boa curiosa que você é, foi até lá, estou certa?

- Minha intuição mandou eu ir lá, e ainda bem que eu fui. Olha, olha as coisas que eu achei - chamei ela para que se sentasse ao meu lado, e quando o fez, fui passando foto por foto sobre a tela do meu celular - Enid tem um sobrinho de sete meses, Benjamin, filho da irmã dela, Isabel, irmã essa na qual já me odeia pelo o fato que eu estou ajudando a cuidar de Enid.

- Quantas coisas infantis... são gêmeos?

- Não! Não são! Enid só tem um sobrinho, o qual eu acho que é filho dela - Yoko rapidamente me olhou, com a testa franzida, ainda não entendendo a minha linha de raciocínio - Vamos com calma. Nesse porão, eu encontrei muitas coisas de bebê, assim como você viu nas fotos, mas todas essas coisas, um enxoval inteiro, são indiretamente direcionados a uma menina, não tem como Isabel ter comprado tantas coisas como essa antes de descobrir o sexo do bebê, e se fosse comprar as cegas, teria comprado coisas em tons neutros e não intencionalmente direcionado. Em uma dessas caixas, tem uma em específico com o nome Alice, e há várias, várias roupas de bebê dentro dessa caixa, Yoko, e nenhum parece ter sido usada.

The Psychologist - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora