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Wednesday

Os meus olhos não saiam do teto pensando e repensando sobre cada palavra, cada atitude, cada centímetro errado no qual eu movi com Enid naquela tarde. Me odiando, odiando cada frase que saiu da minha boca, a minha mania ridícula de apenas querer abrir os seus olhos para algo em sua frente, não era assim que funcionava, eu melhor do que ninguém sabia que não era assim que funcionava. Eu não poderia apenas jogar na cara de Enid que a sua irmã era uma tirana, louca, esquizofrenia, é claro, era mais que óbvio que Enid ficaria ao lado de Isabel.

Ela era a sua irmã, a sua única imagem de segurança, e me doía, tanto, não me sentir o suficiente para livra-la daquela mulher.

Eu era a sua psicóloga, meu trabalho era acalma-la, ir sobre um passo de cada vez, mas eu fui de uma vez, apenas soltei algumas frustração, sendo que eu deveria engoli-las, ali, naquela situação, quem precisava soltar as frustrações era ela, e não eu. Só estava ali para ajuda-la, nada mais que isso, eu tinha que ser a sua proteger maior, maior que Isabel, ela tinha que confiar mais em mim no que em sua irmã.

Então eu me odiei ainda mais por pensar daquela forma, uma forma egocêntrica e egoísta. Como um traço tóxico. Que inferno, o que tinha de errado comigo?! Eu só deveria... eu só deveria proteger a minha namorada, apenas isso, só isso...

Pensei em não ligar, um tempo, respeitando a sua privacidade, mas eu só não conseguia, eu me sentia agoniada, presa, nervosa, ansiosa, eu tinha que ligar, eu tinha que ouvir a sua voz, e principalmente, eu tinha que pedir desculpas por tudo o que eu disse não intencionalmente. Eu faria aquilo direito, eu faria todo aquele caso direito. O caminho estava ali, na minha frente, eu só tinha que segui-lo, não era difícil. Não é difícil, apenas faça, Wednesday, faça o correto, proteja ela.

Esperei, primeiro toque, meus dedos bateram sobre a minha perna, segundo toque, meus olhos tentaram focar em algum lugar, terceiro toque, mordi os meus lábios, quarto toque, o suspiro pesado saiu das minhas narinas. "Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens". Meus olhos se fecharam e eu senti vontade de chorar. Tudo bem, era normal, brigas entre casais são normais, eu não deveria me preocupar com aquilo, eu deveria me preocupar com a sua irmã e com a droga da minha intuição que me mandava ir atrás de Enid, mesmo que ela estivesse no inferno, qualquer coisa, qualquer coisa que a tirasse de perto de Isabel Sinclair.

- Estou indo na sua casa agora, espero que esteja por aí - falei, sobre a caixa de mensagem, me levantando, acariciando rapidamente a cabeça de Nero, saindo logo após pegar a chave do carro.

Dirigia aflita, a quem eu queria enganar? Eu não tinha ninguém para enganar, queria respeitar o seu tempo, um tempo para que nós duas respirássemos, mas eu não podia, em circunstâncias quase que plausíveis, a dias que a minha cabeça não dava um trégua sobre os meus pensamentos, o tempo todo.

Salve Enid, salve Enid, salve Enid.

Mau percebendo que não estava conseguindo me salvar nesse processo. Mesmo sabendo que eu não era tão importante, eu não era o foco, eu poderia me virar depois.

Estacionei na frente de sua casa, engoli todas as palavras mau intencionadas, engoli o choro, apenas sendo a Wednesday em que Enid deveria se apoiar, eu tinha que ser forte, eu tinha que aguentar mais coisas por nós duas, e sua irmã, era a maior e a mais problemática. Bati na porta três vezes, demorou até que Isabel abrisse, com Benjamin em seus braços, a cena me enjoou um pouco, mas não fiz careta sobre, diferente dela, que me olhou como se eu fosse uma pedra em seu sapato, e eu era.

Violando qualquer diretriz, com cuidado por conta do pequeno menino que não tinha culpa de ter nascido em uma família cheia de problemas, eu a empurrei para o lado, indo em direção as escadas, tendo o meu foco, minha namorada, e o seu bem estar.

The Psychologist - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora