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Meus olhos não focaram na TV, de forma alguma, apenas observando Enid sobre meus braços, deitada em meu tronco, minhas mãos brincavam com as suas, entrelaçando os nossos dedos, acariciando o seu braço, me abaixando as vezes para beijar o topo da sua cabeça, sentindo o cheiro do seu shampoo, me aninhando ali as vezes, sorrindo pra mim mesma quando ela apertava os seus dedos sobre os meus, me dando uma sensação de correspondência, mesmo que de uma forma pequena e tímida, eu gostava, contanto que fosse do jeito dela.

A observei assim que inclinou a sua cabeça para cima, me encarando, confesso que me senti nervosa é extremamente sem jeito quando os nossos olhos se conectaram, mas isso passou quando vi a suavidade que ela passava, me dando a entender que estava tudo bem em seus pensamentos, eu esperava que estivesse. Pensei em algumas coisas, pra dizer, quebrar o silêncio, mas não achei, não achei palavras e muito menos necessidade em quebra-lo.

- Você não está assistindo o filme - ela falou, me fazendo rir - Isso não vale.

- Gosto de assistir você - Enid reprimiu os lábios, soltando um sorriso junto a uma risada nasalada, fugindo dos meus olhos no mesmo segundo, eu a abracei mais forte com as minhas pernas, entrelaçando as nossas mãos novamente - Você com vergonha é adorável.

- Só você acha isso.

- Não é mais que o necessário? - questionando, me inclinando para observa-la, a luz azulada da TV me mostrou como as suas bochechas estavam vermelhas, e como havia um pequeno sorriso sobre os seus lábios, querendo esconde-los.

- Sim, é - respondeu, de uma forma baixa, querendo se esconder de novo, mas eu não deixei, achando realmente fofo e engraçado - Você é boba - murmurou, rindo quando eu coloquei meu rosto contra a curvatura do seu pescoço, tentando se esquivar, provavelmente pela as cócegas.

- Sim, talvez eu seja - disse, da mesma forma que ela havia respondido pra mim uma vez - Como está em relação ao seu trabalho?

- Ansiosa - admitiu, com os olhos presos em minhas mãos - É com atendimento ao público então... você sabe...

- Uhum, eu sei... - suspirei - Pense pelo o lado positivo, isso vai te dar muitas experiências novas, e com isso, poderá fazer amizades novas, isso não é bom?

- É... parece ser bom...

- Tem algum motivo pelo o qual desse seu desânimo?

- Pensei que as nossas consultas fossem apenas as quartas.

- Não interprete isso com uma consulta, e sim, como uma conversa, o que acha? Acha que eu estou me dirigindo a você como sua psicóloga?

- Um pouco, pelo menos a forma formal que sempre me traz as questões.

- Tudo bem... vejamos... - eu pensei um pouco, não sabendo bem como elaborar uma outra pergunta, de uma forma diferente - Bom, talvez as minhas questões possam parecer formais a você agora, mas são perguntas apenas para mostrar que eu me preocupo com você.

- Toda psicóloga se preocupa com o seu paciente.

- Mas você é diferente, Nid - murmurei, desferindo beijos preguiçosos pela a sua pele, de uma forma molhada e presentes - Você sabe que é diferente - adicionei, caso ela não tivesse a certeza da minha fala, mas ela teve, pois a ouvir suspirar e relaxar um pouco mais, me dando mais do seu peso sobre o meu corpo.

- Sinto que... estou fazendo isso pra provar algo... algo que eu não quero.

- Pra quem?

- Isa... eu gasto tanto em sua casa, com comida, água, energia, ela pega tudo sozinha, e eu apenas... fico ali parecendo ima criança indefesa, acho que até o Benjamin faz coisas mais úteis que eu.

- Ela te cobra por tais gastos?

- Não é necessário ela cobrar... é apenas... incomodo. Muitas coisas são incômodos...

Pensei em perguntar, um pouco mais a fundo, mas eu não o fiz, apenas tocando a sua cicatriz, dedilhando com as pontas dos meus dedos, ela era um pouco grande, indo da sua mandíbula até a sua bochecha, era algo aparente. Óbvio que senti vontade de perguntar a ela o que era aquilo, mas isso séria ultrapassar os seus limites, eu sabia que ultrapassaria, apenas pelo o jeito que os seus olhos falaram com os meus, para não perguntar sobre aquilo. Por mais grande o passo que havíamos dado, ainda estávamos na ponta do iceberg, eu tinha muito o que entender e descobrir, e aos poucos, sentia medo do que poderia descobrir em relação a tela.

- Podemos... aprofundar nesse assunto agora, ou podemos deixar isso para a sua consulta, o que quer fazer? - Enid me pareceu pensativa, eu sabia pois a sua feição sempre era a mesma quando algo a pegava completamente de surpresa em seu consciente, séria e focada os olhos em um único ponto.

- Podemos deixar isso para a consulta - respondeu.

- Tudo bem, assim será.

Concordei pacientemente com ela, a olhando quando ela se sentou e se virou de frente para mim, os olhos pegaram os meus, sem problema, e eu os sustentei, sem abandonar o sorriso em meus lábios.

- Acho que está tarde - ela comentou, no mesmo segundo eu me sentei, em busca de deixa-la ali, um pouco mais.

- Sim, está - comecei, a olhando sugestiva - Por isso... acho melhor você dormir aqui essa noite.

- Você... quer que eu durma aqui?

- Não quero nada do que você não queira - falei, tentando desvendar o que se passava em sua mente, mas sendo um pouco difícil, os seus olhos sempre eram extremamente escuros e sem transparência alguma.

- Nunca dormi na casa de alguém - ela confessou, um pouco envergonhada.

- Sempre terá a primeira vez para tudo, essa é a sua oportunidade.

- Mas... e o meu trabalho?

- Eu posso te deixar lá antes de ir para o meu consultório.

- E se não for caminho? Não quero que perca o seu tempo-

- Qualquer minuto ao seu lado, não é uma perda de tempo e sim, um segundo vitalício ganho.

Soltei, de uma forma surpresa até comigo mesma. Eu... nunca havia feito ou falado coisa parecida, mas o jeito natural que... apenas saiu da minha boca, me fez entender que ela tinha um certo poder com os meus pensamentos, com a minha vontade, controlando quase que cem por cento do meu coração, sem ao menos perceber, sem ao menos eu perceber.

Enid tentava esconder o seu sorriso, e isso foi sucedido quando eu a puxei para cima de mim, deixando que ela escondesse o seu rosto na curva do meu pescoço, dando risada quando eu a abracei como um filhote abraçando a sua mãe, me pendurando com os braços em seu pescoço e as pernas ao redor da sua cintura, indicando que ela não iria a lugar nenhum a partir daquele momento.

Mas que o meu descobrimento sobre o que havia acontecido em sua vida, iria a vários lugares nos quais, eu claramente não estava preparada.

The Psychologist - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora